EWERTHON TOBACE
TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – O tema da imigração, em voga em eleições recentes na Europa e nos EUA, é totalmente periférico no pleito japonês.
A ausência causa certa surpresa, já que a liberação da entrada de mão de obra estrangeira é um dos pilares da política imigratória do partido governista, o Liberal Democrata (PLD), de Shinzo Abe.
A ideia dele é facilitar o ingresso de não japoneses para contrabalançar o baixo índice de natalidade e o envelhecimento rápido da população japonesa.
Para Angelo Ishi, sociólogo e professor da Universidade Musashi, os brasileiros com ascendência japonesa sempre contarão com uma atenção especial do governo.
“Mas esse grau de favorecimento vem diminuindo, na comparação com outros estrangeiros”, alerta. “Agora, para liberar o visto para a quarta geração [de descendentes de japoneses], é quase certo que se exija o domínio da língua, por exemplo.”
Cerca de 2.471.458 de estrangeiros vivem hoje no arquipélago, segundo dados de 2017 do Ministério da Justiça. As cinco maiores comunidades são a chinesa, a coreana, a filipina, a vietnamita e a brasileira. Mas o Japão quer e precisa de muito mais.
Com a realização da Olimpíada de 2020 em Tóquio, o país deu início a uma intensa campanha de “sedução” voltada a plateias internacionais. “Mas está mais do que evidente que os ‘estrangeiros’ para os quais o Japão quer dar as boas-vindas são os turistas”, ironiza Ishi.
Ele ressalta, no entanto, que o evento esportivo pode ser, sim, uma rara oportunidade para as colônias de radicados em solo japonês. “Depende menos da boa vontade do governo, que não é muita, e mais da disposição e criatividade das próprias minorias em sugerir investimentos e melhorias para turbinar essa hospitalidade aos turistas de um jeito que ela se transforme em legado duradouro para os estrangeiros que residem aqui.”
O empresário Norberto Shinji Mogi, 52, concorda com o sociólogo, mas lembra que o Japão é um país muito burocrático e com processos morosos. “Mesmo assim, dá oportunidades para quem é de fora”, defende ele, que tem dupla nacionalidade e pretende participar das eleições no domingo (22). “Shinzo Abe já foi ao Brasil e tem consciência da importância dos estrangeiros para o Japão.”
Mogi é também presidente do Serviço de Assistência aos Brasileiros no Japão e acompanha de perto as dificuldades e os problemas enfrentados por eles naquele país.