CAROLINA LINHARES
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Rodeado por políticos, o prefeito inaugura o hospital no aniversário da cidade. A cena de dois anos atrás se repetiu nesta quinta-feira (14) em Belo Horizonte, durante a segunda entrega do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, o hospital do Barreiro, região periférica da capital.
A construção moderna, com 13 andares e um heliponto, serviu de vitrine tanto para o ex-prefeito Márcio Lacerda (PSB) como para o atual, Alexandre Kalil (PHS).
Linhas de ônibus terão o trajeto modificado para atender o hospital num bairro que mistura casas bem-acabadas com vielas de moradias de reboco aparente, onde quando em vez se ouve uma galinha e passa uma carroça.
Após a primeira inauguração, em 2015, o hospital do Barreiro passou a funcionar com 10% da capacidade. A gestão Lacerda afirma que faltaram repasses dos governos estadual e federal.
Agora serão 460 leitos (80 de CTI) e uma média mensal de 3.400 consultas, 1.000 cirurgias, 1.000 internações e 20.000 exames.
Prometido desde 2012, o hospital, no entanto, não conseguiu agradar aos moradores que esperavam um pronto-socorro de ponta.
Feito por parceria público-privada entre a Prefeitura de BH e a Concessionária Novo Metropolitano, o hospital é dedicado totalmente à rede pública, mas só atende pacientes encaminhados de outras unidades de saúde para exames, internação e cirurgia. Apenas casos de AVC entram direto.
“Se não tiver pronto-socorro é pura demagogia, propaganda enganosa”, diz José Márcio, presidente de uma associação comunitária. “A ansiedade dos moradores é por um hospital próximo em caso de mal súbito e acidente.”
A utilização do hospital, porém, obedece critérios de necessidade clínica e não de localização. Morando na mesma rua, a 260 metros de distância, Maria das Graças Santos, 73, não foi atendida quando caiu na calçada e quebrou o braço em agosto.
Teve que ir até a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), a 2,8 km, onde esperou quase o dia todo sentada até ser transferida a outro hospital. Lá fez cirurgia e ficou internada cinco dias. Até hoje faz fisioterapia.
Maria do Carmo, diretora-executiva do hospital do Barreiro, diz que o modelo de portas fechadas garante melhor aproveitamento e redução de filas. O tempo de espera por internações nas UPAs caiu 35,6%.
“É legítimo que a população queira um hospital potente perto dela, mas o efeito invisível para a população é otimizar a ocupação com casos graves”, afirma.
“Muitas vezes vai para a porta da urgência um caso menos grave. Aqui se concentram casos bem complexos porque já foram triados”, completa.
GIGANTE
Mais antigo que a própria capital, que completou 120 anos nesta semana, o Barreiro estaria, se fosse um município, entre as dez maiores cidades de Minas, com mais de 300 mil habitantes e 54 bairros. No sudoeste de BH, a região tem uma UPA e dois hospitais.
“Mais um pronto-socorro é um sonho, mas viraria um corredor de macas e, no caos, não cumpriria o papel de acelerar cirurgias e exames”, diz Reginaldo Silva, presidente do conselho social do hospital.
Se a magnitude do hospital não foi pensada para atender o tamanho do Barreiro, serve ao desafio de desafogar toda a região metropolitana.
São 2.000 funcionários, móveis impecáveis e tecnologia: energia solar, prontuários eletrônicos e medicamentos que viajam por uma espécie de elevador automático.
Toda a estrutura representa um custo mensal de R$ 21,8 milhões, a serem divididos por governo federal (50%), governo estadual (25%) e prefeitura (25%).
A dias da inauguração, o Estado passou a prever repasse de R$ 5,3 milhões ao mês. “Só agora no finalzinho conseguimos publicar a resolução, que é difícil, estamos numa situação financeira apertada”, discursou o governador Fernando Pimentel (PT).
O governo federal, por sua vez, liberou R$ 3,2 milhões de verbas mensais a partir de dezembro, mas prometeu alcançar os 50%.
Seguindo a repetição de 2015, na inauguração desta quinta pairou a dúvida sobre a manutenção do hospital e a viabilidade desses repasses. “Está tudo acertado”, disse o prefeito Kalil, comemorando a entrega da sua “maior promessa de campanha”.
A prefeitura bancou 85% do custo em novembro para garantir a “reinauguração”, mas não vai conseguir manter esse ritmo. “Se não tiver essa parceria no orçamento, corre o risco de essa estrutura fabulosa operar de forma capenga”, alerta o conselheiro.