Foi o jornalista Pedro Franco Cruz, em artigo publicado no mundo da internet, no ano passado, quem defendeu que os jornais declarassem na primeira página os candidatos que apoiavam. Em destaque, em tarja preta, em letras garrafais. Não é mesmo vergonha para ninguém. Pior é esconder, fingir-se imparcial quando está claro que tem posição.
O New York Times, sempre ele, costuma defender em editoriais os candidatos que apóia – geralmente Democratas. É justo. E essa posição, sublinhe-se, não diminui a credibilidade do jornal junto aos seus leitores, apesar dos equívocos próprios e inerentes de uma publicação diária.
Mas vá lá, admita-se o jornal desonesto. Aquele que não abre o jogo, que apresenta-se como a trombeta da informação quando é apenas a tuba do dono – caso da maioria dos diários brasileiros. Nessas condições, espera-se ao menos a honestidade do jornalista, ela sim cara ao leitor. Pois nem essa honestidade resiste a uma lupa – e não precisa ser das mais potentes.
O exemplo de Tereza Cruvinel, colunista política de “O Globo” é emblemático. Na sexta-feira ela publicou coluna intitulada “Despedida” no espaço que freqüentou por cerca de duas décadas. Sai para assumir a presidência da TV Pública, que ainda está por ser criada, no governo Lula. E quem é Tereza Cruvinel? A mesma jornalista que, em 2005, foi apontada por Diogo Mainardi, de “Veja”, como um dos membros afagáveis do governo Lula no auge do escândalo do mensalão.
Na pieguice do que foi seu réquiem do jornalismo, ela vestiu a carapuça. Destaco alguns trechos da coluna, mas vou anexá-la na íntegra para que o caro leitor faça seu próprio julgamento. Advirto, no entanto, que é de uma chatice exemplar. A começar pela análise do quadro político, certamente extraído de algum almanaque, em que se elogia de Ribamar Sarney a Itamar Franco (subtraindo a era Collor), com uma lágrima dedicada a Ulysses Guimarães (o “Timoneiro da Travessia”), e desembocando em FHC e Lula, todos eles bastiões da democracia  que Cruvinel denomina “poeticamente” (urgh, argh, eca) de “fieira luminosa de círios, uns sendo apagados pelos outros”.
Pela qualidade da “poetisa” dá para medir o que será da TV Pública. Sim, Tereza informa ao leitor que assumirá “um novo desafio profissional, a construção da rede pública de televisão”. Mas de esguelha, obliquamente. O resto é rapa-pé.
O que deve ser levado em conta, aqui, é que no momento em que Tereza Cruvinel dizia-se vilipendiada com acusações de parcialidade pelo colunista Diogo Mainardi, estava mesmo sendo parcial e era, portanto, digna de vilipêndio. Um trecho diz tudo:

‘Neste quinto ano com Lula, a economia esbanja saúde, há um vento de crescimento mas o que se destaca, e o que deve ficar como legado, é o investimento maciço no combate à pobreza, na redução da desigualdade social mais escandalosa que todos os escândalos’.

Como é que é? ‘Redução da desigualdade social mais escandalosa que todos os escândalos’. É o ‘Rouba, mas faz’ decantado por Ademar de Barros em nova encadernação. Tereza Cruvinel, a nova presidente da TV Lula defende que os meios justificam os fins. Que haja mensaleiros, sanguessugas, petelhos, corruptos, desde que reduza-se a desigualdade social do país.
Antes, no parágrafo que precede ao citado, Dona Tereza é ainda mais  reveladora:

‘A eleição de Lula, por sua origem e trajetória, será mais que uma alternância no poder. Será prova de uma permeabilidade social e de uma disposição mudancista do povo brasileiro que surpreendeu o mundo’.

Claro que ela está se referindo ao governo petista que começou, lá em 2003, e segue, de vento em popa, provocando uma revolução no mundo só comparável ao feito de Moisés ao dividir as águas do Mar Morto com o auxílio do poder divino.
Dona Tereza confessa, portanto, que praticou um jornalismo duvidoso ao manietar a opinião pública com carapaça de “jornalista imparcial” quando era, ao fim e a ao cabo, uma fiel lulo-petista, a ponto de ser agora premiada com um cargo ilustre no governo Lula.
Foi assim, aliás, que Lula cooptou Franklin Martins e, mais recentemente, Heloísa Chagas, ex-diretora da sucursal de “O Globo” em Brasília, que deve assumir o comando de jornalismo da TV Pública.
O que será a emissora dessa gente já dá para imaginar. Não vou me alongar. O tema desonestidade jornalística é tão instigante que deveria figurar como disciplina na grade escolar das Faculdades de Jornalismo, apinhadas, aliás, de petistas que nunca sentaram a buzanfa em uma redação. Normal. Dona Tereza Cruvinel, cansada de guerra, sentou a dita nos jornais e deu no que deu. Só espero que não se meta a ensinar “ética”.

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Para ler o artigo de Diogo Mainardi em 2005 clique aqui.