Dentro da minha concepção de mundo, é impossível alguém gostar de ser odiado. Embora aceite que em algum lugar isso exista, não acho que alguém faça disso um tipo de hobby ou que tome atitudes que possam nutrir um sentimento tão ruim pelo prazer de se sentir odiado.

Isto posto, volta e meia me faço a mesma pergunta: seria Mario Celso Petraglia um gênio incompreendido ou um completo chupeta da cabeça? Sempre tive essa dúvida e nenhum argumento dos que ouvi e conclui foi forte o suficiente para me convencer a abraçar um dos lados totalmente.

A pergunta é válida até para seus mais fiéis seguidores. Duvido que, depois de mais de 20 anos, os próprios petraglistas não pararam um instante e, coçando aquela barba (real ou imaginária), não se perguntaram: Mas que diabos esse homem quer?.

Uma no cravo, duas na ferradura. E assim Petraglia se perpetua no Atlético. Tem ideias fantásticas, daquelas que tiraram o Atlético da irrelevância no futebol e o levaram a um título do Brasileirão. O Furacão do fantástico CT do Caju e da exuberante Arena, das negociações de jogadores extremamente rentáveis e das medidas inovadoras.

Petraglia criou um Atlético perfeitamente capaz de cativar novos torcedores todos os anos. A sonhada meta de 40 mil sócios, conquista que tornaria o clube autossustentável e com lastro financeiro para poder crescer exponencialmente, poderia ser alcançada com relativa facilidade se o mesmo Petraglia, de vez em quando, não virasse a chavinha da genialidade para o modo Mister Burns.

No momento em que transforma o Atlético em um clube de negócios e esquece o tamanho da paixão de seus torcedores é que a coisa desanda. Venda de jogadores com potencial técnico de entrega imediata, dispensas inexplicáveis sob a desculpa do custo-benefício, contratações de qualidade duvidosas, brigas e medidas polêmicas contra a torcida — organizada ou não —, aluguel do estádio em momentos decisivos e dinheiro.

O mais recente capítulo dessa história foi a transferência do Atletiba da Arena para a Vila Capanema. Sem poder mandar o maior clássico estadual na Arena, já que o local estava com a estrutura montada para o show do tenor Andrea Bocelli, o clube teve que se desdobrar para encontrar uma solução para o problema.

Sem conseguir transferir a data do jogo, viu-se obrigado a pagar o preço pedido pelo Paraná Clube e oferecer aos seus sócios uma acomodação improvisada, sem a capacidade necessária para receber todos eles. No final das contas o Atlético venceu e o estádio não lotou.

Imaginem por um momento: e se o Atlético tivesse perdido o jogo para o maior rival, com torcedores ficando para fora do estádio porque não conseguiram habilitar seus smart cards? Estava feito o rebosteio.

Mas o show trouxe dinheiro extra para o caixa do Atlético, o leitor pensa. Tudo bem, eu respondo, mas o que será feito dessa grana – sabe-se lá qual é o valor?

O Atlético vai conquistar uma vaga na Libertadores, disso tenho poucas dúvidas. Mas, como sempre, podia ser mais suave, sem tanta polêmica.

Eis aqui a solução para que o ódio sazonal ao Petraglia diminua. Se o teimoso presidente atleticano vier a público amanhã para dizer que o Andrea Bocelli propiciou ao Furacão a renovação do contrato do Thiago Heleno, que se danem os cornetas e encham a Arena de shows. Esse é o sonho do torcedor. Dinheiro extra, sim, mas para benefício direto do futebol. Não acréscimos de receitas ao balanço financeiro. Isso é papo de petraglista, não de atleticano.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.