Liderança exige coragem, determinação, ética, responsabilidade social e transparência no exercício da administração pública. Em 2018, os brasileiros terão a oportunidade de eleger presidente, governadores, senadores e deputados. As instituições democráticas estarão sendo julgadas pelo voto popular. Nesse tempo de deserto de ideias, o debate se concentra em nomes e personalidades. Os grandes desafios que empobreceram o Brasil, nas últimas décadas, em relação ao desenvolvimento econômico mundial, estão ausentes no debate público. Apontar caminhos para o futuro é ignorado. O que emerge é o debate caricato de soluções simplistas, dizendo à sociedade o que ela deseja ouvir. Fortalecendo o nefasto populismo, nos diferentes segmentos ideológicos.
Realidade muito bem traduzida pelos economistas Renato Fragelli e Pedro Ferreira, professores da FGV (Fundação Getúlio Vargas), no artigo 2018, estelionato eleitoral ou verdade? (Valor, 25-10-2017): O resultado é que a maioria da população – e seus representantes – ainda não se convenceu da gravidade de uma tendência que tende a piorar nos próximos anos. Se o mesmo roteiro for repetido na próxima eleição, corre-se o risco de um candidato populista – de esquerda ou de direita – ser eleito, o que trará mais quatro anos de crise econômica.
Ao cenário populista, os professores Fragelli e Ferreira apontam o caminho da verdade: O ano de 2018 será um divisor de águas para o país. Caso seja eleito um presidente responsável e com diagnóstico correto, poderão ser implantadas reformas estruturais – previdência, fiscal e tributária, para citar as principais – iniciando-se um longo período de recuperação do tempo perdido. Tempo perdido tanto em termos de crescimento como de implantação de politicas sociais mais agressivas de que o país tanto necessita. Mas a eleição de um populista não está descartada.
O que estará na disputa eleitoral é o bem estar geral da sociedade brasileira. A chamada maioria silenciosa não pode ser contemplativa nos desafios do futuro. Liderança séria (ao invés de salvadores da pátria), dotada de coragem e firmeza para formular programa de governo onde as questões nacionais sejam debatidas. Diferentemente de 2014, quando os dois principais candidatos, Dilma Rousseff e Aécio Neves, por estratégia oportunista e eleitoralista, ignoraram a crise fiscal do Estado que já era monstruosa. O candidato do PSDB foi conivente, recusando-se a denunciar a situação falimentar da economia brasileira que jogaria o Brasil na maior recessão da sua história.
A coragem deve ser a primeira virtude do homem público. O saudoso Ulysses Guimarães, no texto O Decálogo do estadista, afirmava: o pusilânime nunca será estadista. Há momentos em que o homem público (e a mulher) tem que decidir, mesmo com risco de sua vida, liberdade, impopularidade ou exílio. Sem coragem não o fará. César não foi ao Rubicão para pescar. O medo tem cheiro. O cavalo e os cachorros sentem-no, por isso derrubam ou mordem os medrosos. Mesmo longe, chega ao povo o cheiro corajoso dos seus líderes. A liderança é um risco, quem não o assume não merece esse nome.
É liderança de estadista que o Brasil está precisando nesse terrível momento da sua formação histórica. Perfil sintetizado no texto de Ulysses Guimarães, onde o legado político, ético e moral de um governante se alicerça em ser determinado e corajoso no enfrentamento da realidade. Em uma democracia o interesse público é inegociável.
A eleição de 2018 é oportunidade de se recolocar o Brasil no rumo do desenvolvimento, não aceitando políticos anódinos e oportunistas. Precisamos é ter certeza do futuro, mas isso só ocorrerá se houver ampla mobilização nacional, sob pena de, invertendo a equação, termos saudades do futuro.

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)