Já deixamos reservado no calendário o final de semana por volta do dia 20 de novembro, quando normalmente é realizada a Maratona de Curitiba. Em 2016 e em 2017, participamos como corredores – em 2016, eu nos 42; em 2017, eu nos 42 e a Fer no revezamento dos 21. Em 2018, devido a compromissos profissionais, ficaria inviável correr, mas optamos por tentar ajudar de alguma forma.

(Nota crítica: Tenho reclamações sobre a realização da prova em novembro. Maratona é uma prova que permite melhores desempenhos no frio, algo que Curitiba oferece durante boa parte do ano. Não à toa, em Porto Alegre e Florianópolis, os 42 quilômetros são realizados no outono e inverno – junho e agosto. Por ser o fechamento do calendário de maratonas do Brasil, Curitiba ganha certa relevância no cenário nacional, mas seria interessante ter mais uma prova no frio, especialmente porque daria outra característica e charme ao evento. Fica a sugestão para a prefeitura de Curitiba, que estabelece a data do evento).

No quilômetro 26, montamos uma mesa, com balas de goma, de coco, de banana, de café, chocolates para os participantes, além de uma caixinha de som com muito rock’n’roll. Foi muito legal participar de uma forma diferente, dando apoio, aplaudindo, gritando o nome de conhecidos e de desconhecidos. Me chamou a atenção o fato de muitos corredores pedirem água, especialmente por nossa mesa de doces estar logo após um posto oficial de hidratação, mas achei que poderia ser apenas o desgaste natural da prova. Como retribuição a essa força, nós recebemos sorrisos e resolvemos estender um pouco mais a ajuda.

Por volta das 10h40, eu saí de bicicleta e cumpri os últimos 16 quilômetros da prova apoiando os participantes, enquanto a Fer continuou correndo por trechos da prova, dando uma força para a galera. É muito gratificante ver que palavras de apoio e incentivo ajudam os corredores em momentos tensos da prova, como as subidas da Marechal Floriano Peixoto. Posso afirmar que 99% das pessoas erguiam a cabeça e pareciam mais motivadas na luta psicológica que os 42 quilômetros impõem a qualquer um.

Nesse percurso de 16 quilômetros, pude encontrar amigos, conhecidos e desconhecidos e despejar um pouco da energia que ficou guardada por não participar da prova em forma de apoio. Independentemente do tempo que cada um faz, continuo respeitando igualmente quem faz os 42 quilômetros, pois exige esforço, resiliência e muita coragem! Esperamos, de coração, ter ajudado de alguma maneira!

Um ponto positivo foi o fato de não ter encontrado nenhum motorista buzinando nos pontos de bloqueio para o trânsito – embora eu não tenha rodado na parte mais complicada para o tráfego de veículos, que é a rápida sentido Pinheirinho. Inclusive em trechos nos quais os carros circulavam pelo sentido inverso, vi muitos motoristas buzinando como apoio. Foi muito legal! A expectativa é de desenvolver uma cultura de incentivo ao esporte na cidade.

Reclamações

Ainda empolgados por aquilo que vimos nas ruas, fomos acompanhar os relatos dos corredores sobre a Maratona de Curitiba de 2018. Na página oficial do evento no Facebook, vimos uma série de reclamações a respeito da entrega de kits e, principalmente, sobre a falta de hidratação, tanto na prova de 5 quilômetros (na qual não havia um posto sequer) e nos 42 quilômetros, com relatos de que os corredores mais lentos ficaram sem água por mais de 10 quilômetros. Além disso, boa parte dos corredores também relatou que a água estava quente.

No meu trajeto de bicicleta, até pela empolgação e o objetivo de apoiar as pessoas, não percebi muitas reclamações a esse respeito, embora alguns corredores tenham me pedido água – o que não tive a preocupação em carregar. Mas também não tomamos nenhuma água dos postos de hidratação para saber se estavam quentes, afinal de contas elas são destinadas aos corredores. Nesta quarta-feira (21), o canal Corrida no Ar disponibilizou um vídeo, repercutindo essas críticas. O link está aqui.

Como maratonista, fico triste por ver falta de hidratação em uma prova que expõe pessoas ao seu limite – e que a água deveria ser item básico. Se faltasse isotônico, por exemplo, seria menos importante, embora pense que, se a organização informou sobre os postos e que “inovou” na hidratação, cada atleta planeja sua estratégia levando isso em consideração. Há diferentes tipos de erros na organização de corrida de rua, e a falta de água é algo que não pode ser tolerado.

O blog entrou em contato com a Elite Eventos Esportivos, organizadora da Maratona neste ano e em 2019, que enviou uma nota sobre o assunto:

“Com certeza, uma falha MUITO [Nota da redação: o destaque é da própria Elite] grave [a falta de hidratação], já conversamos com os coordenadores de percurso dos trechos e identificamos os erros e asseguramos que o mesmo não irá repetir-se novamente. Tivemos vários problemas de atletas com números duplicados, ciclistas apoio consumindo a hidratação e atletas dos 21k revezamento seguindo para o solo. Já estamos elencando soluções para que tais fatos não ocorram ano que vem e verificando meios de fazer verificação vídeo nos pontos de hidratação para logo que a água em um ponto esteja acabando possa ser enviado de imediato novas remessas. Estamos nos colocando à disposição de todos os atletas prejudicados pelo [email protected] para conversarmos individualmente com cada atleta para levantar um meio específico para cada um para minimizar os danos causados”.

Obviamente, quem ficou sem kit premium pode ter seu problema reparado, mas e aqueles que tiveram a prova comprometida depois de meses de treino? A esperança é que tanto a Elite Eventos Esportivos quanto a prefeitura de Curitiba – que tem o dever de fiscalizar o evento – tenham mais cuidado e atenção na edição de 2019.

Edição pós-publicação: A prefeitura de Curitiba enviou uma nota a respeito das ocorrências na Maratona de Curitiba. "A Secretaria do Esporte, Lazer e Juventude (Smelj) vai fazer uma reunião de avaliação da Maratona de Curitiba, 2018, na próxima semana. Representantes da Urbs e Setran também vão participar. Falhas ou problemas que tenham ocorrido serão cobrados da empresa responsável pela Maratona, para que os erros não se repitam".

Crédito da Foto: Washington Ikeda/Minoru Fotografias