ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, ENVIADA ESPECIAL FILADÉLFIA, EUA (FOLHAPRESS) – Seria uma goleada de 7 a 1 comparar as celebridades que apoiaram Donald Trump na convenção republicana, semana passada, em Cleveland, e a trupe que desembarca na Filadélfia para aderir ao slogan da democrata Hillary Clinton: “Estou com ela”. Se a corrida presidencial fosse um campeonato, o time pró-Hillary jogaria na primeira divisão: estão com ela, para a convenção da legenda, nesta semana, de Meryl Streep a Lady Gaga.

Torcendo à distância, astros (Steven Spielberg, Beyoncé, Leonardo DiCaprio e George Clooney) e um astrólogo: Walter Mercado. Ícone dos anos 1990, ele disse à edição em espanhol da revista “People” que Trump é “um monstro” e que o zodíaco conspira a favor de Hillary. O magnata prometeu quebrar o tédio das reuniões partidárias, em geral superlotadas com políticos às vezes sonolentos. Tentou chamar entusiastas seus, entre eles o lutador Mike Tyson e o astro do futebol americano (e marido de Gisele Bündchen) Tom Brady. Nenhum foi, e ele teve de se contentar com o lado “B” de Hollywood: Scott Baio, ex-astro adolescente da série “Happy Days”, Antonio Sabato Jr., ator de novelas, e Willie Robertson, do reality “Duck Dinasty”.

COM ELA

Em junho, Lady Gaga postou uma foto -ela de maiô cavado com estampa da bandeira- e fez um apelo a seus 62 milhões de seguidores no Twitter: “Votem para ter a primeira mulher na história presidente dos EUA. Não cairia mal um pouco de rock ‘n’ roll neste país”.

Junto com Lenny Kravitz, a cantora fará um show paralelo para delegados democratas na quinta (28). “Hillary Is a Badass” (Hillary é foda), diz uma camiseta de Katy Perry, que despontou para a fama com um hit bem progressista sobre beijar meninas e gostar disso (“I Kissed a Girl”) e hoje tem mais seguidores do que qualquer um no Twitter (91 milhões). Musa da geração milênio, ela já avisou que desembarca na Filadélfia. Seu hit “Roar” costuma embalar comícios de Hillary e vai por aí: “Sou uma campeã e você vai me ouvir rugir”.

Meryl Streep foi escalada para apresentar um vídeo na terça (26), depois do ex-presidente Bill Clinton e antes de uma performance de Alicia Keys. A atriz já vestiu a camisa de Trump -mas para encarná-lo numa apresentação cheia de galhofa no Central Park, em Nova York, com peruca loira, bronzeado artificial e paletó.

As atrizes Lena Dunham (“Girls”), America Ferrera (“Ugly Betty”), Elizabeth Banks (“Jogos Vorazes”) e Debra Messing (“Will and Grace”) também estão na programação. Também na Filadélfia, a colega Rosario Dawson (“Sin City”) é do time do contra: advoga por Bernie Sanders, candidato derrotado por Hillary nas prévias partidárias. No domingo (24), ela defendeu, em encontro com delegados pró-Sanders, levar a “revolução política” proposta pelo senador “para a próximo fase”.

É PESSOAL

Para algumas personalidades, endossar Hillary é pessoal. Eva Longoria, famosa pelo papel da dona de casa latina Gabrielle em “Desesperate Housewives”, se contrapôs à cruzada de Trump contra imigrantes na segunda (25). Com ascendência mexicana, lembrou que o Texas, seu Estado natal, pertencia ao vizinho latino até os EUA anexá-lo, no século 19. “Minha família nunca cruzou a fronteira, foi a fronteira que nos cruzou”, disse Longoria, que já havia defendido Obama em 2012. Demi Lovato, egressa da safra de estrelas mirins da Disney, afirmou na mesma noite que Hillary era a mais qualificada para cuidar de “quem vive com uma doença mental”, como ela, que tem transtorno bipolar.

ERA UMA VEZ

Houve um tempo em que a primeira classe do entretenimento circulava pelas convenções republicanas. Frank Sinatra, que já havia apoiado Nixon, em 1980 fez campanha para Ronald Reagan, o “homem apropriado” para “endireitar” o país. Na mesma convenção, Elizabeth Taylor se sentou ao lado da futura primeira-dama Nancy Reagan. Em 2012, Clint Eastwood protagonizou um dos momentos mais embaraçosos da produção dos republicanos, ao fazer uma entrevista imaginária e pouco gentil com o candidato à reeleição Barack Obama -representado por uma cadeira vazia. O democrata respondeu publicando uma foto no Twitter: ele num assento com a placa “presidente”. A legenda: “Este lugar está ocupado”. Para 2016, uma banda conhecida no circuito alternativo, Third Blind Eye, apresentou-se em show paralelo para partidários de Trump, em Cleveland. Mas para pregar uma peça: eriçou a audiência conservadora com perguntas provocativas (“quem aqui acredita em ciência?”) e cantou uma letra sobre “dois gays republicanos”. Foi sumariamente vaiada.