O diretor Daniel Augusto contou como chegou ao projeto da cinebiografia de Paulo Coelho e como conversou com o mago sobre o projeto. Daniel diz que é fã das parcerias de Coelho com Raul Seixas e afirma que a obra do escritor ainda não foi devidamente levada a sério pela crítica literária.

Como foi esse projeto e como você conseguiu se aproximar do Paulo Coelho?
Daniel Augusto — Fui convidado pela roteirista e produtora Carolina Kotscho para dirigir o projeto. Eu e ela já havíamos trabalhado juntos na televisão e somos amigos. Faz tempo que eu queria filmar um roteiro dela: nos últimos anos, nós chegamos a conversar sobre mais de uma história. No segundo semestre de 2012, ela me ligou e disse que tinha escrito um roteiro sobre o Paulo Coelho, e que gostaria de convidar-me para dirigir. Eu li o roteiro e gostei muito.

Você fez uma cinebiografia completa dele, ou toma algum aspecto em particular?
Daniel Augusto —  O filme aborda desde a adolescência até 2013, mas faz recortes pontuais nesse período. A ênfase está na fase anterior a ele se tornar um escritor famoso. A relação com Raul Seixas, a internação e os choques elétricos na clínica psiquiátrica, a prisão na ditadura, o encontro com os discípulos de Aleister Crowley, a contracultura, o paraíso e o inferno das drogas, o Caminho de Compostela: há tudo isso e muito mais no filme.

Como você lida com a extraordinária popularidade do Paulo, mesmo em nível mundial, e as restrições que lhe são feitas pela crítica brasileira?
Daniel Augusto —  Para mim, crítica literária é assunto sério, que demanda longo estudo da obra. Salvo engano, não há uma crítica de fôlego da obra do Paulo. Com cerca de 165 milhões de livros vendidos, ele merece um estudo aprofundado.

Você teve contato com ele? O que achou da pessoa?
Daniel Augusto —  Eu pedi para encontrá-lo antes da filmagem. Uma das minhas origens é o documentário e eu preciso do olho no olho. Deveríamos ter uma reunião de duas horas, que se estendeu por mais de dez. Eu sou cinéfilo, ele adora cinema: tínhamos muito que conversar.

Teve completa liberdade para retratá-lo ou ele impôs alguma restrição?
Daniel Augusto —  Não houve nenhum tipo de restrição. O Paulo não participou do filme. Acho uma atitude exemplar para o Brasil, onde há algumas figuras públicas que tentam controlar aqueles que escrevem suas biografias. Um biógrafo tem que ser livre para trabalhar.