SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em dia de turbulência política, as poucas associações empresariais que decidiram se posicionar clamaram pelo andamento de reformas no Congresso e pela investigação das recentes denúncias de corrupção.
Em uma parte das notas divulgadas pelas entidades, não há referência direta ao presidente Michel Temer (PMDB) e nem ao senador afastado Aécio Neves (PSDB). Ambos foram gravados em conversas com Joesley Batista, e o conteúdo dos áudios faz parte do acordo de delação premiada dos donos da JBS.
O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti, pediu que “as denúncias sejam investigadas e que todos os culpados sejam punidos, dentro dos preceitos da Constituição. Quem não pode ser punido com a incerteza e com a paralisação das reformas é o País”.
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) disse que “independente do momento atual vivido no Brasil, o poder legislativo precisa dar continuidade à agenda de reformas”. Entre as alterações defendidas estão as reformas previdenciária, trabalhista, tributária e a aprovação da medida provisória que reabre o Refis.
José Carlos Martins, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria de Construção), acredita que as reformas da Previdência e a trabalhista já estão avançadas o suficiente para não dependerem do que vai acontecer com o presidente Michel Temer, e precisam ser tocadas adiante.
“Nós brasileiros devemos cobrar do Legislativo para que ele continue trabalhando e resolvendo as coisas do país. Se olharmos as reformas, neste instante, independe do Executivo.”
Martins compara o momento atual, em que Temer balança no cargo, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mas avalia que a situação é ainda mais delicada para a economia e uma nova onda pode atingir os empregos.
“Lá atrás, quando teve o da Dilma, o país estava em dificuldade, mas não estava como agora. O risco que se tem agora é que a corda está esticadíssima. Pode estourar. É por isso que o Congresso tem que ser chamado a sua responsabilidade”, afirma o presidente da Cbic.
Além das reformas da Previdência e trabalhista, o setor da construção defende a regulamentação dos distratos de compras de imóveis.
Em nota, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) também exaltou a importância das medidas, pedindo “determinação” e “serenidade” para evitar o retrocesso da política econômica.
“Será injusto e revoltante que a crise política retraia ainda mais a volta dos investimentos necessários à geração massiva de empregos proporcionada por este e outros segmentos da atividade econômica”, afirmou o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, no documento.
A Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) defende uma solução rápida para o impasse político gerado pelas novas denúncias contra o presidente Michel Temer para que o setor não volte a sofrer com a deterioração da confiança entre os consumidores e investidores.
“Se essa situação for encaminhada de forma célere, seja com a renúncia de Temer ou sua cassação via TSE (Tribunal Superior Eleitoral), as instituições se fortalecem, a confiança do consumidor e empresariado não se perde e nosso setor passa tangente por essa crise”, disse Glauco Humai, presidente da Abrasce.
O setor elétrico manifestou preocupação com o impacto do novo escândalo nos investimentos em energia. O setor batalhava por uma reforma do marco regulatório do setor, que agora pode ficar em suspenso.
“Isso traz uma instabilidade, claro, apesar dos primeiros sinais do Planalto serem de que tudo continua normal. Temos que aguardar. Continuamos querendo mudar o setor elétrico, mas o governo é que vai ter que direcionar, dizer se esperamos um pouco, ou se esquece”, disse o presidente do Fórum de Associações do Setor Elétrico, Mário Menel, que representa os investidores do segmento.
Apesar dessas manifestações, os políticos já indicaram que temas impopulares serão adiados. O relator da reforma trabalhista adiou a apresentação do texto, que estava prevista para a próxima terça-feira (23).