Presidentes falaram sobre o turfe brasileiro

Na última segunda-feira aconteceu o primeiro Congresso de Turfe Brasileiro. A iniciativa tinha como propósito debater a atividade turfística e acima de tudo pregar a união por um esporte mais forte no país. 

E um fato deixou claro que este caminho é extremamente possível. Pela primeira vez em muitos anos tivemos em uma mesma bancada respondendo perguntas ao público os presidentes dos quatro maiores Jockeys Clubs do Brasil e ainda o presidente da Associação Brasileira dos Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida – ABCPCC. 

Antonio Quintella, Luiz Alfredo Taunay, José Vecchio, Roberto Belina e Benjamin Steinbruch falaram a respeito da situação de seus clubes para os mais de cem presentes ao seminário e outros tantos que acompanharam a transmissão ao vivo. Muitas verdades foram ditas e a situação de cada clube foi exposta, deixando claro que existe a possibilidade de uma coalisão total entre estas frentes. 

Vecchio e a recuperação do Hipódromo do Cristal: 

O primeiro a falar foi José Vecchio Filho, presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul. Com austeridade e muit simpatia, o presidente gaúcho deixou claro algumas posições e situações importantes em relação ao JCRGS. 

A primeira delas foi a respeito de sua gestão e o pagamento de dívidas antigas. Vecchio relatou como foi entregue o caixa, o quanto o clube vem trabalhando para pagar o REFIS e outras dívidas antigas. 

Explicou a razão do JCRGS trabalhar com duas pedras, a do simulcasting com a Gávea e a do simulcasting com Cidade Jardim. Segundo ele, o clube tem uma dívida de gratidão herdada de gestões antigas e quer fazer de tudo para ajudar o clube paulista. 

Também se mostrou favorável a uma pedra única, desde que o hipódromo realizador das carreiras fique com o volume de apostas e pague a comissão às agências dos outros hipódromos. Para Vecchio “não é justo o clube ter todo o ônus da realização da reunião e receber de outras praças apenas 7 ou 8 % e comissão sobre o que foi jogado”. 

Belina e a gestão centrada do JCPR:

Após ele foi a vez do presidente Roberto Belina, do Jockey Club do Paraná. Belina fez questão de lembrar de todos os desafios que a gestão Paulo Pelanda, da qual ele e sua atual diretoria fizeram parte, em conseguir recuperar a carta patente em definitivo. 

Este discurso terminou com o conselho para os outros clubes para que “não deixem isso acontecer com eles, pois para reverter a situação é muito difícil”. Belina também falou de como está sendo feito o turfe no Paraná. 

Para Belina a conta é simples: “Com entradas de cerca de R$ 500 mil mensais, o JCPR está pagando contas, dívidas herdadas de outras gestões e funcionários em dia e, com o restante, promovendo reuniões quinzenais”. Existe uma ótima perspectiva futura para aumento de prêmios e de reuniões mensais, desde que com caixa para isso.

Steinbruch e uma palavra animadora para o turfe paulista:

Benjamin Steinbruch foi a grande surpresa – positiva – do congresso. Com uma situação dificílima, ir ao evento e “abrir a caixa preta” do Jockey Club de São Paulo realmente foi admirável. 

Ele começou contando como foi sua eleição, uma vez que nunca havia se envolvido em outras gestões. Chegou para tentar salvar o clube, no entanto, não imaginava “nem em seus piores pensamentos” o quão endividado estava o JCSP.

Para se ter uma ideia, a gestão anterior – segundo ele relatou – demitiu cerca de 242 funcionários e não pagou os direitos trabalhistas. Só dos processos que já foram julgados e estão em fase de execução geram uma dívida de R$ 15 milhões, gerando ao todo – entre os ainda não julgados – R$ 30 milhões. 

São mais R$ 20 milhões em dívidas com proprietários e outros R$ 250 milhões – estes sub-júdice – com a prefeitura de São Paulo. O presidente Steinbruch ainda relatou cerca de mais R$ 50 milhões em dívidas diversas. 

Ele não quis culpar gestões anteriores, acredita que o Jockey Club de São Paulo está nesta situação pela “falta de um norte nos últmos 20 ou 30 anos”. Relatou que toda a receita que entra no clube é penhorada para pagar as dívidas trabalhistas e o clube hoje não tem receita quantitativa. 

Assim fica “engessado” em relação aos funcionários atuais. O que entra fica para os antigos funcionários. E como o Jockey se encontra em “regime de greve”, ele não consegue contratar nem demitir ninguém, sofrendo com as ameaças de greve. Ele acredita que em um curto espaço de tempo esta situação será resolvida, mesmo porque o clube tem receitas que podem liquidar até o fim do ano esta dívida trabalhista (explicado mais abaixo).

No entanto, Benjamin deixou claro que – mesmo nunca em sua vida como gestor tendo visto situação tão alarmante – o JCSP tem solução e sua equipe está lá para isso. Disse que ao contrário de outras gestões não vai liquidar patrimônio para pagar as contas, como foi feito anteriormente com a Chácara do Ferreira e o prédio do Centro. 

Como “notícias boas” ele repassou dívidas que a cidade de São Paulo tem com o Jockey. Dos R$ 250 milhões citados acima como dívidas, R$ 100 milhões já estão julgados e transitados em favor do JCSP (a dívida não existe mais). Outros R$ 100 milhões desta dívida são de ISS, que também está ajuizada e “não cabe” ainda como uma dívida computada. Dos R$ 50 milhões que sobram, R$ 8 milhões são uma dívida real e os outros R$ 42 milhões em discussão na justiça, que também ainda não pode ser cobrada. 

Entre as boas notícias uma é espetacular. Existe um projeto adiantado para que no Centro de Treinamento de Campinas seja instalado – sem liquidar o patrimônio – um centro de logística para o Aeroporto de Viracopos. Com isso o clube pode levantar em um curto espaço de tempo R$ 150 milhões. 

O Jockey de São Paulo também tem cerca de R$ 200 milhões em Títulos de Potencial Construtivo, referentes a um tombamento. O clube pode colocar 10% para venda ao ano gerando mais R$ 20 milhões em receitas. 

A prefeitura de São Paulo deve R$ 30 milhões em precatórios referentes a uma desapropriação de 30 anos atrás. O Jockey entrou no programa “fast track”, diminuindo o valor em 30% para receber mais rápido. O valor já foi pago, mas o clube não consegue receber. Isso deve ser resolvido em um curto espaço de tempo desde que turfistas que são juristas ou advogados se envolvam.  

Por fim, mais duas notícias que dão algum alento para quem realmente torce para que as corridas em Cidade Jardim continuem. A primeira é que o Jockey negocia a possibilidade de um cessão de espaço dentro de uma área do clube – semelhante ao que salvou o Jockey Club do Paraná – para um empreendimento grande e que pode render um valor substancial.

E a segunda, esta sim imediata, é que Cidade Jardim deve aumentar o prêmio pago antecipadamente para cerca de R$ 4.500,00 nos mesmos moldes do que é feito hoje com os R$ 3.000,00. O presidente deixou claro que “isto parece até uma gorjeta, mas está sendo muito difícil de fazer devido aos problemas citados”. Para ele, muito mais que o valor “irrisório” este é um gesto de demonstração de boa vontade para com os proprietários. 

Encerrou seu discurso mostrando fé de que o clube estará em uma situação muito melhor ao fim do ano. Também deixou claro que está unido com os outros presidentes para fortalecer o turfe através de suas influências políticas. 

*Assista o Seminário completo (Presidentes a partir da 7h30min)

Quintella e o crescimento na criação: 

O presidente da ABCPCC, Antonio Quintella, comemorou os avanços de tecnologia no Stud Book Brasileiro. Melhorando o sistema das plataformas para busca e informações, a utilização de micro chips de identificação e outras modernidades técnicas, sem aumento da emulação para os sócios.

Quintella enalteceu a aproximação com os criadores e proprietários de animais direcionados à cancha reta. Fez questão de deixar claro a importância deste segmento para a criação do cavalo PSI no país. Agradeceu Chico Ávila e a Associação Brasileira de Cancha Reta pela associação à ABCPCC. 

O presidente Quintella também lembrou que “o turfe está crescendo”. Provou em números que nos últimos anos a criação de cavalos PSI de corrida estão aumentando e fez questão de agradecer o engajamento dos criadores nacionais. 

Por fim, falou a respeito do Festival da ABCPCC deste e dos próximos anos. Confirmou que em agosto o festival será em São Paulo, também anuncindo que em 2021 o Festival da ABCPCC contará com mais três provas, totalizando sete.

Antonio Quintella fez questão de declarar apoio incondicional ao Jockey Club de São Paulo, deixando claro – e até indagando os presentes – sobre a importância do hipódromo paulistano para um turfe nacional mais forte. 

Taunay e a gestão carioca: 

Como anfitrião, coube ao presidente Luiz Alfredo Taunay encerrar este encontro espetacular que a organizão do Congresso de Turfe Brasileiro proporcionou aos presentes e a quem quis acompanhar com transmissão ao vivo pela TV Leilão. 

O mandatário carioca começou falando a respeito do seu modelo de gestão, que está conseguindo aumentar gradativamente o caixa do clube. Ele assumiu o Jockey Club Brasileiro com um caixa de R$ 5 milhões e hoje, segundo relato está em R$ 25 milhões. 

Como estratégia houve o corte de gastos não só no hipódromo, como também na estrutura do clube. O quadro associativo do JCB está fazendo a diferença e viabilizando o turfe, além de espaços que estão sendo comercializados em regime de locação, que geram uma renda importante. 

Taunay falou a respeito da importância da união entre os clubes. Exemplificou com um fato ocorrido, no qual o presidente Roberto Belina o ajudou através da interlocução com senadores paranaenses para o bem do turfe. Mostrou estar alinhado com o JCPR, com o JCRGS e pretende estreitar ainda mais os laços com São Paulo.

Terminou sua participação falando – como não poderia ser diferente – sobre o término da parceria com a PMU. Explicou que foi um corte da empresa através da matriz francesa em diversos países, lamentando o ocorrido. Tanto a PMU quando o JCB estão trabalhando incessantemente para uma melhor transição. 

As corridas estrangeiras continuarão a ser transmitidas para o Brasil com apostas. Resta agora saber se a PMU – através da PMU Brasil – vai continuar ajudando na gestão das mesmas ou se tudo ficará a cargo do clube. Sobre encontros com outras empresas de apostas do mesmo porte, disse estar aberto a contatos e de olho no mercado.