Eu amo meu cachorro. E amo o KISS, desde que era piá. O meu cachorro se chama Bono, mas era pra ser Gene, de Gene Simmons. Só que Bono soou melhor. Então ficou.

Como o KISS já soou melhor do que o que vimos na Pedreira Paulo Leminski, nessa terça, em Curitiba. Mas eu também fiquei, mesmo debaixo de chuva, até o final do show.

Não, o show não foi ruim. Paul Stanley, o frontman do KISS (assim mesmo, maiúsculo), é que não estava bem. É a turnê de 40 anos dos caras (42 pra ser exato, já que o primeiro disco foi lançado em 1973). Eles envelheceram e Paul, uma das vozes mais bonitas e potentes do rock, também. Mas eram os caras que eu aprendi a admirar desde adolescente no quintal da minha casa. Por isso eu viajei 400 km de São Paulo, onde vivo hoje, até minha cidade natal para vê-los. Com a alegria que o Bono tem quando chego em casa após um dia de trabalho.

Confesso que me incomodei um pouco – como quando entro na sala e tem xixi fora do lugar – ao ouvir Detroit Rock City, Creatures of The Night e Psycho Circus com Paul rouco e deixando a canção pra galera. Mas era o meu cachor… digo, minha banda predileta, e relevei. Eles estavam ali. E fizeram aquele show de sempre, com pirotecnia, gente voando e rock honesto. Quando Gene (Gene, não Bono) assumiu os vocais em Calling Dr. Love, I Love It Loud e War Machine, Paul teve um descanso e a rotação do KISS voltou a ser a do KISS.

A essa altura, já embriagado de chuva – ok, talvez umas cervejas também – o show já era o que sempre se anunciou: A banda mais quente do Mundo. Em Love Gun Paul Stanley até voltou a cantar como sabemos que ele pode; em God of Thunder Gene voou e levou a galera ao delírio. Em Black Diamond foi a vez de Eric Singer justificar o sobrenome – não que ele ou Tommy Thayer precisem justificar algo, ainda que as maquiagens sempre vão nos lembrar Peter Criss e Ace Frehley.

O show não foi espetacular. A chuva castigou o público, mas Paul disse Curitiba, quero me molhar com vocês, e passou. Porém, sem voz, cantou Hide Your Heart em tom grave e em nenhuma música gritou isso alto como a outra canção propõe.

Mas eles vieram pra Curitiba, com direito a abertura do Motorocker, ex-melhor AC/DC cover do Mundo, atual banda-com-música-própria-mais-legal-do-Brasil, que arrebentou na abertura, criou boa expectativa para o Rock in Rio, e me fez lembrar com orgulho dos tempos em que toma um ou dois refrescos com o Marcellus na feirinha do Shopping Água Verde. E ao me jogarem uns 20 anos no passado, me dei conta de algo.

De que eles envelheceram, mas ainda me alegram. Como o meu cachorro, que já não é um filhote, mas ainda me dá muita alegria, sendo Bono ou Gene ou Paul. E não me importa quanto tempo passar: quando ele estiver bem velhinho, e já não alcançar mais os agudos dos anos 80 ou mesmo a bolinha que eu jogar, continuarei gostando muito dele, como aquele velho amigo que sempre me acompanhou.

Napoleão de Almeida é jornalista, ex-vocalista de uma banda de Kiss cover e fã de um certo cachorro