A ocasião faz o empreendedor. Ou pelo menos tem sido assim no Paraná, onde a crise econômica tem impulsionado um número crescente de pessoas a empreenderem no setor de gastronomia. Segundo dados da Junta Comercial do Paraná (Jucepar), entre janeiro de 2014 e julho de 2017 o número de restaurantes, pizzarias, lanchonetes, bares e fast-foods, entre outros, registrou um crescimento de 37,4% no Estado. Três anos e meio atrás eram 7.852 empresas ativas em todo o Paraná. No primeiro semestre deste ano, o número chegou a 10.790.

Fabio Aguayo, presidente do Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares em Curitiba (Sindiabrabar), cita a alta no desemprego — que já afeta 13,7% dos brasileiros — como um dos principais fatores para o aumento no número de empresas no segmento.

O principal fator é que, quando alguém é demitido ou entra nesses programas de demissão voluntária, uma das maiores probabilidades de investimento é no nosso setor, até porque a população corta um pouco os gastos, mas ninguém deixa de sair para comer. Então, mesmo com a crise no Brasil, ainda há procura, afirma Aguayo. A mão de obra também é fácil de treinar e já botar em prática, até porque é uma das categorias que mais sofre com a crise, mas também uma das que possui maior capacidade de adaptação.

Mudança — Quando fala em capacidade de se adaptar, o mercado se refere até mesmo à mudança de cardápio e tipo de produto oferecido. Muitos que antes ofereciam refeições, acabam optando por produtos mais em conta ou práticos, como lanches ou pizzas. Em Curitiba, por exemplo, o número de pizzarias mais que dobrou em oito anos, passando de 253 para 531, segundo dados da Prefeitura.

Outro nicho que vem ganhando adeptos é o de hamburguerias e os bares de cerveja artesanal. Apesar de serem muito específicos, já fazem frente aos estabelecimentos mais tradicionais.

Crescimento na área chega a ser uma surpresa

De acordo com Ardisson Naim Akel, presidente da Jucepar, o crescimento do número de empresas no setor surpreende. Prova disso é que somente no primeiro semestre deste ano foram constituídas 1.098 empresas. Isso é atípico, porque no ano passado inteiro foram 1.325 novas empresas. Então a perspectiva é de talvez duas mil novas empresas até o fim do ano, aponta.

Ainda segundo Akel, além da crise econômica e da alta no desemprego, outros fatores ajudam a explicar o crescimento do mercado gastronômico no Paraná. O principal deles seria a maior procura das pessoas por refeições fora de casa. Outro, o aumento no número de empresas de menor porte.

Antes, comer fora de casa era ir em restaurante, cozinha com 12 pessoas, equipe de garçons. Hoje é muito bar, pub, sem falar nos food trucks e conteineres. Então a comida rápida, as hamburguerias da vida, esfihas, quibes, empadas e coxinhas estão por aí em toda parte e isso combina com o fato de estar num processo recessivo há muitos anos, diz o presidente da Jucepar, destacando ainda a redução no número de extinções — foram 240 até julho deste ano, enquanto durante todo o ano de 2016 haviam sido 529. Estamos até um pouco aquém da média do ano passado, o que significa um saldo positivo bem importante.

Mais em conta — Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel) no Paraná, o crescimento do setor teria uma relação íntima com o momento de crise que o país enfrenta. Como exemplo, Luciano Bartolomeu, diretor-executivo da associação, aponta que a maioria dos segmentos gastronômicos registraram retração nos anos de 2015 e 2016, enquanto as comidas de rua, as pizzarias e os serviços de delivery estiveram em alta. Neste aspecto conta o tiquete médio cobrado pelo prato, mais em conta que ir a um restaurante, por exemplo.

Coxinha Lovers: um caso de sucesso

Em Curitiba, um exemplo de sucesso é a empresa Coxinha Lovers, criada há seis meses pelo casal Diego Coradin e Julie Baggio. Para empreender, eles primeiro pesquisaram muito para saber qual produto ofereceriam. Eu não sabia cozinhar, ele também não, então começamos a pesquisar uma paixão nacional, e chegamos na coxinha, conta a empresária.

Na sequência, ela abandonou seu emprego (era designer) e, três meses depois, foi a vez dele, que era engenheiro de produção, fazer o mesmo. O negócio acabou dando tão certo que em meio ano eles já venderam mais de 20 mil copos de coxinha, abriram uma segunda loja e já pretendem abrir um terceiro estabelecimento, em um shopping de Curitiba.

Começamos meio sem pretensão, só queríamos fazer um bom trabalho, oferecer um bom atendimento e um produto de qualidade. Mas nesses seis meses conseguimos cativar muitos clientes e estamos numa crescente, conta Julie, dando a dica ainda para aqueles que quiserem seguir seu exemplo.

Primeira coisa é buscar informação positiva, de lugares positivos. Assistimos muitos programas em que eles falam muito sobre fazer o negócio dar certo. Também é essencial ler livros, colunas, conhecer pessoas que tem um negócio. Conversamos com muita gente antes de abrir o nosso, comenta a empresária.