Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro estão chegando ao fim. Tá certo que ainda teremos grandes disputas e tensos embates na briga pelas últimas medalhas, mas o fim iminente das Olimpíadas antecipa uma angústia que só os amantes dos esportes podem sentir. A Rio 2016 deixará marcas inesquecíveis, lembranças que só que curte bolas, bolinhas, raquetes, óculos, arcos, ferraduras, remos, varas, argolas e tantos outros acessórios entenderá.
Meu amigo e também jornalista Ângelo Binder soltou uma frase perfeita para resumir esse sentimento em seu perfil no Facebook: Não me importo se tiver Olimpíada para sempre. Nem eu, meu querido.
Acordar e dormir todos os dias com uma disputa emocionante na telinha é algo incrível. Aliás, nem só na telinha. Dia desses cometi a insanidade de ouvir a prorrogação de Brasil x Argentina, no basquete masculino, pelo rádio. É coisa de louco, não recomendada para cardíacos.
Quantos momentos incríveis nós vivemos?
O ouro de Thiago Braz no salto com vara foi espetacular. Com a frieza e a ousadia de um legítimo campeão, foi além de seus limites. Voou mais alto do que jamais tinha feito (nem em treinos), derrotou e irritou o atual recordista mundial e campeão olímpico, o francês Renaud Lavillenie, e além da medalha de ouro quebrou o recordo olímpico ao superar a baliza com 6,03 metros. Impressionante.
O que dizer da dobradinha da ginástica masculina? O bronze de Arthur Nory premiou a ousadia de quem saiu do lugar comum, deixou a zona de conforto e apostou alto numa manobra mais difícil. O pódio foi o seu prêmio e deu início a uma próspera carreira para um jovem atleta.
Já Diego Hypólito venceu não só uma dezena de competidores. Hypólito venceu toda uma nação de preconceituosos, derrotistas e, porque não dizer, mal amados. Mais do que pressionado pelos seus dois resultados anteriores, em Pequim e Londres – quando caiu no meio de suas apresentações e deixou de conquistar medalhas no auge de sua carreira – o atleta levou para a disputa a vontade de dar um basta a uma cultura de insultos, chacotas e homofobia.
A medalha de prata não foi de ouro por detalhes, mas representou a vitória de um cara que sofreu uma barbaridade, mas soube superar as suas próprias limitações físicas e psicológicas, além de milhões de babacas.
O que dizer então da selfie entre as atletas da Coréia do Sul e Coréia do Norte? E o show da prodígio americana Simone Biles? As caras, bocas e poses do mito Usain Bolt? E as incontáveis medalhas de Michel Monstro Phelps? O ressurgimento do argentino Del Potro? O bronze incrível de Poliana Okimoto? E a prata de Isaquias Queiróz e sua ousada meta de arrebatar outras duas medalhas inéditas para o Brasil? E o time de refugiados e também dos atletas que ganharam as primeiras medalhas de seus países? Histórias de vida incríveis, que só o esporte pode nos proporcionar.
Tudo isso às vésperas das eleições municipais. Munícipios, bairros, vilas, locais onde crianças têm o primeiro contato com o esporte. E também onde surgem as primeiras dificuldades, as primeiras frustrações e argumentos para histórias de superação. Histórias, aliás, que poderiam ser muito mais bonitas e de conquistas, se o poder público investisse de fato na formação dessas crianças como cidadãs e atletas.
Assim, no futuro, teríamos muito mais histórias e medalhas para comentar, comemorar, e recordar.
Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.