Nos últimos anos, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance) tem ganhado destaque no mundo corporativo e em políticas públicas, orientando práticas que consideram impactos ambientais, responsabilidade social e governança. No entanto, sua aplicação no ambiente educacional ainda é pouco explorada. Em julho de 2024, a Lei nº 14.926/2024 alterou a Lei nº 9.795/1999 para incluir atenção às mudanças climáticas, proteção da biodiversidade e prevenção de desastres socioambientais na Política Nacional de Educação Ambiental.
E passou a exigir que, além de integrar esses temas ao currículo, as instituições de ensino devem adotar novas práticas de gestão e responsabilidade socioambiental, que compõem a uma agenda ESG, promovendo um ambiente que forme cidadãos conscientes, responsáveis e preparados para serem parte da solução da emergência climática e de um futuro melhor para todos.
A construção de uma agenda ESG nas escolas representa um avanço significativo, pois passa a abordar de maneira integrada os temas relacionados a educação ambiental, responsabilidade social e a governança da instituição, fortalecendo e evidenciando os valores, a cultura e a proposta pedagógica de cada instituição.
É preciso que os conceitos e práticas da agenda ESG sejam discutidas no contexto educacional como algo que vai além da obrigação legal, sendo vistos como um dever moral e institucional. Ao levar esse conceito para as escolas, preparamos nossas crianças e adolescentes para o futuro e contribuímos para uma sociedade mais consciente e responsável.
Este artigo explora o conceito de ESG e sua relevância para a educação, tratando de ações sustentáveis necessárias para melhorar a eficiência operacional, enriquecer o aprendizado dos estudantes e fortalecer a reputação.
Espero aqui demonstrar a importância de discutir ESG nas escolas, seja como pais que buscamos deixar um mundo melhor e filhos melhores para o mundo, ou como profissional, afinal já sabemos que a educação transforma!
Mas a final, o que é ESG?
De acordo com a ABNT PR 2030, norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas que define diretrizes para a implementação de práticas de sustentabilidade, responsabilidade social e governança:
“O ESG pode ser definido como um conjunto de critérios ambientais, sociais e de governança que devem ser considerados na avaliação de riscos, oportunidades e impactos, com o objetivo de orientar atividades, negócios e investimentos sustentáveis.”
Esse conceito é sustentado pelos três pilares: o ambiental, que foca na preservação e recuperação do meio ambiente; o social, que aborda a responsabilidade social e o bem-estar das pessoas e comunidades; e o de governança, que trata dos valores e boas práticas na gestão das organizações. Esses pilares ajudam a gerenciar melhor os riscos das organizações, comunidades e meio ambiente, bem como contribuem para aumentar a reputação da organização, reduzir seus custos e fortalecer suas relações com as partes interessadas.
O ESG demonstra o compromisso de um negócio em minimizar seus impactos ambientais, potencializar os imapctos sociais e valorizar a transparência na gestão. Condutas que favorecem a construção de um futuro mais saudável, responsável e sustentável.
ESG nas Escolas: Por Que é tão importante?
No contexto atual de riscos climáticos, que afetam o retorno sustentável dos investimentos em todos os setores e instituições públicas, tratar do ESG nas escolas é estratégico e essencial para que ações necessárias, tanto pequenas quanto grandes, aconteçam.
Um exemplo, pela perspectiva ambiental: ensinar a importância da separação correta dos resíduos e os impactos negativos do descarte irregular, como uma embalagem de isopor, quando descartada incorretamente, obstrui bueiros e agrava enchentes que impactam diretamente na qualidade de vida e bem-estar de toda a comunidade, favorece que novos comportamentos sociais possam surgir com mais eficiência e agilidade do que esperar que a solução seja oferecida integralmente pelo Estado.
Na perspectiva social, trago outro exemplo: valorizar a inclusão, acolher as diferenças e promover ambientes com estrutura (políticas, diretrizes e tempo) para que o diálogo sobre questões difíceis aconteça. Isso ajuda a construir caminhos para promover o respeito e tratar questões como o bullying, buscando contribuir com a redução dos indicadores alarmantes de crianças, jovens e profissionais da educação adoecidos por questões de saúde mental.
O contexto é complexo. Políticas Públicas e escolas alinhadas à atualização da Política Nacional de Educação Ambiental são pilares estruturais para a construção de uma sociedade mais saudável e produtiva. Envolver setores e áreas estratégicas para promover a compreensão das novas obrigações e responsabilidades enquanto agentes de educação e mudança é o primeiro passo para transformar a realidade educacional e social do país.
Benefícios para as Escolas, enquanto negócio!
Ao abordar o ESG, trabalha-se a gestão de riscos e a adoção de práticas e diretrizes éticas e responsáveis, o que melhora a gestão, aumenta a transparência e a confiança da comunidade escolar. Além disso, ao tratar com responsabilidade o uso de recursos e o descarte de resíduos, a escola aprende e ensina sobre economia circular, prática que a desafia a se atualizar frente às demandas atuais e se capacitar para melhor entender que habilidades e conhecimentos novos os estudantes vão precisar para o futuro no mercado de trabalho.
A escola tende a ser um modelo de inspiração e inovação, facilitando um engajamento mais profundo em suas funções. Ao valorizar a responsabilidade socioambiental, a escola atrai e retém profissionais mais dedicados, comprometidos com a missão de educar e transformar a sociedade. Isso eleva à motivação, o engajamento e a lealdade dos profissionais e educadores, fortalecendo a cultura da instituição e promovendo um ambiente de trabalho saudável e produtivo para todos.
Uma boa jornada ESG fortalece a cultura da organização e da sustentabilidade na sociedade, conquistando a admiração das famílias e da comunidade onde estiver inserida.
Sendo o primeiro passo a todos que desejam ou precisar iniciar essa jornada é trabalhar na formação e capacitação dos profissionais de suas equipes. Afinal, somos todos aprendizes sobre nossas ações e seus impactos socioambientais.
Exemplos de Projetos e Iniciativas que unem ESG e Educação
Um exemplo inspirador é a Escola Parlenda, que nasceu com o propósito de ser diferente por natureza, conectada à cultura de sustentabilidade em sua essência. E após 10 anos de escola, em maio de 2024 formou seu comitê ESG para aprofundar suas iniciativas e relatá-las, sendo publicado em dezembro de 2024 o primeiro relatório de sustentabilidade da escola, disponível para consulta de todos no seu site: https://www.escolaparlenda.com.br/sustentabilidade atendendo uma das novas exigências Lei nº 14.926/2024 que atualiza as práticas de educação ambiental nas instituições de ensino, entrando em vigo neste ano (2025). .
O relatório da Escola Parlenda demonstra como ações sustentáveis são férteis quando integradas ao cotidiano escolar e serve como um exemplo prático do que outras instituições podem adotar para promover suas ações de sustentabilidade.
Impacto na Agenda 2030
Olhar para a jornada da sustentabilidade das escolas e contribuir com a meta 4.7 do ODS 4 da Agenda 2030, que trata da educação para o desenvolvimento sustentável. Tratar a sustentabilidade de forma transversal, promovendo hábitos nas escolas nos permite sair do mundo das ideias cheias de “boas intenções” para ações concretas de impacto.
Dito tudo isso …
O ESG pode ser vinculado a um negócio pela possibilidade de ser um diferencial ou por pressão legal, como o setor da educação com a alteração da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 14.926/2024), que deverá rever práticas e adotar novas práticas de gestão, com o objetivo de promover a educação para sustentabilidade de forma transversal e transparente.
Absorver as práticas ESG nas estratégias de negócios das organizações, ainda que seja um caminho cheio de desafios e em construção, já se tornou uma realidade sem volta. Atender à demanda da sustentabilidade é uma missão coletiva, e nossas escolas desempenham um papel fundamental ao influenciar as novas gerações a serem parte da solução.
É hora de agir! Incentivo escolas, educadores e comunidades a se unirem em prol da implementação do ESG. Escolas que integram ESG de forma estruturada atendem à nova política de educação ambiental, se adapta as novas demandas, ganham eficiência, competitividade e relevância. O jogo já começou. Você e sua instituição estão preparados?
Izabella Alonso Soares
Advogada, especialista em Gestão Ética, Inovação e Sustentabilidade