VENCESLAU BORLINA FILHO CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos 20 trabalhadores, entre eles quatro adolescentes, foram encontrados em alojamentos junto a porcos no município de Luís Correia, no litoral do Piauí. Eles atuavam na extração da palha da carnaúba. A cera dessa palmeira nativa do Nordeste é usada como matéria-prima pelas indústrias cosmética e de eletroeletrônicos.

Uma operação realizada na semana passada entre o Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho e Emprego inspecionou 12 propriedades rurais em dez municípios da região norte do Estado. Em 11 delas foram identificadas irregularidades trabalhistas. Em alguns casos, os trabalhadores eram mantidos em situações análogas à escravidão, segundo a Procuradoria do Trabalho.

Foram encontrados trabalhadores sem alojamento adequado, sem carteira assinada, sem equipamentos de proteção individual e sem condições mínimas de higiene, saúde e segurança. A intenção das instituições é responsabilizar toda a cadeia produtiva pelas irregularidades, desde quem arrenda as terras até os responsáveis pela colheita, beneficiamento e aplicação da cera.

No caso do alojamento, os porcos conviviam com os trabalhadores no mesmo local, debaixo das redes colocadas numa área do sítio. O trabalho era feito a cerca de 10 quilômetros do local. De acordo com o procurador José Wellington Soares, o sítio ainda não tinha banheiro para os trabalhadores, a maioria vindo de municípios do Ceará, como Acaraú e Granja. Outra situação identificada foi a reutilização de embalagens de agrotóxicos para armazenar água. Os alimentos não eram refrigerados e as refeições eram feitas em locais impróprios, perto a fezes de animais.

Foram abertos inquéritos em todos os casos. Em alguns deles, onde não havia qualquer condição para realização do trabalho, foi determinada a suspensão imediata da atividade. Segundo Soares, novas inspeções devem ocorrer nos meses de agosto e setembro para saber se melhorias foram tomadas. O período de colheita da palha da carnaúba vai até novembro.

Segundo o Ministério Público do Trabalho, a atividade da extração da palha da carnaúba tem mais de 100 anos e emprega cerca de 12 mil trabalhadores no Piauí, sendo uma das principais atividades econômicas do Estado. Ainda de acordo com a Procuradoria, os trabalhadores atuam mediante pagamento de diárias em valores que variam de R$ 30 e R$ 60, sob risco de acidentes e amputação de partes do corpo como braços e pernas.