Aline Sleutjes (PROS): conservadora (Elaine Menke/Câmara dos Deputados)

A deputada federal Aline Sleutjes (PROS) é aliada de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas ele preferiu declarar apoio à candidatura do deputado federal Paulo Martins (PL) ao Senado, mesmo cargo a que ela concorre nesta eleição. Sleutjes atribui a decisão a uma indicação do governador Ratinho Júnior (PSD) e afirma não se sentir inferiorizada pela situação de não ser a candidata oficial de Bolsonaro no Estado.
Ela critica ainda a atual bancada paranaense no Senado, a quem ela atribui imobilidade na defesa dos interesses do Estado e nas pautas e falta de capacidade de diálogo com prefeitos e vereadores nas questões municipalistas. Em entrevista ao Bem Paraná, a candidata do PROS explica ainda como está lidando com o fato de seu partido ter mudado de comando e fechado apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República.

Bem Paraná – A senhora é aliada do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas ele declarou apoio à candidatura do deputado federal Paulo Martins (PL) ao Senado. Por que a senhora decidiu manter a candidatura ao Senado mesmo assim?

Aline Sleutjes – Porque até o momento, o presidente não disse pra eu desistir. E foi ele que me disse para ir ao Senado em novembro, e correr as estradas do Paraná. Segundo, porque não é apenas a questão de ser a candidata oficial, ou não. Eu tenho resultados, eu tenho trabalho. Eu atendo 300 municípios, eu tenho 200 prefeitos, 500 vereadores, eu sou a deputada do agro. Então uma desistência minha não impacta a minha vida, minha carreira, reeleição. Impacta um segmento que precisa de uma representatividade forte, que é a agricultura paranaense. Impacta 300 municípios que dependeram do meu trabalho nesses quatro anos e que precisam que eu continue firme e forte podendo continuar atendendo a todas essas cidades, regiões. Então não é uma decisão única. Não é mais uma decisão da deputada Aline que se candidatou ao Senado. É uma decisão de um grupo gigante que confia e acredita nessa candidatura.

BP – A senhora se filiou recentemente ao PROS com a expectativa de que o partido apoiasse a candidatura à reeleição do Bolsonaro. Mas após uma demanda judicial, o partido acabou comandado por um grupo que apoia Lula. Como a senhora está lidando com isso?

Aline – O PROS Paraná continua apoiando o presidente Jair Bolsonaro, como prometido quando eu ingressei. Foram duas exigências que eu fiz quando o PROS me convidou e me deu a vaga ao Senado. A primeira que o PROS Paraná seria Bolsonaro. A segunda que o PROS tiraria uma ADIN que estava tramitando, inclusive nas mãos do Alexandre de Moraes. O partido demonstrou muito comprometimento, cumprindo as duas exigências. Após a troca do presidente nacional, nada mudou em relação ao PROS estadual. Continuamos firmes e fortes apoiando o presidente Bolsonaro. Nossos candidatos continuam pedindo voto para o presidente. Eu como uma boa conservadora de direita continuo fazendo campanha dia e noite para o presidente como sempre foi. Vale ressaltar, eu trabalho por pessoas, pelo meu Estado e pelo meu presidente. Eu não trabalho para uma sigla partidária. A sigla partidária é uma necessidade eleitoral. Mas ela não vai mudar o meu comportamento desses 23 anos de política.

BP – A senhora não está recebendo recursos do fundo eleitoral. Como está financiando a campanha?

Aline – Não estou recebendo justamente por ser bolsonarista. Então veja que hoje eu estou sofrendo retaliações de um partido que há alguns meses me acolheu, onde tinha outra conjuntura, com outro presidente, inclusive, de direita, conservador. E hoje eu estou passando por essas dificuldades. É a prova de que o Brasil precisa urgentemente de uma reforma eleitoral, para que os candidatos parem de sofrer desta forma, sendo perseguidos, punidos, coagidos por causa das suas pautas. E hoje eu estou fazendo campanha com doações, recursos próprios, amigos, pessoas do agro, pessoas que acreditam nessa eleição e que confiam no meu trabalho e querem que eu seja senadora desse Estado.

OUTSIDER

‘Por não fazer parte do sistema, não sou a candidata oficial’

Bem Paraná – A senhora disse recentemente que o deputado Paulo Martins é o candidato do Ratinho Jr colocado no PL. O que a senhora quis dizer com isso?

Aline Sleutjes – Muita pessoas falam assim: ‘por que que tem dois candidatos do Bolsonaro. Porque o presidente Bolsonaro escolheu o Paulo e não a senhora que está desde 1º de janeiro de 2019 apoiando, ajudando, levando o nome do presidente a todos os lugares do Paraná. Por que que você como vice-líder do governo na Câmara não está sendo apoiada por ele. Então o que eu tenho falado, a verdade. Foi uma composição política, uma indicação por parte do governador. E que o nome de consenso desses partidos que fazem parte da base do governador escolheram o Paulo Martins. Então, não foi uma decisão do presidente que disse: ‘esse é o meu candidato, e aceite’. Portanto, eu não me sinto nenhum pouco inferiorizada sobre essa situação. Eu sempre disse que eu não fazia parte desse clã que governa o Paraná há muitos anos. Eu estou vindo realmente com o desejo de mudar isso. De que nós consigamos trazer novas pessoas, novas famílias, novos grupos políticos. E por não fazer parte do sistema é que eu não sou hoje a candidata oficial.

BP – Então a senhora não vai fazer campanha para o governador?

Aline – O meu partido está na base, na coligação do governador.  Mas se o governador não vai fazer campanha para mim, a gente fica em uma situação um pouco difícil.

BP – Então a senhora não vai fazer campanha para nenhum candidato ao governo?

Aline – Não. Eu estou fazendo campanha para mim, para o presidente Bolsonaro e para todos candidatos a estaduais e federais que me apoiam no momento.

BP – A senhora também afirmou que a forma como o ex-juiz Sergio Moro deixou o governo Bolsonaro foi covarde. Por que?

Aline – Porque todos puderam ver. Depois de ele ter feito um excelente trabalho como juiz. Foi ministro do governo Bolsonaro, com toda a confiança do presidente, compôs a sua equipe. Tinha tudo nas mãos para ter um futuro brilhante como político, inclusive. E depois de toda aquela situação, aquele caos que ele causou no governo federal, inclusive publicando uma reunião que era interna. Colocou em situação muito ruim o próprio presidente. Que depois, a partir do momento em que as pessoas assistiram o vídeo, e viram que o vídeo tinha nada mais do que o presidente defendendo a sua nação, a liberdade do cidadão brasileiro, ele ainda sim saiu do governo atirando. Eu acho que a primeira característica que a gente tem que ter enquanto político é fidelidade e gratidão. Ele devia ter isso para com o presidente, alguém que colocou ele em um dos cargos mais importantes do Brasil, e não foi isso que aconteceu. Então foi por isso que eu disse que a posição do ex-juiz, ex-ministro, ex-candidato por São Paulo foi uma postura de traição ao governo Bolsonaro. 

Bem Paraná – Como a senhora analisa a atuação da atual bancada paranaense no Senado?

Aline Sleutjes – Eu acredito que é uma bancada que poderia estar mais forte, visto a importância do nosso Estado para o Brasil. Nós temos um setor que é o coração da economia paranaense e nacional, que é a agropecuária. Hoje não temos voz nem vez. Temos lá projetos importantes como licenciamento ambiental, regularização fundiária, auto controle, defensivos. Então é uma lista gigantesca de matérias que estão engavetadas no Senado por falta de interesse. Os nossos paranaenses deveriam estar lutando por essas pautas por saberem da importância disso para o nosso Estado e o nosso Brasil. Também acredito que todos esses posicionamentos, como as reformas, projetos importantes para o nosso País, não tem sido condizentes o posicionamento deles. Eles precisavam estar mais ativos, se posicionando, ajudando a construir uma nação mais forte e consolidada. E para o Estado do Paraná, não vemos nenhum dos três senadores com um perfil municipalista. Meus prefeitos, meus vereadores disseram que nunca foram recebidos no Senado. Que não obtiveram nenhum recurso de emenda parlamentar, e isso é muito triste. Porque se nós, representantes do povo não atendemos o povo, não trazemos recursos para o nosso Estado, é uma situação que deixa a desejar. E também a questão da possibilidade de renovar. Em relação ao senador Alvaro Dias, eu não vou descredibilizar e nem menosprezar. Fez um excelente trabalho durante décadas para o Estado do Paraná. Mas como toda a profissão tem um começo, um meio e fim. Acredito que agora já está na hora dele dar essa cadeira para uma outra pessoa, com sangue nos olhos, com vontade de fazer as coisas, de realmente resolver as demandas do Paraná com bastante discernimento de sua função, mas também com vontade de atender os municípios e correr para resolvê-las.

BP – A senhora participou da tentativa de criação de um novo partido, o “Aliança Brasil”. Por que isso não avançou?

Aline – Eu acredito porque muito cacique e pouco índio. Tínhamos muitas pessoas querendo se autodenominar dona, e lá na frente, presidente regional do partido. E isso acabou atrapalhando bastante. Mas acho que principalmente, se o presidente tivesse se posicionado, e trabalhado um pouco mais forte, nós tínhamos conseguido. Aliás faltou pouquíssimas assinaturas. Por causa da legislação eleitoral, ficou um pouco difícil para conseguirmos viabilizar os documentos. Não conseguimos viabilizar o partido a tempo da eleição.  É que fez o pessoal se motivar um pouco e deixar de trabalhar para concluir o registro das fichas. Mas eu registro a importância de tomarmos essa iniciativa de um partido realmente conservador de direita. Essa situação que eu estou passando hoje por não poder estar no PL, que é o partido do presidente e de tantos outros bolsonaristas que não tiveram uma vaga disponibilizada, ou que não couberam na legenda e gostariam de estar, faz com que nós tenhamos a necessidade de convertermos essas fichas de filiação e a criação de um partido que seja realmente de direita, conservador, e possa estar alinhado com a conduta de muitos políticos que queiram ter um partido para chamar de seu.

RATINHO JR

Para deputada, falta reconhecimento por investimentos federais

Bem Paraná – O governador Ratinho Jr apoia oficialmente a reeleição do Bolsonaro. Na semana passada, o presidente esteve no Paraná, e o governador esteve junto em campanha. Mas na propaganda eleitoral, ele não faz menção ao presidente. A senhora acha que isso pode prejudicar a campanha de Bolsonaro no Paraná?

Aline Sleutjes – Essa é uma das críticas, de por que que eu não apoio o governador. Eu sou uma pessoa com muita lealdade. Eu acho que todos os recursos do governo federal deveriam estar sendo explorado nesse momento, e dando ênfase para tudo o que o governo federal fez para o Paraná. Os investimentos da Itaipu, as obras do aeroporto, da duplicação da rodovia Cataratas, da ponte, enfim, todos os recursos que vão lá para mais de 50 municípios naquela região, e que o orçamento fica até maior que o de uma secretaria de Estado, de tanto investimento que o governo faz no Paraná. Além de recursos que vêm de outros ministérios que impactam a vida dos paranaenses. Então a minha crítica sempre foi nesse sentido. De o porque o governo do Estado não valoriza o que o governo federal está fazendo. E principalmente, os posicionamentos na pandemia, de lockdown, de fechamento, contra o tratamento imediato, as imposições que foram feitas. As pessoas autônomas que não eram consideradas essenciais, e que ao meu ver tudo o que paga a conta e mantém o prato de comida na mesa da família é essencial. Então foram essas as divergências. Eu estava no evento, o governador Ratinho falou de algumas obras do governo federal. Mas isso é uma exceção. Em grande parte da história do governo estadual isso nunca aconteceu. Mas, existe todo um enredo atrás da cortina, questões partidárias, políticas, de acerto de base, que fazem que fique secundário essa fidelidade que eu acho que seria muito importante nesse momento. 

BP – Como a senhora vê a questão da representação feminina na política. A política de cotas?

Aline – Eu acredito que a participação feminina ainda é muito pequena, visto que temos 52% de mulheres e na Câmara Federal temos 15%. Nas câmaras municipais onde eu trabalho tem muitas que não tem nenhuma vereadora. Às vezes uma ou duas vereadoras. Então a participação da mulher ainda é muito pequena. Não são as cotas que vão resolver. Porque hoje temos uma exigência de 30%. Então se isso fosse o que decide a situação da votação da mulher, nós teríamos 30% de mulheres em todo o cenário. Mas acho que é uma questão mais cultural. Nós temos que fazer as mulheres se envolverem mais, sentirem que elas precisam fazer parte sendo candidatas ou apoiadoras. Eu creio que nesta eleição nós teremos sim uma diferença já para a eleição de mulheres para estadual e federal, visto que eu tenho sido muito procurada por candidatas que estão falando a mesma coisa. ‘Eu sou candidata a deputada estadual e estou querendo fazer um dobra com uma candidata a federal e quero apoiar a senhora para o Senado para fazer uma chapa feminina’. Então eu acho que é muito imporante que isso aconteça, que essa projeção feminina aconteça.

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