Apesar das divisões internas e as contradições do Partido dos Trabalhadores, o candidato ao Governo do Paraná, Flávio Arns fala em outra virada histórica nos últimos dias de campanha. Uma virada sensacional, assim como aquela que aconteceu em 2002, quando ele elegeu-se senador. Ninguém acreditava que ele poderia chegar aonde chegou duas semanas antes da eleição. A população deu o bote nos institutos de pesquisas, nos incrédulos, na arrogância dos marqueteiros e também na mídia que não acreditava que os paranaenses procuravam renovação na política. Apostando, por que não dizer, em um novo milagre, com ajuda da militância petistas, dos movimentos católicos e dos movimentos organizados, que estará presente no segundo turno, Arns ao contrário da maioria dos candidatos tem idéias que apostam no coletivo e na articulação da sociedade para superar problemas de infra-estrutura econômica e social. Também para iniciar um novo período na política e por fim as oligarquias que dominaram o Paraná nas últimas décadas.
Jornal do Estado – O Senhor vem de uma família de educadores, religiosos e ativistas. Seu pai foi reitor da Universidade Católica do Paraná, atual PUC, seu tio, arcebispo de São Paulo, Zilda Arns está na Pastoral da Criança. O envolvimento na política foi uma conseqüência de todo esse ambiente familiar?
Flávio Arns – Fiz duas faculdades. Direito, na Universidade Federal do Paraná, e Letras, na Pontifica Universidade Católica. Sempre me direcionei para a área da Educação. Fiz mestrado na Federal. Fiquei três anos nos Estados Unidos, fazendo doutorado na Nortwest University, em Lingüística. Depois de lá comecei a me dedicar bastante para a educação de pessoas com deficiências. Inclusive tenho um filho, Oswaldo Neto, que tem deficiência mental. Isso acabou me direcionando para a educação de pessoas com deficiências. Coordenei esta área no Paraná por oito anos. Sou professor na Universidade Federal e lá trabalhava com psicolingüística, neurolingüística e sociolingüística. Na PUC também coordenei as atividades do ano internacional de pessoa com deficiência, no ano de 1981. Em 1990, as pessoas começaram a me questionar, no movimento de pais e amigos com deficiência, porque não entrar no mundo da política para fazer algo mais amplo. Relutei muito porque não era nem filiado a partido político na época. Muita gente falava das dificuldades que eu teria na eleição e do desafio. Mas depois de muito discutir, aceitei o convite. Me filiei ao PSDB. Na época era um partido recém formado. Com ajuda dos paranaenses fui eleito deputado federal em 90. Depois fui reeleito em 94 com o dobro dos votos. E em 98 também voltei à Câmara Federal, também com dobro dos votos de novo. Aí saí do PSDB. Porque houve a tentativa nossa de fazer a CPI da Corrupção – por causa das denúncias de corrupção durante a privatização – e assinei o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Não havia mais clima para permanecer no partido. Na época eu vinha sendo convidado para vir ao PT. E acabei no partido. Depois de um ano no PT se consolidou a candidatura ao Senado. Fui eleito e estou no meio do mandato. Aí, é interessante que se diga que na candidatura ao governo do Estado, todas as correntes dentro do PT começaram a discutir e a se mobilizar e acabaram me solicitando para participar da campanha de governador e acabou sendo algo consensual. Agora estamos nesta caminhada.
JE – Quais são as diferenças entre o Flávio Arns e os outros candidatos?
Arns – Penso que minha história de vida está muito relacionada a questões sociais e os movimentos sociais. Eu diria que estou muito ligado a valorização da organização do povo. Povo organizado sabe o que quer e o que faz. Quando você trabalha com o povo organizado, você nunca trabalha sozinho. Você toma a decisão depois de ouvir e discutir o que as pessoas pensam. Isso dá muito mais resultados. Esta experiência é o que falta no Paraná: unir as correntes para o povo participar do processo decisório. Fazer uma política de responsabilidade. A partir do diálogo e do entendimento. Do escutar e ser co-responsável e ter como objetivo principal cuidar das pessoas. A gente pensa que isso é assistencialismo. Mas não é. É promoção. Cuidar das pessoas do ponto de vista do emprego, da renda, desenvolvimento econômico, com relação ao meio-ambiente, Saúde, Educação, Esporte. Esta é a ênfase que deve ser tomada. A gente vê no movimento social, que o movimento social só funciona se o município, o governo estadual e o federal participarem de todo o processo ao lado da comunidade. Essa é a experiência que pretendo levar ao Palácio Iguaçu.
JE – Onde você acha que o governador Requião errou nos quatro anos de mandato?
Arns – Em várias coisas. A primeira delas o jeito de fazer política. O jeito tem que ser completamente diferente. Não achar que somente a opinião própria é que vale. É preciso discutir e debater. O jeito dele atual inibe as pessoas, afugenta e traz medo. Tenho certeza que tem tanta gente que pode contribuir e colaborar no nosso Estado. Mudaria completamente a metodologia de planejamento do Paraná. O Paraná não tem um planejamento estratégico. Precisamos questionar o que é importante para as diversas regiões do Paraná, como ultrapassar as diferenças e os contrastes regionais, como fazer que os índices de desenvolvimento aumentem. As coisas não acontecem de um dia para outro. Tudo é fruto de planejamento. E tem que acontecer com a participação da comunidade, dos prefeitos, dos vereadores e dos deputados.
Também mudaria completamente a forma de gestão do Estado, a divisão territorial. Temos que ter o Estado presente em micros-regiões. Não é gastar mais dinheiro. É utilizar todos os meios para impulsionar a economia das regiões mais pobres do Paraná.