IGOR GIELOW, ENVIADO ESPECIAL
MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – A instalação de uma placa em homenagem a Boris Nemtsov, político oposicionista morto a tiros em 2015 ao lado do Kremlin, provocou polêmica entre as correntes de oposição a Vladimir Putin.
O blogueiro Alexei Navalni, que liderou megaprotestos em 2017 e pede o boicote da eleição presidencial de domingo (18), criticou a candidata Ksenia Sobchak.
O motivo: ela agradeceu o prefeito de Moscou, Serguei Sobianin, por ter permitido a instalação da chapa antes dos dez anos regulamentares para esse tipo de tributo.
Navalni disse ser incompreensível a atitude de Sobchak, já que o prefeito foi um dos que sancionaram o vandalismo contra tentativas anteriores de saudar Nemtsov -a placa já havia sido colocada em outro ponto da parede do prédio em que ele morava, só para ser arrancada.
A vigília na ponte junto ao Kremlin em que o político foi baleado segue no mesmo lugar, e o pequeno santuário, cheio de flores cobertas por neve e gelo.
Às 17h25 desta sexta, sob um frio de quase -10ºC, cerca de 150 pessoas assistiram à inauguração da placa. Não houve incidentes, exceto por um apoiador do presidente gritando “Por Putin”, slogan do candidato à reeleição.
O caso Nemtsov é o mais recente de uma longa linhagem de mortes políticas ocorridas na era Putin, inaugurada em agosto de 1999 (se for contado seu primeiro período como primeiro-ministro).
Ex-vice-premiê, Nemtsov era voz dissonante, mas com pouca reverberação interna na Rússia. Sua morte nas mãos de atiradores tchetchenos, depois presos e condenados, fez dele um ícone.
Nesta sexta (16), o Centro Levada de pesquisas de opinião divulgou levantamento no qual 42% dos entrevistados diziam duvidar que o real mandante do assassinato vá ser pego algum dia.
Outras execuções, como a da jornalista investigativa Anna Politkovsaia em 2006, ficaram famosas. Um colega de Anna no jornal Novaia Gazeta, Roman Schleinov, conta que ficou mais opressivo o clima para o trabalho na Rússia.
Ele abandonou a mídia tradicional e se dedica a projetos de investigação independentes, como um levantamento que fez com o apoio do site letão Meduza para rastrear as fundações ligadas a políticos que financiam a campanha de Putin.
“É muito difícil”, resume. Hoje, há veículos independentes na Rússia, como a própria Novaia Gazeta e o diário Vedomosti, mas o grosso da informação é consumido via três grandes redes de TV, controladas pelo Estado.
A internet é usada para driblar as dificuldades: “É mais barato, e a mensagem se espalha rápido”, diz o responsável pela estratégia digital de Sobchak, Vitali Shkliarov. Segundo o governo, 75% dos russos acessam a rede.
Desde a mais recente eleição de Putin, em 2012, grandes protestos passaram a ocorrer periodicamente. Navalni, por exemplo, ancora seu esforço de mobilização em redes sociais e aplicativos de mensagens. Sua Fundação Anticorrupção estima em 200 mil os disseminadores de informação espalhados pela Rússia. (IG)