André Molina

Desde que membros da formação clássica do Helloween retornaram ao grupo para fazer a turnê “Pumpkins United World Tour”, que os fãs de todo o mundo aguardavam a possibilidade do lançamento de um novo álbum. Em 2021, o desejo se tornou realidade e o lendário grupo do heavy metal alemão colocou no mercado o disco autointitulado “Helloween”, com Michael Kiske, Andi Deris e Kai Hansen, atualmente dividindo os vocais, pela primeira vez em quase 30 anos de trajetória da banda.

A recepção não poderia ser outra. Desde junho, o trabalho já é celebrado como um dos principais lançamentos do gênero no ano. E animado para falar da nova formação, que uniu os músicos atuais, com antigos parceiros, o baixista e integrante da formação clássica, Markus Grosskopf, concedeu com exclusividade a seguinte entrevista:

Quase todas as músicas do novo álbum têm apenas um compositor e todas as músicas se completam perfeitamente, como foi feita a divisão na composição?

Markus: Não sei muito bem. Todo mundo que deu alguma ideia ou colocou algo na música que também está no álbum, foi mencionado como co-compositor [NOTA: apenas “Best Time” consta com dois autores: Andi e Sascha]. Se há alguém com ótimas ideias para a música e coisas como essas, sabe, nós só compartilhamos.

Todas as composições foram feitas antes da pandemia, certo?
Sim, sim. Começamos a trabalhar em estúdio logo antes disto começar. Portanto, pelo menos tivemos tempo de ficarmos juntos no estúdio por um mês inteiro, ou cinco semanas, pra fazer os arranjos, algumas demos e mexer com os arranjos e tudo mais, sabe? Isso foi legal, mas depois de umas quatro ou cinco semanas, a pandemia ficou tão cruel que não pudemos mais trabalhar juntos, não tínhamos permissão para voltar ao estúdio. Eram cerca de 10 pessoas, incluindo produtores e técnicos e tudo mais, então tivemos que nos separar e trabalhar em estúdios diferentes, o que já fizemos antes. Isso não foi uma novidade para nós. Então, Kai e eu trabalhamos em Hamburgo com Dennis Ward fazendo o baixo, algumas guitarras, e coisas assim, enquanto os outros estavam fazendo a parte de bateria em outro lugar, e o vocal foi feito na ilha de Tenerife, e algumas guitarras foram gravadas em Berlim. Foi bastante dividindo, e por isto ficamos enviando os arquivos uns para os outros.

Ah, certo…
Eu já vi isso antes, na verdade, está dando certo [risos]

Então não há uma grande diferença em gravar como um quinteto ou com sete integrantes, certo?
Bem, o arranjo foi muito diferente porque havia mais duas pessoas trazendo ideias para você o tempo todo, sabe como somos cabeças muito criativas, várias ideias surgem enquanto você está fazendo a música ou enquanto os arranjos são feitos. Levou um tempo para reunir tudo isso e escolher entre todas as ideias, porque muitas coisas são jogadas na sua cabeça, até ela explodir, no final das contas, foi muito trabalho, mas acho que o resultado valeu a pena.

Você escreveu a faixa “Indestructible”. Qual foi a sua inspiração para a letra dessa música?
Quando fizemos a turnê, tive esse sentimento para mim por que… Com os dois novos caras chegando, dois novos velhos caras, voltando para fazer os shows, havia tanta energia no palco, sabe, e nós também jogamos essa energia para o público, e o feedback foi incrível. A energia que recebemos do público foi grandiosa, e pensamos: “Meu Deus, isso é algo muito, muito especial”, e com os dois caras voltando… Cara, a gente nunca desistiu! Mesmo sem eles, e agora com eles novamente, faz eu me sentir meio que indestrutível, sabe. E essa foi a minha inspiração, então nem mesmo uma pandemia pode nos deter quando voltarmos em turnê.

Algo que chama a atenção é que não há baladas nesse novo álbum. Vocês escreveram alguma balada que não entrou no disco?
Sim, nós tínhamos uma balada, mas depois da mixagem decidimos não colocá-la no álbum, porque tínhamos diferentes ideias depois de feito, quando era tarde demais para usá-las, e não iríamos lançar uma música que não estava pronta, sabe… Nós só a seguramos e queremos trabalhar nela um pouco mais, talvez para o próximo, e torná-la ainda melhor. Sendo assim, pensamos: Certo, esse disco não vai ter uma balada. Vamos ver o que acontece.

Este álbum tem algumas linhas de baixo que protagonizam a canção, como “Golden Times”, para citar apenas uma. Como foi especificamente o processo de gravação do baixo? As gravações foram feitas em fitas analógicas?
A bateria definitivamente foi feita em fitas analógicas, isso é certeza, porque queríamos usar as máquinas antigas para o kit de bateria do Ingo (antigo baterista), que o Dani (atual baterista) usou para obter um pouco daquele espírito do Ingo que tínhamos ao vivo. Queríamos transportar isso para o estúdio, então usamos máquinas muito antigas, como gravadores analógicos, duas delas no mesmo estúdio onde Ingo tocou alguns discos conosco, e isso foi muito legal. Eu não sei como os outros foram gravados, eles fizeram suas gravações em Tenerife, Berlim ou sei lá onde eles fizeram. É como uma mescla de coisas analógicas com as coisas digitais. Isso dá uma sensação interessante, muito quente, eu acho.

E como vocês recuperaram a bateria antiga do Ingo? Como vocês acharam?
Alguém conhecia um cara que a estava comprando na época, e então perguntamos para ele se poderíamos usá-la no estúdio, e ele disse: ‘sim, por que não?’. Estamos orgulhosos por ter esta bateria de volta. Isso foi fácil [risos]. Dani se inspirou por isso também.

Podemos notar isto no álbum, ele está tocando melhor que nunca, trazendo este feeling do Ingo de volta.
Sim, isso que ele nos disse, que estava tentando dar um pouco daquele espírito em sua maneira de tocar, porque ele adorava o Ingo e o jeito que ele tocava. Ele não tentou tocar como ele, mas ter um pouco daquele espírito no desempenho.

Falando sobre os shows da turnê Pumpkins United, que tiveram a duração de quase três horas. Para a próxima turnê, vocês já conversaram sobre a seleção das músicas?
Um pouco, mas é um tema muito difícil, temos que sentar juntos e conversar um pouco mais sobre isso, pois temos um monte de músicas, como você pode imaginar. Também queremos tocar “Skyfall” e temos tantas outras músicas que são muito, muito longas. Você não pode gastar uma hora de show apenas tocando quatro músicas ou algo assim, você precisa tocar coisas diferentes. Então, estamos pensando o que podemos fazer sobre isso [risos]. E isso não vai ser fácil [risos]. Quanto mais músicas você tem, mais difícil para montar um set list, sabe.

O Helloween vai resgatar algumas músicas antigas que raramente, ou nunca, são tocadas. Por exemplo, “Midnight Sun” nunca foi tocada ao vivo e a música é maravilhosa, ou “The time of the Oath” que há 20 anos não está no set list.
É por isso que temos que sentar e escrever músicas que gostaríamos de tocar. Achamos que as pessoas gostariam de ouvir músicas antigas que realmente nunca tocamos. Vai ser uma luta difícil, eu acho, porque todo mundo tem ideias diferentes, sabe, que podem ser engraçadas, que naquele dia eu estou com medo [risos].

O novo álbum se chama Helloween e é o mesmo nome do primeiro EP que vocês lançaram em 1985. Qual o significado desse nome? É algo que simboliza um novo começo para a banda ou algo assim? Sim, algo assim. É um renascimento. Sentimos que renascemos com os dois novos caras e o círculo está se fechando aqui. Não precisamos de nada além de “Helloween”, porque sentimos assim: este é o Helloween, não precisa de mais nada. Tivemos algumas ideias como Skyfall, que na verdade era para ser a faixa-título. Tínhamos ideias como… “Helloween’s Skyfall something blah blah blah”, ou algo assim. Mas no final pensamos: não precisa de mais nada além de Helloween. E sabemos que já usamos esse nome antes e outras bandas fizeram algo similar. Não reinventamos a roda ou algo assim, apenas sentimos que era a coisa certa.

O Helloween tocou pela última vez no Brasil em 2019, Florianópolis e Rio de Janeiro. Vocês tocaram com o Scorpions. Como foi dividir o palco com essa lendária banda alemã? Foi legal, foram vários shows, eu assisti o Scorpions e o Judas Priest. Isso é ótimo. As pessoas pensam que nós saímos juntos o tempo todo porque somos duas bandas alemãs, mas a verdade é que nós mal nos vemos porque eles sempre estão em turnê e nós estamos em turnê. Desta forma, nunca conseguimos nos ver direito, mas dizer olá e assistir seus shows foi ótimo. O álbum Tokyo Tapes foi um dos meus primeiros de rock, sendo assim, eu gosto muito desta banda e o que eles fizeram, de abrir o mercado japonês para o rock. Fiquei muito orgulhoso de fazer parte desta turnê com o Scorpions. Além disto, tínhamos David Coverdale e seu Whitesnake naquela turnê também. Foi ótimo ver esses camaradas ainda tocando muito bem, eu adorei.

Você acha que o Helloween angariou novos fãs com esta turnê?
Espero que sim, talvez até novos fãs antigos, pois alguns me disseram que não gostaram tanto de um ou outro álbum, e que agora estão novamente acompanhando o Helloween. Também há muitos jovens indo aos shows, eu sei por que quando saio, alguns pais chegam me apresentando seus filhos e dizem que eles começaram há mais de 30 anos indo aos shows do Helloween e que continuam seguindo o Helloween desde então. E então, de repente, eles trazem seus filhos de 16, 17, 18 anos para os shows. Eu gosto de unir gerações.

Colaboração e foto: Clovis Roman