As primeiras conversas para a criação da Primeira Liga deixaram qualquer torcedor paranaense motivado. Um campeonato totalmente novo, atraente, com vários clássicos e jogos entre grandes clubes, divisão de cotas igualitária e possibilidade de minar o poder absurdo e inexplicável da CBF, uma entidade criada para auxiliar os clubes a gerir campeonatos, não para ser a dona do futebol brasileiro.

Fui às primeiras reuniões quando era repórter da rádio 98FM e pude sentir as boas energias que os dirigentes envolvidos emanavam do promissor torneio e, porque não dizer, do embrião de uma nova era do futebol nacional. Conversando e debatendo, os presidentes de clube mostravam que o caminho da independência era o melhor a ser seguido.

A presença de Flamengo e Fluminense causava certa apreensão, pois o torneio ainda era considerado uma Copa Sul-Minas e a inclusão dos cariocas se mostrava apenas uma provocação à Federação do Rio de Janeiro. Como eles estavam brigados por lá, ameaçar a desfiliação e prometer apoio à causa dos outros times soava como um desaforo à Ferj, uma das principais aliadas da CBF.

O que mais animava aos clubes menores, entre eles Coritiba e Atlético – afinal eles só são, de fato, grandes, nas cabeças de seus torcedores: a divisão das cotas. Seguindo o modelo inglês, os clubes repartiriam a maior parte do bolo de maneira igual. Essa simples atitude, que nos nossos sonhos utópicos seria a mais justa das medidas, tornaria a disputa mais franca. Com mais dinheiro, os menores teriam mais chances e os maiores precisariam de mais competência.

Com o passar do tempo e a aparente perda de interesse do mercado pela Primeira Liga, aliada a algumas mudanças políticas feitas da CBF, a coisa desandou. A Rede Globo, sempre ela, foi a única que demonstrou vontade real de transmitir a competição. Essa vontade, aliás, aparentemente segue a mesma cartilha que a TV impõe às suas negociações. Via de regra, ela nem quer transmitir os jogos, mas sim evitar que outros transmitam.

A proposta foi apresentada, os clubes acharam bacaninha e na hora de assinar veio a surpresa (entre aspas mesmo, pois ingênuo foi quem pensou que seria diferente): mais granas para os cariocas. Todo mundo baixou a cabeça e assinou, menos o Atlético.

O Atlético do polêmico e odiado Mário Celso Petraglia foi o único a ter colhão de manter seus princípios. A esmagadora maioria se dobrou, como sempre faz, quando precisa peitar o grande eixo para defender seus interesses. Bovinamente a turma ia comendo como farinha todas as imposições da proposta da Globo, inclusive com a fatia maior para Flamengo e outros grandes, respeitando uma hierarquização semelhante a que existe hoje no rateio da grana do Brasileirão.

Falem o que quiser do Petraglia, como várias vezes eu mesmo falei. Mas tá pra nascer um dirigente que tenha a coragem defender as causas que acredita como ele. O Coritiba mandou seu vice para a reunião, aceitou, se arrependeu e agora quer roer a corda. Nem tudo está perdido, mas a mudança só aconteceu por intercessão do seu presidente, Rogério Bacellar, que tenta corrigir o erro do vice Alceni Guerra.

Mas, frise-se, o erro aconteceu porque Bacellar não estava lá num momento tão importante como esse.

A Primeira Liga poderia ser a salvação dos clubes brasileiros, mas o que começou certo e cheio de esperança, se rendeu ao jeitinho brasileiro das negociatas.

Parabéns, Petraglia, pela posição firme. Acho o senhor um tremendo bocó em várias situações, mas admiro muito sua visão diferenciada nesse rebanho de dirigentes que não manjam nada dessa bagaça chamada futebol/negócio. É praticamente um “boi soberano” do futebol brasileiro.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.