TALITA FERNANDES E MARIANA CARNEIRO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O êxodo decorrente da grave crise econômica e social na Venezuela perturba os países vizinhos, afirmou nesta terça (20) o presidente Michel Temer após se reunir com o homólogo colombiano, Juan Manuel Santos, em Brasília.
Os dois reiteraram o pedido para que Caracas aceite a oferta de ajuda humanitária feita pelos governos da região e criticaram o regime de Nicolás Maduro, mas evitaram citar o venezuelano.
“Queremos a pacificação política na Venezuela, a democracia plena nas eleições e a não agressão aos que se opõem ao regime ora lá está constituído”, disse Temer.
A Venezuela deve ter eleições presidenciais em maio, após Maduro antecipar o pleito previsto para o fim do ano. Boa parte da oposição, porém, está impedida de concorrer e pede que governos vizinhos ajudem a negociar uma saída para a crise.
“Temos uma relação de Estado para Estado, o que não significa que nós patrocinemos o que está acontecendo na Venezuela sob o foco político”, afirmou Temer.
O presidente acrescentou também que “este êxodo venezuelano para o Brasil e para a Colômbia perturba os países da América Latina”.
Na véspera, um abrigo de venezuelanos em Mucajaí (Roraima) foi alvo de ataque após uma briga de imigrantes com moradores locais. Desde fevereiro o Estado está sob emergência federal.
O Brasil recebeu menos. Mas em Boa Vista, estão concentrados cerca de 40 mil venezuelanos –planos de interiorização estão em curso. A Colômbia, principal destino dos migrantes, recebeu cerca de meio milhão.
“Concordamos [Brasil e Colômbia] em trocar experiências para ajudar os venezuelanos que fogem da crise e buscar a melhor forma de lidar com essa situação inédita”, afirmou Santos.
O colombiano voltou a criticar o veto à entrada de ajuda humanitária por Caracas, que alega não haver crise.
“Fazemos um chamado ao presidente Maduro para que aceite a ajuda humanitária que vários países, como Brasil e Colômbia, têm oferecido. Não entendemos como recusam com a crise humanitária que se agrava a dia dia.”
ACORDOS
Brasil e Colômbia manifestaram interesse em ações de inteligência conjuntas contra o crime organizado e o narcotráfico. Os ministros da Defesa Nacional da Colômbia, Luis Carlos Villegas, e o de Segurança Pública do Brasil, Raul Jungmann, participaram do encontro no Planalto.
Os dois países firmaram três acordos nesta terça: um memorando de entendimentos voltado a pequenas e microempresas, outro ato para aplicar certificados digitais de origem para ampliar o comércio bilateral e um terceiro sobre agricultura familiar.
O último tema é considerado um dos passos para a consolidação do acordo de paz firmado pelo governo de Santos com as Farc (a ex-guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, hoje o partido Força Alternativa Revolucionária do Comum).
O colombiano conclui o segundo mandato em julho e pretende deixar como legado o acordo de paz, que lhe rendeu o Nobel da Paz de 2016 mas cuja implementação encontra obstáculos.
Segundo Temer, os dois presidentes também deram sinal verde para a negociação na área de compras governamentais, parte ainda não coberta por tratados de comércio de bens entre o país e o Mercosul -97% do intercâmbio bilateral é coberto.
Temer defendeu ainda um acordo comercial entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico, bloco que a Colômbia integra com México, Peru e Chile.