Talvez você até reconheça o rosto do diretor John Landis por uma participação ou outra, bem pequena, em algum filme. Se não reconhecer, não se incomode, não é relevante. O que importa, aqui, é o seu trabalho atrás das câmeras. Filmes como O Clube dos Cafajestes (1978), Os irmãos Cara de Pau (1980), Um Lobisomem Americano em Londres (1981) se tornaram cultuados por uma geração que cresceu nos anos 80 e 90 (enquanto esses longas eram reprisados incansavelmente pelas emissoras nacionais). Também é responsável, ao lado de Michael Jackson, por revolucionar a indústria fonográfica, com o videoclipe de Thriller (1983). Ou seja, não falta assunto com o diretor americano de 61 anos. Em papo divertido, por telefone, Landis conversou com a reportagem sobre o relançamento do clássico Os Irmãos Cara de Pau, em Blu-Ray, pela Universal Pictures, em comemoração aos 30 anos de lançamento do filme, celebrado em 2010. E, claro, o papo não parou por aí.

Agência Estado — Depois de 31 anos, como explicar que Irmãos Cara de Pau tenha se tornado tão cult?
John Landis —
Não sei. Acho que, primeiro de tudo, é a música e a trilha sonora. Que é incrível. Tem tantos artistas importantes, como James Brown, Ray Charles e Aretha Franklin. Isso é muito forte. Mas tem outra coisa, a atuação de John Belushi e Dan Aykroyd. Eles colocaram sua própria fama de lado para focar as atenções nesses artistas. Quando fizemos o filme, em 1979, o R&B estava morto. Era a época da Disco Music, com grupos como Abba, Bee Gees. Sabe como foi para chamar os artistas? Foi só ligar!

Agência Estado — Eles estavam esquecidos, né?
John Landis —
Exato. Uma coisa que eu posso dizer: fizemos esse filme sem pretensões políticas. Era sobre a paixão pelo R&B. Os atores usaram a própria reputação para os ajudar a se reerguer.

Agência Estado — Mas considera um grande filme, para valer o relançamento?
John Landis —
Eu não diria isso. Mas foi bem-sucedido. E trouxe algumas pessoas que estavam esquecidas de volta. Mudou a carreira deles.

Agência Estado — A morte de John Belushi, dois anos depois, por overdose, ajudou a tornar o filme clássico?
John Landis —
Não. Isso é algo que não existe. É verdade, sim, que quando as pessoas morrem, um artista por exemplo, é criado um mito. O Elvis vendeu muito mais depois de morto. O Michael Jackson também. A carreira do Belushi era levada na gozação. Até ele morrer tragicamente. Agora, é um santo.

Agência Estado — Bom, você trabalhou com ele e sabe se era um santo ou não. Como foi criado Thriller?
John Landis —
O Michael me ligou porque gostava de Lobisomem Americano em Londres. Ele era fascinado pela transformação. O álbum, Thriller, já havia sido lançado, e já era muito bem-sucedido. Ele me disse que queria fazer um curta-metragem. Achavam que as vendas do disco estavam decaindo. Mas voltou a subir de novo.
Agência Estado — Depois, veio o clipe de Black and White, de 1991. Michael já era um astro consagrado…
John Landis — No Thriller, foi fácil lidar com ele. Já em Black and White, não. Ele já estava louco. Não sei explicar. Acho que foi pela sua família problemática. Tivemos muitos problemas com suas ideias megalomaníacas. Era tudo muito estranho. Em Thriller, estávamos juntos. Mas em Black and White, eu trabalhei mais para freá-lo.

Agência Estado — Você também tem o costume de convidar diretores para fazer participações, como George Lucas (em Um Tira da Pesada 3, de 1992) e Steven Spielberg, em Os Irmãos Cara de Pau. Acha que os diretores, na verdade, sonham em ser atores?
John Landis —
  É sempre uma diversão. Alguns até queriam. Eu atuei algumas vezes, mas sou péssimo. Alguns até são bons (risos).

Agência Estado — Você trabalhou com o Belushi em O Clube dos Cafajestes (1978) e Os Irmãos Cara de Pau (1980). Imaginava que ele tinha problemas com drogas?
John Landis —
Em Irmãos Cara de Pau, tivemos muitos problemas com o uso de cocaína. É muito difícil ajudar uma pessoa que não quer ajuda. Ainda estou bravo com ele, por ter morrido assim.

Agência Estado — Mas que tipo de problema?
John Landis — 
Ele não fazia as cenas quando estava drogado. E isso atrasava tudo. Ele quase morreu duas vezes.

Agência Estado — Sempre tive a curiosidade de saber sobre a frase See you next wednesday, presente em muitos filmes seus. Você tirou de 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick?
John Landis —
  Sim. Mas isso é algo que se espalhou na internet. Antes, ninguém sabia disso. Esse é o título de um roteiro que eu escrevi em 1970, que nunca foi produzido. Coloco a frase em algumas cenas dos meus filmes. Na verdade, a frase pertenciam a esse roteiro.