Gosto muito daquela frase que o jornalista esportivo Milton Neves diz sempre: O futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes.
Com a política brasileiro em ebulição – presidente afastada, processo de impeachment, delações premiadas e aprovação do relatório que recomenda a cassação do deputado Eduardo Cunha – é o futebol quem rouba a cena. Que se lasque a turma de Brasília. Não importa se a Dilma Rousseff vai cair, desde que o Dunga caia (e caiu). Só falta agora cair a tomada de três pinos, mas essa vai ser difícil.
Para todos os torcedores brasileiros, a semana começa renovada. A eliminação da seleção da Copa América não gerou tristeza, mas sim revolta. As mudanças no comando técnico devem acalmar um pouco os brasileiros. E os paranistas, como ficam?
Testemunhamos nos bastidores da Vila Capanema um momento histórico. A acachapante derrota para o Náutico no último sábado (5 a 1 para os pernambucanos) tinha obrigatoriamente que deixar lições e gerar reflexões para eventuais mudanças. O que quase ninguém esperava era a magnitude que as mudanças anunciadas teriam.
Seguindo orientação (para não dizer determinação) do maior benfeitor paranista, Carlos Werner, e seus conselheiros, o presidente Leonardo Oliveira determinou as demissões do técnico Claudinei Oliveira e seus auxiliares e Beto Amorim (gerente de futebol), além do afastamento do diretor de futebol Durval de Lara Ribeiro, o conhecido Vavá.
Respeito muito a posição da diretoria paranista. Sou um costumeiro crítico da passividade dos nossos dirigentes diante de erros acumulados ao longo de uma temporada, mas nem por isso tenho que concordar integramente com ela. Primeiro porque discordo frontalmente da demissão de Claudinei Oliveira. Podia iniciar minha defesa dizendo que o Tricolor dificilmente vai achar alguém com a competência de Claudinei pelo preço que ele vale, mas isso seria faltar com respeito ao treinador. Ele é o menos culpado.
No início de seus trabalhos, seguindo certamente orientação do departamento de futebol, Claudinei foi claro: nosso foco é a Série B. O que vier no Paranaense é lucro. A montagem do elenco foi a toque de caixa, o Claudinei conseguiu montar um time forte e chegou às semifinais do Estadual, perdendo apenas nos pênaltis, após ter várias chances para ganhar no tempo normal, para o time que foi campeão. Ou seja, tudo isso foi o lucro.
No Brasileiro o treinador perdeu vários jogadores, o encaixe demorou um pouco para acontecer, mas o futebol ainda sim era organizado. Era possível entender a dificuldade e projetar a melhora. Mas a goleada para o Náutico abalou muito mais do que o esperado.
É possível que Claudinei tenha sido obrigado a pagar com seu emprego para a mais importante correção de rumos: a troca do comando de futebol. O jeito Vavá de conduzir as coisas não deveria nem possibilitar a sua volta, mas certamente lhe custou o cargo. Truculento em atitudes e palavras, jamais foi unanimidade junto aos torcedores e só resgatou os poderes que teve outrora graças a um discurso de mudança vendido (e defendido por eles) aos revolucionários que mudaram a gestão do clube no ano passado.
Agora já era. Por sorte (ou estratégia) há um ou dois nomes no mercado que me parecem aptos a assumir a bronca como treinador. Não sei, de fato, se terão o sucesso que imaginei para o Paraná de Claudinei, mas torço para que sim.
Meu incorrigível lado otimista me conduz a acreditar que uma mudança como essa, atípica em termos de província, possa representar uma correção de rumo estratégica da diretoria. Uma chacoalhada decisiva que leve o clube ao profissionalismo administrativo tão desejado – algo inviável se Vavá continuasse a dar as cartas.
Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.