O viver é um acontecimento político. A política está presente no cotidiano de toda família, começando pela sua constituição e se alargando em todas as relações sociais e econômicas. Aristóteles, na sua obra Política, na velha Grécia, afirmava: A política é a ciência da felicidade humana. Séculos depois, S.Tomás de Aquino ratificava: A política é a arte de formar homens e administrar visando o bem comum. O filósofo Platão, que foi professor de Aristóteles, destacava: Não há nada de errado com quem não gosta de política. Simplesmente serão governados por aqueles que gostam. Os três notáveis pensadores deixam implícito que é preciso separar a política que visa o bem comum dos politiqueiros e da politicagem.
Na travessia humana, no mundo temporal, a política afeta a vida de todos. Somente a participação consciente da sociedade é que se pode exigir políticas públicas que se fundamentem na construção de realidade mais justa e com oportunidades iguais para todos. Os homens e mulheres que fogem da política e do supremo ato de lutar pelo interesse comum, garantem a sobrevivência e vida longeva para os dilapidadores do interesse público. Legendas partidárias no Brasil, na sua quase totalidade, representam a antipolítica. Estima-se que 90% dos eleitores não se sentem representados por nenhum partido.
No apogeu da Revolução Francesa, em 1793, Robespierre à frente do governo definiu o que deve ser a ética pública: As funções públicas não podem sem consideradas como sinais de superioridade, nem como recompensa, mas como deveres públicos. Os delitos dos mandatários do povo devem ser severa e agilmente punidos. Dois séculos depois, o seu pensamento seria incorporado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. No Brasil contemporâneo estamos vivendo um ciclo devastador de rapinagem nacional com a corrupção sistêmica dominando vastos setores do Estado nacional. O poder político sendo capturado e dilapidando as instituições republicanas. Homens públicos no executivo e no legislativo transformados em obedientes serviçais do poder econômico.
A aliança de corruptores, empresários poderosos e corruptos, investidos de mandatos nos poderes executivo e legislativo, tem levado muitos brasileiros a julgar que a política é geradora da corrupção. Na verdade nada é mais falso quando se tenta nivelar a política como sinônimo de assalto ao dinheiro público. A canalhice política militante é dotada de uma cultura de vassalagem e abomina princípios e fundamentos éticos e morais. São fiéis seguidores da frase ouvida no interior de Minas Gerais, pelo médico e escritor Pedro Nava: Haveremos de resguardar a canalhice necessária para aderir no tempo oportuno. Os malandros identificados da política que fazem da inserção na vida pública o trampolim perfeito para incorporar patrimônio com a adesão no tempo oportuno à canalhice do roubo do dinheiro público.
Nesse cenário quase desesperador, onde os oportunistas e aventureiros invadem a vida política, maculam e desmoralizam a representação popular, torna-se oportuno repetir a advertência: política não é sinônimo de corrupção. Existem e são muitos os políticos decentes e que fazem da ética pública a essência das suas presenças na vida política. É preciso separar o joio do trigo. Nesse tempo de engodo não se pode prescindir dos homens públicos que cultivam a ética e não se submetem ao jogo da corrupção. Os brasileiros deveriam ser mais exigentes e seletivos na escolha dos seus representantes, ao invés de alimentar demagogos e falsos salvadores da Pátria como alternativa de poder.
Na política aristotélica o dever de dizer a verdade, em quaisquer circunstâncias é inegociável. Infelizmente a maioria prefere o bom mocismo do riso fácil dos candidatos garantindo voto ao embusteiro não sabendo que o preço da escolha equivocada será cobrado no futuro, como estamos assistindo agora com a detonação de uma crise política, econômica e social inédita na vida republicana. Quando governava o Estado da Guanabara, Carlos Lacerda dizia: Devemos dizer ao povo o que ele precisa saber e não o que gostaria de ouvir. Não confie em homens públicos que só sabem dar boas notícias.
Nesse tempo de pós-verdade, em que a mistificação vem tomando o lugar da verdade, é preciso alertar que fora da Política (com P maiúsculo) não existe alternativa democrática. Fora dela só há outro caminho desde tempos imemoriais: a violência revolucionária ou o Estado ditatorial.

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira