Deixe o corpo evoluir e aprenda a curtir os treinos e a sensação de bem-estar causada pela corrida

Há uma reclamação constante de muitos corredores nas redes sociais sobre a dificuldade para treinar sem um calendário de provas definido. Os atrasos e cancelamentos de provas tornam bem mais complicado se imaginar cruzando a linha de chegada naquele momento difícil do treino ou no dia em que as coisas parecem mais duras do que costumam ser.

Para muitos – grupo no qual me incluo –, é mais fácil se motivar tendo uma prova-alvo no futuro para atingir um objetivo. E o propósito de cada um pode ser variado: terminar a primeira prova de rua; seu melhor tempo ou finalizar bem provas de 5 ou 10 quilômetros; concluir a primeira meia maratona ou maratona ou atingir marcas como sub1h30/sub2 (nos 21 kms), sub3 e sub4 (nos 42 kms), entre outras.

Apesar de me incluir no grupo que gosta de treinar com um objetivo, descobri nos últimos três anos que sou um apaixonado pelo processo em si. Para mim, ao conseguir treinar de forma adequada ao longo do período, há uma grande chance de se atingir o objetivo estabelecido – ou de chegar muito perto, desde que as metas sejam plausíveis.

Há variáveis incontroláveis no dia da prova: clima (muito calor ou muito vento podem atrapalhar); umidade do ar (muito alta ou muito baixa são adversárias duras); chuva; a sua condição (por melhor que seja o seu treino, há dias e dias). Ou seja, o fato de não atingir o objetivo não inviabiliza o processo de melhora obtido durante o período.

Motive-se sem provas

Compartilho um relato pessoal. Há alguns anos, reduzi o número de provas em que participo por um motivo específico: quanto mais provas participamos, mais difícil fica para treinar.

O raciocínio parece esquisito, mas explico: gosto de ir para uma prova para fazer o melhor. Dessa forma, a semana anterior e a posterior têm menos intensidade e volume de treinos, visando, respectivamente, a preparação e a recuperação.

Em outras palavras, um atleta que corre uma prova (no limite) a cada 15 dias praticamente não treina da forma mais adequada, pois está sempre se expondo a um limiar de força em prazos muito curtos, sem dar chance de o corpo, de fato, melhorar.

Para aperfeiçoar o rendimento, o corpo precisa de tempo e constância. Sem a definição de um calendário, o corredor pode usar esse período para focar na melhoria de valências que, por vezes, ficam em um segundo plano: mobilidade, força, mais velocidade, dificuldade em subidas e etc.

Ao usar a quarentena dessa forma, dando espaço e pensando em evoluir sem ter uma prova específica, você estará mais preparado para quando as provas de rua voltarem. E se você sente necessidade de ter uma prova ou uma data pré-determinada para se testar, por que não aproveitar uma corrida virtual – o que também vai ajudar as empresas do ramo?

Um apelo

Por último, um apelo: muitos países – mesmo nos momentos mais rigorosos do isolamento social – não impediram a realização de atividades físicas. Sou um defensor disso: ter a sua hora de exercícios diários ao ar livre contribui demais para encarar a quarentena. Mas é importante respeitar as recomendações dos órgãos de saúde: usar a máscara, procurar correr de forma isolada e não treinar em grupo (exceto se for com as pessoas da sua própria casa). Não é difícil, né?