O candidato do “Voto Limpo”, Rubens Bueno, vestiu a camisa da oposição nesta eleição. A postura dele no horário eleitoral gratuito está bem clara e é contrária à condução política do governador licenciado e candidato à reeleição, Roberto Requião (PMDB) – de brigas, de portas fechadas ao diálogo e de desentendimento. Rubens defende um governo com políticas permanentes e duradouras para resolver os problemas que afligem o Paraná. Nesta entrevista ele também aborda as dificuldades de se construir um partido do zero e os problemas enfrentados para fortalecer o PPS no Paraná. Além de mostrar as derrapadas dos últimos três anos e meio do Palácio Iguaçu.

Jornal do Estado — Como começou o seu envolvimento com a política?
Rubens Bueno
— Comecei na política estudantil em Curitiba na década de 60. Entrei no MDB e no interior do Paraná fui candidato a prefeito mais votado em Peabiru, mas perdi a eleição pelo voto de legenda. Em 78 fui candidato a deputado estadual pelo MDB e fiquei na quarta suplência. Em 82, já no PMDB, me elegi deputado estadual. Depois fui reeleito em 86. Em 90 concorri a deputado federal e fui eleito. Em 92 fui escolhido para disputar a prefeitura de Campo Mourão e me elegi. Voltei à Câmara Federal em 98. E em 2002, para construir o PPS no Paraná, disputei o Governo. Foi uma candidatura politicamente vitoriosa. Elegemos dois federais e três estaduais. Em 2004 fui convocado para disputar a eleição municipal em Curitiba. Elegemos quatro vereadores e seis prefeitos na Região Metropolitana. Agora em 2006 estou disputando a eleição para o Governo do Estado.

JE — O que mudou de 2002 para 2006 para você resolver disputar novamente o Palácio Iguaçu?

Rubens Bueno
— Mudou muita coisa. Em 2002 o partido estava em formação. Estávamos semeando uma estrutura partidária. Não tínhamos nenhum deputado eleito. Tínhamos poucos prefeitos e vereadores. Em 2004 o PPS elegeu 37 prefeitos e 300 vereadores. O partido para 2006 está mais fortalecido e fizemos uma aliança com o PFL. Enquanto em 2002 o PPS tinha 37 segundos no horário eleitoral, hoje o tempo é de três minutos e meio. Hoje temos uma presença maior na mídia e em todas as regiões do Paraná. Fatores que contribuem para que o PPS seja uma opção viável para o Paraná.

JE — Parece que os institutos de pesquisas não gostam muito de você. Em 2004, um dia antes da eleição municipal você aparecia com um índice baixo. Quando as urnas foram abertas o resultado mostrou exatamente o contrário. Hoje o processo se repete e você aparece como terceiro colocado e sem chances de vencer. O que acontece?

Rubens Bueno
— O resultado na véspera da eleição de 2004 me dava 13%. Domingo de eleição e os jornais na porta dos eleitores mostrando as intenções de votos, segundo os institutos de pesquisas; as rádios falando o dia inteiro e a televisão anunciando o índice contribuíram para que eu tivesse aquela votação. Após a contagem o número que obtive foi de 20,3%, muito além da margem aceitável de erros, que é de três pontos percentuais. Hoje os curitibanos sabem que as pesquisas estão erradas e que vou para o segundo turno. Não quero ouvir, como ocorreu em 2004, que se não fosse o erro do Ibope no dia anterior, o resultado das eleições teria sido outro. Até o juiz que presidiu a eleição afirmou que o número divulgado pelo Ibope no sábado mudou o resultado da eleição de Curitiba no primeiro turno. O que eu quero dizer com isso. O Ibope é contratado de governos e de partidos políticos. Tem toda uma relação de contrato, negócios e de muito dinheiro.

JE — Houve uma grande mudança de posicionamento se fizermos uma comparação com a eleição de hoje e a de 2004. Anteriormente você insistia no “Voto Limpo”, hoje você se coloca como um ferrenho opositor do governador licenciado Roberto Requião. Por que essa mudança?

Rubens Bueno
— Sou oposição a um governo instalado aqui no Paraná e que afirma não ter tido tempo de fazer tudo que poderia fazer. Ora, ele já teve dois mandatos e oito anos dirigindo o Estado e não conseguiu realizar nada? Hoje estão construindo 12 penitenciárias aqui no Paraná. Mas que troféu este governo está nos dando. Há 15 anos atrás ele foi governador e não preparou a Educação para não ter penitenciária hoje. Ele fala que investiu aqui e ali milhões. Mas se você somar tudo, os números não batem. O que me leva a crer que a palavra dele vale uma nota de um real. Ele fala que recuperou estradas, mas não fez uma política clara para recuperação das rodovias. Em dois anos elas estarão esburacadas novamente. As obras foram deixadas para as vésperas da eleição em uma tentativa de enganar o eleitor paranaense. Começou uma construção aqui e outra ali e faz um festival de faz de conta. Mas desta vez ele não vai enganar. Porque a população sabe que o Estado precisa de políticas permanentes e duradouras para resolver os problemas que enfrenta. As três famílias que se alternam no poder nos últimos 20 anos contribuíram para o Paraná chegar à situação em que está.

JE — Essas oligarquias atrasaram a evolução política no Paraná?

Rubens Bueno
— Se você pode reparar, o Estado fica inchado para atender os apetites dos cabos eleitorais e das famílias dominantes. Criam-se vícios. O que significa isso? O paranaense precisa romper com o atual sistema para diminuir a máquina, os cargos comissionados e assim obter benefícios, como a redução da carga tributária e profissionalização do serviço público. O Paraná precisa de um choque de gestão e de um novo tempo, no sentido do serviço público estar qualificado e preparado para oferecer ao cidadão políticas públicas de qualidade: seja na Educação, no Transporte, na Saúde, no Meio-ambiente, no Saneamento.

“É um governo que briga e apanha em todas”

JE – Esse governo vem errando muito e brigando. Qual a sua avaliação?

Rubens Bueno
– É um governo irresponsável. Que briga e apanha em todas elas. E a conta fica para o povo pagar. A atual gestão está trazendo um prejuízo para os paranaenses. Tanto do ponto de vista político, como econômico e social. Infelizmente nosso Estado está perdendo a guerra contra o crime. Segundo o Ministério Público Federal a violência só não é maior do que Rio de Janeiro e São Paulo. A que pontos chegamos. Hoje a população tem medo de sair de casa. Enquanto isso, no Palácio Iguaçu, se fatia o Estado para cada membro da família. O Paraná precisa sair desse momento negro da nossa história política e dar início a um novo período, de transparência e de entendimento.

JE – Os desentendimentos podem custar caro para o Paraná?

Rubens Bueno
– Fazem a economia do Paraná atrasar. Sem contar que vivemos rodeados pelos fantasmas das indenizações. O exemplo? O governo tomou a Usina de Araucária, alegando que iria explodir. Foi uma grande mentira e hoje ela opera com 100% de capacidade. Depois, para fugir de um conflito jurídico, o Paraná foi obrigado a comprar a Usina por meio bilhão. Torrou-se meio bilhão. Pergunto, esse dinheiro não poderia ser investido para aumentar as ofertas do primeiro emprego para os 400 mil jovens desempregados?

JE – Existem outros abusos?

Rubens Bueno
– Incontáveis. São gastos de bilhões em propaganda. O mais visível é o que acontece com a TV Educativa, que se transformou em um palanque eleitoral ao custo do dinheiro público. A gastança com cargos comissionados é outro exemplo. O governo paga meio bilhão em encargos, salários e custeio e entrega para pessoas que nem sempre estão preparadas para exercer as funções. Isso demonstra que esse governo não está interessado em respeitar o interesse público. Um governo precisa de metas e estratégias para atingir os objetivos que a população deseja. Não tem cabimento dirigir o Estado de forma desorganizada e não planejada. O investidor anda com uma pulga atrás da orelha com relação no Paraná. A maioria considera o Estado como uma terra de ninguém, sem garantia jurídica e de estabilidade política. Por isso os investimentos estão escassos. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo agradecessem. (FT)




Nota do JE
A publicação da entrevista do candidato da coligação Voto Limpo, Rubens Bueno (PPS), encerra hoje a série iniciada pelo Jornal do Estado para o primeiro turno das eleições. O JE procurou todos os candidatos ao governo do Estado e ao Senado para a realização de entrevistas que apresentassem suas propostas e idéias ao eleitorado paranaense. As entrevistas foram publicadas a partir do início de setembro, diariamente. A exemplo dos demais candidatos, o JE procurou a assessoria e coordenação de campanha da coligação Paraná Forte, que representa o governador licenciado e candidato à reeleição, Roberto Requião (PMDB). A entrevista chegou a ser marcada para o dia 4 de setembro – segunda-feira, e confirmada na sexta-feira à tarde, dia 1º. No domingo à tarde, dia 3, a assessoria de Requião telefonou para o jornal para desmarcar a mesma, alegando problema de agenda. Desde então, a reportagem do JE tentou insistentemente ouvir o candidato-governador, mas em todos os contatos, a justificativa era de que não havia espaço na agenda do peemedebista. Do mesmo modo, o JE marcou por duas vezes entrevista com o candidato ao Senado do PSDC, Antonio Procopiak, mas em ambas as ocasiões o candidato não compareceu nem deu justificativas.