Laerson Matias (PSOL): democracia (Franklin Freitas)

O bancário Laerson Matias, de 59 anos, nasceu em São Miguel do Oeste (Santa Catarina), mas veio para o Paraná ainda criança, se fixando em Cascavel, onde hoje atua como sindicalista. Nos anos 90, um irmão seu contraiu o vírus HIV e a luta por políticas públicas para atender os portadores da doença o despertou para a importância da participação na política.
Hoje presidente do PSOL do Paraná, Laerson é candidato ao Senado, que vê como uma Casa “elitista”, em que trabalhadores e pessoas humildes não têm a representação devida. Por isso, ele promete, se eleito, “abrir as portas” do Senado ao povo, defendendo bandeiras como a federalização da educação e uma auditoria permanente na dívida pública. Em entrevista ao Bem Paraná, o candidato do PSOL explica como pretende fazer isso, e reflete sobre a dificuldade dos partidos de esquerda de angariarem votos entre os eleitores paranaenses.
Bem Paraná – Quando começou a se interessar por política ?
Laerson Matias –
Foi influência familiar. Na década de 90, um irmão meu foi contaminado pelo HIV. Na época era uma sentença de morte. A gente acabou reunindo os familiares e amigos das pessoas que estavam sendo contaminadas para reivindicar uma política pública. Que atualmente existe. E eu acabei descobrindo a importância da participação política. Acabei entrando no conselho de saúde para defender o SUS. Aí depois eu fui para o PT, depois da eleição do Lula quando fui expulso e fui para o PSOL e estou até hoje.
BP – O senhor disputou outras eleições?
Laerson –
Atualmente eu sou o presidente estadual do PSOL. Eu disputei a eleições em 2022 para deputado estadual, na primeira eleição do Lula. Depois eu disputei para vereador pelo PSOL, mas em nenhuma delas me elegi.
BP – E por que o senhor decidiu disputar o Senado desta vez?
Laerson –
Na verdade o PSOL definiu que nós deveríamos ter candidato ao Senado no Paraná. O Brasil está vivendo um momento de todas as outras eleições. Uma eleição muito distinta. Uma eleição em que o mandatário do Planalto ameaça não respeitar o resultado das urnas. A nossa democracia frágil está ameaçada. Então nós decidimos encampar essa defesa da democracia. Também pela primeira vez o PSOL não tem candidato a presidente. Então por isso também o partido exigiu que nós tivéssemos candidaturas majoritárias para auxiliar esse processo de eleição do presidente Lula, que nós entendemos que seja um instrumento para salvaguardar a nossa democracia, recolocar o País nos trilhos e a gente retomar o nosso projeto de desenvolvimento nacional.
BP – E qual é a sua principal bandeira?
Laerson –
A gente divide em quatro ou cinco eixos. A primeira é isso que eu falei sobre a defesa da democracia. Nós queremos ajudar a eleger o presidente Lula principalmente para a gente combater a fome e a miséria. É inadmissível que qualquer democrata não defender a democracia e admitir que tem 33% da população brasileira com risco de não ter o que comer. A par disso nós também queremos defender um sistema de auditoria permanente da dívida pública. 50% do orçamento da União é consumido com o serviço da dívida. É preciso transparência desses contratos da dívida. A sociedade precisa ter uma participação efetiva no monitoramento disso. O Senado tem esse papel. O Senado é que aprova os empréstimos. Tem município, por exemplo, se endividando. Uma segunda pauta é a reforma tributária. Nós precisamos urgentemente desonerar as pessoas que ganham até dois salários mínimos. Entre 50% e 70% do que as pessoas que ganham até dois salários mínimos é tributo. De outro lado, o lucro das empresas e os dividendos sobre o mercado financeiro são isentos. Essa é outra proposta nossa. Compensar com o imposto sobre as grandes fortunas. A gente também tem uma ideia de que a questão da educação é discurso. A educação é um direito do cidadão. E nós temos disparidades regionais. Um salário de um professor do Oiapoque ao Chuí deveria ser igual. As escolas têm que ser idênticas. A estrutura curricular também. Isso só é possível se nós retirarmos essa responsabilidade dos estados e municípios e passar para a União. A federalização da educação é uma das nossas propostas. Uma mudança constitucional. Teríamos o processo educacional garantido na Constituição sob responsabilidade da União, em parceria com estados e municípios. Porque hoje tem aluno tendo aula embaixo de árvore e professor ganhando menos que o salário mínimo. Toda criança tem que ter um professor com o mesmo salário, uma escola estruturada com o mesmo conteúdo programático. Só assim todo brasileiro vai ter acesso à educação de qualidade. No Paraná, a gente pensa em uma nova matriz produtiva tanto para a agricultura quanto para a indústria. Nós produzimos commodities, soja e milho para exportar. É inadmissível que a gente continue com esse sistema produtivo que arruina o nosso solo exigindo cada vez mais insumo químico e utilizando veneno como forma de manter a lucratividade. Isso está contaminando o nosso solo e nossos manancias. Precisamos pensar em uma matriz produtiva agroecológica. A Europa e vários países estão fazendo essa transição. Então a gente quer desafiar o País através do estímulo e investimento em nossas universidades para que possamos repensar o modelo agrícola e como nós podemos produzir sem destruir. O futuro da humanidade depende de nós conservarmos o solo, a qualidade da nossa água e cada vez mais produzir alimentos livres de agrotóxicos. Desenvolver-se não a qualquer custo. E na questão a indústria, temos que pensar na industrialização com as novas tecnologias. Desenvolver pequenas plantas industriais em cada região, baseada na sua vocação, com energia limpa, solar, aeólica, que trata do resíduo. Nós precisamos inverter o fluxo migratório para as grandes cidades onde estão as grandes indústrias. E industrializar a matéria-prima na própria região. Vai agregar muito maior valor e o Estado começaria a vender o produto manufaturado já industrializado.

CRÍTICA
‘Senadores do Paraná não atendem os trabalhadores’

Bem Paraná – Em São Paulo, o PSOL abriu mão de ter candidato próprio ao governo, para apoiar o Fernando Haddad, do PT. No Paraná, o partido lançou a professora Ângela Machado e não quis apoiar o candidato do PT, Roberto Requião. Por que?
Laerson Matias –
No Estado, foi uma opção do partido local. Nós optamos por lançar a candidata professora Ângela porque o nosso partido está em construção no Estado. E infelizmente aqui no Paraná, o eleitor paranaense tem o hábito de dificilmente não reeleger o governador. E nós optamos por lançar a professora Ângela, porque ela é um perfil jovem, uma educadora, uma mulher. O dinamismo do PSOL pode ajudar a conquistar principalmente o eleitorado mais jovem. E isso pode contribuir para a eleição ir para o segundo turno. Nós queremos levantar as nossas bandeiras, apresentar o nosso partido e nosso programa e acreditamos sinceramente que isso pode contribuir para que a eleição possa ter segundo turno.
BP – Qual a avaliação que o senhor faz da atual bancada paranaense no Senado?
Laerson –
Infelizmente o nosso Senado tem sido elitista, que representa os interesses dos mais ricos, empresariais. Pouco povo no Senado. Por isso que eu sou candidato ao Senado. Eu acredito em abrir as portas do Senado para o povo, para o agricultor, para os trabalhadores que não se vêem representados no Senado. Os três são do mesmo partido, o Podemos. Infelizmente nós não temos representação da classe trabalhadora. Quando eu vejo a atuação de um senador como o Paim, o Randolfe, são exemplos de senadores dedicados a atender todas as causas de interesse público. E os do Paraná não nos atendem. Um exemplo: foi descoberta uma quadrilha de falsos pastores que atuavam no Ministério da Educação, cobrando propina para liberar recursos públicos. Foi proposto uma CPI para investigar e os três senadores do Paraná não assinaram. Eu fico pensando: o que leva três senadores da República não assinar para que seja investigado. Ou eles fazem parte do esquema ou eles não tem zêlo pelo patrimonio público. Então é lamentável. Eu tenho certeza que o povo do Paraná não autorizaria que eles ficassem se escondendo dentro dos seus gabinetes e não quisessem investigar algo tão grave como desviar dinheiro da educação.

ESTADO
‘Governo Ratinho Jr é continuidade de Beto Richa’

BP – Qual a sua avaliação do governo Ratinho Jr?
Laerson –
O governo Ratinho Jr é uma continuidade do governo Beto Richa. Ele era membro do governo Beto Richa, foi um dos secretários mais proeminentes. O Beto Richa, não vou fazer juízo de valor do Judiciário, mas ele saiu de lá como corrupto. Todas as evidências levantadas pela imprensa foram de que era um governo corrupto. O Ratinho Jr se elegeu e virou as costas, mas o governo dele é uma continuidade, infelizmente. Por exemplo, a educação está sucateada. Ele não faz mais concurso. Não contrata professor. Ele contratou uma empresa privada para que os alunos tivessem aula por um monitor de televisão. O Mato Grosso do Sul paga o dobro do salário para os professores que o Paraná paga. É um governo que vira as costas para o futuro do Paraná que são as nossas crianças. O pedágio é um crime. Evidentemente que o Ratinho sabia quando terminava o contrato. Evidentemente um gestor zeloso deveria ter iniciado o processo de licitação antes para fazê-la antes da eleição. Não o fez. É um crime porque ele está deixando as estradas do Paraná sejam destruídas. Ele vai fazer depois da eleição. O preço vai ser muito maior porque as estradas estão destruídas. Vão ter que ser recuperadas. O Paraná, novamente vai ter um pedágio com um preço aviltante. Ele está escondendo uma coisa muito desastrosa para a economia popular para depois da eleição.
BP – O eleitor do Paraná é visto como conservador e resistente a votar na esquerda. Como reverter isso?
Laerson –
No Sul do Brasil, realmente, o conservadorismo impera mais do que em outros locais do |País, com exceção do Centro Oeste e Norte, onde tem o conservadorismo baseado no agronegócio. Diferentemente do Nordeste, Rio, Minas e São Paulo, onde os conservadorismo está perdendo nas pesquisas. A gente trata isso com naturalidade. É aqui que a gente vive, é assim que as pessoas pensam e nesse espaço que temos que militar. De todo modo, nós estamos lutando para que a gente possa reverter isso. Existe muita informação falsa. É lamentável que os órgãos de imprensa tenham perdido o protagonismo de informar a população com responsabilidade. Hoje, muitas pessoas se afastaram dos órgãos de comunicação e estão acreditando mais nesses perfis de notícias falsas. O militante de esquerda deve lutar para que as pessoas possam conhecer a verdade. Porque só assim o eleitor vai poder livremente decidir da melhor maneira possível seu deputado, presidente, governador, senador.

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