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Os atores Flavio Tolezani, Lílian Menezes e Claudio Lins, que estarão no musical de Elis (Luísa Mainardes)

O espetáculo ‘Elis, a musical’ estreia em Curitiba nesta sexta-feira (19), exatos 42 anos após a morte da grande cantora. O musical, que teve sua grande estreia há 10 anos, retorna aos palcos para comemorar o surpreendente sucesso. Em 2013, o espetáculo alcançou a marca de 360 apresentações, teve público de 325 mil espectadores e esteve em todos os principais prêmios da cena teatral.

Neste ano, assim como em 2013, Elis Regina é interpretada por Laila Garin e Lílian Menezes, com quem o ‘Bem Paraná’ conversou. A intérprete comenta sobre a grande responsabilidade de ser Elis e da importância dessa história para a construção da memória brasileira.

Além da atriz, Flavio Tolezani e Claudio Lins contam sobre como tem sido interpretar os marcantes relacionamentos da cantora, Ronaldo Bôscoli e Cesar Camargo Mariano. Eles deram a seguinte entrevista ao ‘Bem Paraná’:

Bem Paraná: Eu queria saber qual que foi seu primeiro contato com Elis antes do musical? Como você a descobriu?
Lílian Menezes (Elis): Eu descobri Elis muito menininha. Eu tive a grande sorte de crescer ouvindo a ‘Arca de Noé’, de Vinícius de Moraes, onde eles cantavam a corujinha, né. E ali eu descobri um negócio muito doido, porque eu não sabia o que eu estava ouvindo. Sabia que era uma música bonitinha, mas não o que tinha por trás. Uma interpretação que me comovia muito e a partir dali eu me liguei em Elis. Eu costumava dizer, na minha infância e adolescência: nossa, essa cantora é demais. Então foi assim, foi um amor à primeira vista, desde muito, muito menina. E daí para frente foi Elis Forever na minha playlist.
Claudio Lins (César Camargo Mariano): A Elis faz parte da minha infância. Eu tenho um histórico de família com a Elis, né? Meus pais [Ivan Lins e Lucinha Lins] eram amigos dela. Elis já adentrou o meu universo já desde muito cedo, inclusive eu me lembro do dia do falecimento dela, porque foi uma comoção na minha família. Eu tive mais conhecimento sobre a obra dela e mais pra frente já comecei a compor e a cantar. Meu histórico com a Elis passa por esse lugar de família, não só pela admiração.
Flavio Tolezani (Ronaldo Bôscoli): Não tenho essa intimidade que o Cláudio tem, mas acho que todo mundo considerava a Elis um pouco de família. Ela era a intérprete mais tocada e mais escutada nas casas, então me lembro dela desde a minha infância. Domingo era certeza que a gente acordaria com Elis. Isso é uma memória muito clara. Elis era parte de casa.

Bem Paraná: Elis morreu há 42 anos, vocês eram muito novos. Existe alguma lembrança desse momento, ou foram entendendo ao longo do tempo a falta que Elis fazia?
Lílian:
Eu não tenho memória mesmo, tinha só 4 anos. Mas eu fui percebendo que ela era uma artista muito única e que as músicas eram atemporais. Conforme fui tomando consciência e fui entendendo que existia uma grandeza ali por trás, né? Está no mesmo lugar que a Maria Bethânia, a Gal Costa. Mas eu não tinha esse entendimento ainda da magnitude. Só tive quando realmente pude interpretar e lidar com o público é que eu entendi como é grande.

Bem Paraná: Quais foram os seus maiores desafios na interpretação do seu personagem e o que mais te ajudou nesse processo?
Lílian:
O meu principal desafio é que eu tinha Elis Regina e Laila Garin. Nossa protagonista maravilhosa, que é um furacão, que desempenha brilhantemente. Não preciso dizer nada sobre Laila, mas eu tinha duas grandes artistas e cantoras para suceder, então acho que esse foi o meu maior desafio. ‘Elis, A Musical’ foi o meu primeiro musical. Foi a primeira audição e tive a sorte e competência de assumir essa responsabilidade. Preparo de cena eu tenho desde sempre, estudo teatro há muitos anos, mas como cantora, penso: meu Deus, eu preciso, no mínimo, cantar direito. Então, esse foi o meu maior desafio. Mas na hora que eu entendi o meu lugar, o lugar do meu canto dentro desse trabalho aí eu relaxei, foi só diversão.
Cláudio: O que me ajudou no processo foi se inteirar muito dessas histórias e personagens. Hoje em dia, existe uma literatura sobre essas histórias, sobre Elis e sobre o César Camargo Mariano, que é o meu personagem. Ao ponto de trazermos pro ensaio sugestões e falas que não estavam originalmente no texto, e isso também contribuiu para que a gente se apropriasse dessa história.
Flavio: Fazer uma pessoa, uma figura real, tem uma série de obstáculos que torna aquilo fiel à realidade de alguma forma. Ainda mais pensando numa figura como o meu personagem, como o Ronaldo Bôscoli, que não é. Temos um recorte muito pequeno dentro do espetáculo para mostrar quem é esse cara e quem é ele dentro dessa relação, em várias camadas. Foi uma relação muito apaixonada, muita coisa boa aconteceu. O meu desafio foi sempre tentar equilibrar isso dentro desse espaço de tempo.

Bem Paraná: Lilian, você descobriu algo que te chamou atenção sobre ela? Algo que você se identificou?
Lilian:
É uma quebra de expectativa quando a gente estuda um ser humano, né? Acho que a maior descoberta nesse processo todo foi a Elis mulher, a Elis mãe, a Elis fora do palco. Porque a gente conhece a Elis das entrevistas, a gente tem esse material, essa referência da Elis artista, emblemática, que vai lá e fala e que canta e que chega no palco grande. Mas essa mãe que faz o lanche da criança para levar para a escola, que tem uma série de questões emocionais, inseguranças, questões de autoestima. Para eu conseguir entregar a grande cantora no palco no momento do show, eu precisei descobrir da onde ela tirava toda essa grandeza para o palco. E tudo isso vem da vida, do dia a dia dela, nas questões pessoais.

Bem Paraná: O que esperar de diferente nessa montagem, 10 anos depois da apresentação original?
Lilian:
E acho que é esse novo frescor que a gente traz nessa retomada. Todo mundo ali, com muita vontade de fazer, de estar no palco, de botar essa história para ser contada. Eu acho que essa história é muito importante pra gente culturalmente. Então contar essa história é muito bom e acho que é notável essa diferença também de 10 anos para hoje. Além da história de uma cantora, a gente tem em paralelo a isso a história do nosso país, a história da nossa cultura. Para quem não é fã de Elis, assista como a obra- prima que é. E sim, eu vou puxar a sardinha, porque a Elis é uma obra-prima.
Cláudio: Uma outra qualidade de abordagem. Nesses 10 anos, ganhamos experiência, estofo e foi surpreendentemente prazeroso. Reviver essa história tem sido realmente uma experiência e agora uma coisa que não muda é a maneira como atingimos o público. Como a gente emociona o público e como ele se vê no nosso espetáculo, porque estamos contando uma história que é a nossa história, a história da nossa cultura e do nosso país.

Bem Paraná: Depois da experiência em Elis, A Musical, quem é a Elis Regina para você, hoje?
Lílian:
Referência. Uma grande referência como artista e ouso dizer que uma grande professora de canto, porque é muito do meu canto hoje foi desenvolvido para Elis. Muito disso eu absorvi e, olha, ela é uma exímia professora, viu?
Cláudio: Ainda é a maior cantora do Brasil e eu e eu diria isso no meu gosto pessoal, a maior cantora que eu já ouvi na vida.
Flávio: Essa figura quase que fora do nosso lugar humano, porque desde pequeno me pergunto: quem é essa pessoa? Que voz é essa? Então pra mim, é uma figura inalcançável, mas que faz parte dos meus ídolos.

Serviço
Espetáculo “Elis, a Musical”

Onde: Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto (Guairão) – Rua XV de Novembro, 971 – Centro
Quando: sexta (19), às 21h; sábado (20), às 17h e 21h
Quanto: Deu Balada (A partir de R$ 40 – 2º balcão inteira (R$ 20 meia) no 1º lote / R$ 50 – 1º balcão inteira (R$ 25 meia) no 1º balcão no 1º lote / R$ 120 – Plateia inteira (R$ 60 meia) / R$ 180 – Plateia VIP inteira (R$ 90 meia), mais taxas. Há opções especiais para PcD.
Elenco: Laila Garin (Elis Regina), Lílian Menezes (alternante Elis Regina), Flavio Tolezani (Ronaldo Boscoli), Claudio Lins (Cesar Camargo Mariano), Santiago Villalba (Tom Jobim e Luiz Carlos Miele), Fernando Rubro (Jair Rodrigues), Leandro Melo (Lennie Dale), Chris Penna (Seu Romeu), Pablo Áscoli (Henfil), Isaac Belfort (Marcos Lázaro), Aurora Dias (Dona Ercy), Fabricio Negri (Pierre Barouh), Bruno Ospedal (Nelson Motta), Joyce Cosmo (personagens femininos) e Adê Lima (personagens masculinos).