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Abrindo o Facebook, rede social escolhida pela grande maioria dos brasileiros, não é difícil encontrar posts de treinadores e jóqueis reclamando da inércia do Jockey Club Brasileiro perante a crise do novo coronavírus. 

Desde os treinadores que mantém cocheiras no hípódromo, até os que atuam nos centros de treinamento, a leitura é a mesma: “estamos perdendo cavalos para outras praças”. 

Se olharmos para os profissionais a situação é ainda pior. Sem espaço no turfe paulista, que protege seus profissionais e começa a dar preferência a animais que estão alojados na Vila Hípica de Cidade Jardim, alguns começam a “rapar” o “pé de meia” enquanto assistem uma postura de falta de liderança no hípodromo. 

Liderança sim, porque no momento mais difícil dos últimos anos do turfe carioca, a direção do Jockey Club Brasileiro não tomou nenhuma medida para dar alento aos profissionais. A única resposta ao Covid-19 foi cancelar um conjunto de reuniões e fechar o clube. De resto, nada foi feito. 

No Hipódromo do Cristal não teremos corridas também. Contudo, a direção do clube, após receber uma visita inesperada de fiscais querendo parar as atividades, decidiu por subsidiar um adiantamento de prêmio de um salário mínimo por mês. 

Quando as corridas voltarem, os profissionais que solicitarem a ajuda pagarão com descontos de 20% de suas comissões. Mais humanitário que isso, impossível. Porém, o que mais chama a atenção é a diferença de caixa do Jockey Club do Rio Grande do Sul para o Jockey Club Brasileiro. 

No Hipódromo do Tarumã, uma reunião esta agendada para amanhã e, segundo fontes, caso não consigam dar as corridas no dia 09 de abril, uma atitude semelhante a do Cristal deve ser tomada. Afinal, não podemos deixar que profissionais passem necessidades. O Jockey Club do Paraná tem um caixa estremamente menor que o do Jockey Club Brasileiro. 

Cidade Jardim está dando corridas, justamente por não possuir um caixa para parar tudo. Inclusive, trabalha com chamadas diferentes que privilegiarão animais alojados lá. As corridas são para fomentar proprietários e profissionais que estão em São Paulo, então não existe “boa vontade” de “salvar” outras praças. 

O que é justo. Pois o Jockey Club de São Paulo até “ontem” estava “quebrado” e era objeto de chacota de outros dirigentes. Inclusive o próprio presidente do Jockey Club Brasileiro falou em um congresso que “dar corridas sem pagar prêmios era fácil”. Na época, Cidade Jardim e Cristal, que hoje são os melhores exemplos do Brasil nesta crise estavam com prêmios em atraso. 

E agora que vem o mais absurdo. Se você for olhar o balanço do Jockey Club Brasileiro, publicado no site do clube e que responde pelo caixa da entidade até o dia 31 de dezembro de 2019, o valor de superávit do exercício (lucro) foi de R$ 3.645.483,00. Isso mesmo, sem contar com o patrimônio e receitas de outros anos, só em 2019 o Jockey Club Brasileiro acumulou milhões de reais. 

Isso quer dizer que dinheiro não falta para dar corridas ou auxiliar os profissionais. O que não está acontecendo. Até o Governo Federal, que até uma semana negava a existência de uma pandemia, nesta semana – por pressão dos parlamentares – aprovou uma ajuda para os autônomos e informais. Exatamente na classe que estão treinadores, galopadores e jóqueis da Gávea. 

Entretanto, mesmo “sentados” em mihões de reais, a Direção do JCB não se manifesta para dar corridas ou ajudar os profissionais com um adiantamento. Essa é a situação – um pouco revoltante – do principal hipódromo do Brasil, que transmite provas para a França e Estados Unidos.

Já temos jóquei com mais de mil vitórias na carreira passando necessidades. E isso é inadmissível! A Diretoria do Jockey Club Brasileiro precisa dar uma resposta imediata aos seus profissionais, pois sem eles não existem corridas. E sem corridas, um dos hipódromos mais antigos do Brasil se torna apenas mais um clube na Zona Sul do Rio de Janeiro.