SÓ PODE SER REPRODUZIDA COM ASSINATURA
EDUARDO GERAQUE E TIAGO RIBAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dependente de dinheiro público, o esporte olímpico brasileiro convive com uma realidade preocupante. O orçamento enviado pelo Executivo ao Congresso Nacional prevê cortes drásticos para o Ministério do Esporte em 2018.
Pela proposta, o orçamento total da pasta pode sofrer uma redução de 68% entre o que foi aprovado no ano passado com o que está previsto agora. O valor de R$ 491 milhões, que consta na lei orçamentária do ano que vem, é o mais baixo desde 2005, considerando os valores corrigidos pela inflação do período.
Em termos de comparação, os quatro anos do ciclo olímpico para os jogos do Rio-2016 tiveram a previsão orçamentária média de R$ 2,6 bilhões.
Vários programas destinados ao esporte de alto nível podem ser afetados em 2018.
Na rubrica “Preparação de Seleções Principais para Representação do Brasil em Competições Internacionais” o valor previsto para 2018 é de R$ R$ 4,8 milhões. Enquanto no ano passado, o mesmo item do orçamento recebeu R$ 40 milhões.
O dinheiro previsto para o programa Bolsa Atleta, por exemplo, um dos mais importantes para o desenvolvimento do esporte olímpico nacional, que beneficia por volta de 6.200 esportistas, também pode cair pela metade, se os congressistas não alterarem o projeto inicial.
São previstos R$ 70 milhões para 2018 contra os R$ 141 milhões que deveriam ser gastos em 2017. Essa iniciativa, no caso da Olimpíada do Rio, beneficiou 358 membros da deleção brasileira ou 77% do total, segundo o Ministério do Esporte.
“O programa Bolsa Atleta é importante, ajudou muitos no atletismo, mas ele precisa ser revisto. Vamos aguardar o que será feito no orçamento”, diz Antonio Carlos Gomes, superintendente de alto rendimento da Confederação Brasileira de Atletismo.
Para o dirigente, desde que os critérios sejam claros para que o dinheiro do programa seja distribuído de forma mais qualitativa, pode ser positivo rediscutir o Bolsa Atleta. “Existem muitos atletas que ganham o dinheiro mas não entregam resultados. É positivo rediscutir o Bolsa Atleta”, afirma Gomes.
O dirigente não acredita que o ministério faça “nenhuma loucura” –como acabar com o programa– sem conversar com as confederações, o que não ocorreu até agora.
Mas não é apenas o esporte olímpico de alto rendimento que deve ser afetado pelo corte. O futebol, e várias ações que associam o esporte ao lazer e à inclusão social, também podem ter menos dinheiro no ano que vem.
No item “Desenvolvimento de Atividades e Apoio a Projetos de Esporte, Educação, Lazer, Inclusão Social e Legado Social”, o Congresso Nacional aprovou para 2017 um orçamento de R$ 86,5 milhões. Mas, agora, a previsão do governo federal para 2018 é de apenas R$ 25 milhões.
No ano passado, ainda sob o entusiasmo da Olimpíada do Rio, em que o Brasil não atingiu a meta de ficar entre os dez primeiros no quadro de medalhas –o país, com 19 medalhas, terminou em 13º mas obteve sua melhor participação em uma edição dos jogos–, o ministro do Esporte Leonardo Picciani (PMDB) negou que cortes ocorreriam.
“Vamos manter os programas e certamente os investimentos serão maiores”, afirmou Picciani, ao fazer um balanço da participação brasileira nos Jogos.
Procurada nesta terça-feira (19) pela, o ministério afirmou, por meio de nota, que os valores presentes na previsão são apenas iniciais. E que vem trabalhando com o Congresso para aumentar o orçamento de 2018.