ÉRICA FRAGA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um ano em que será palco de pesado calendário eleitoral, a América Latina deve se preocupar com diversos desafios que ron- dam a democracia, como o populismo, a exclusão social e a falta de confiança nas instituições.
Esse tema dominou o debate que encerrou nesta quinta-feira (15) o Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em São Paulo.
“Há uma percepção de que as coisas pioraram e esse contexto faz com que as pessoas estejam dispostas a votar pelo desconhecido, inclusive em alguns candidatos com estratégias assustadoras”, disse Alejandro Ramírez, presidente-executivo da Cinépolis, operadora de cinemas mexicana.
Segundo o empresário, apesar dos avanços que a região teve na última década, com a melhora de indicadores como expectativa de vida, mortalidade infantil e redução da pobreza, pesquisas mostram que a expectativa dos latino-americanos em relação ao futuro é baixa.
Para Ramírez, isso está relacionado à percepção de insegurança e de que as políticas voltadas ao combate à violência e ao tráfico de drogas têm falhado.
“A crença na política e na democracia é muito baixa e isso deve nos preocupar”, afirmou também Andrés Velasco, professor da Universidade Columbia e ex-ministro de Finanças do Chile.
O economista destacou, durante a abertura do painel, que políticos e empresários estão entre as categorias profissionais menos admiradas pela população da região, o que contribui para minar a confiança nas instituições democráticas.
A proposta da mesa de encerramento do fórum era debater como as novas lideranças podem contribuir para a construção de um cenário positivo na região.
EXCLUSÃO SOCIAL
Segundo Luiza Trajano, a presidente do conselho de administração da Magazine Luiza, os empresários não podem ignorar questões como a exclusão social.
“Não podemos aceitar que 60% da população brasileira ganhe menos de R$ 2.000 e que as faxineiras que estão trabalhando aqui hoje demorem duas horas para chegar em casa”, afirmou.
A descrença em relação à política explica, segundo Ngaire Woods, reitora da escola de política da Universidade de Oxford, porque em vários pleitos recentes –como as eleições presidenciais da França e do Chile e a saída do Reino Unido da União Europeia– a população votou contra o status quo.
“São tempos muito difíceis que acendem um enorme sinal de alarme”, afirmou.
Nesse contexto, Woods disse ter sentido desânimo ao escutar líderes brasileiros, durante os dois dias do fórum, focarem seus discursos sobre o que precisa ser feito quase exclusivamente na necessidade de equilibrar o orçamento e combater a inflação.
Para ela, as lideranças precisam fazer um melhor trabalho de escutar pessoalmente seus eleitores. Esse ponto também foi destacado por Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco:
CARÊNCIA
“Essa é uma grande carência entre nossas lideranças políticas hoje. As boas lideranças que podemos formar são aquelas que sejam capazes de ouvir seus eleitores”, disse Bracher, que lamentou o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), na quarta-feira (14), no Rio de Janeiro.
A editora da coluna Mercado Aberto da Folha de S.Paulo, Maria Cristina Frias, afirmou concordar com a importância de prestar mais atenção nas carências da população, mas ressaltou que é preciso tomar cuidado com promessas insustentáveis.
“É preciso inspirar, dar alento, mas com cuidado.”
Maria Cristina lembrou de programas de financiamento adotados nos últimos anos no Brasil –como o Fies (voltado ao ensino superior) e o Minha Casa, Minha Vida (destinado à moradia popular)- que não eram viáveis e “ajudaram a estraçalhar o Orçamento”.
A jornalista também alertou para o perigo de a Justiça no Brasil, com medidas paternalistas, cercear a liberdade do eleitor de se informar. O Tribunal Superior Eleitoral chegou a proibir conteúdo que não fosse estritamente eleitoral nas pesquisas feitas por institutos como o Datafolha e o Ibope, mas voltou atrás no início deste mês.
Os palestrantes destacaram que, entre as ações que os empresários podem tomar, estão medidas para contribuir para a maior inclusão, o aumento da diversidade e a formação de novas lideranças preocupadas com a questão social.