GUSTAVO LONGO
PYEONGCHANG, COREIA DO SUL (FOLHAPRESS) – Assim que a bandeira com a península coreana unificada apontou no portão de entrada para iniciar seu desfile na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, o público presente no Estádio Olímpico de PyeongChang foi à loucura. Contudo, a alegria que se viu nas arquibancadas ainda não contagiou o restante da população sul-coreana.
Essa foi a quarta vez desde o fim da guerra entre os dois países que a Coreia do Norte e a do Sul desfilaram juntas na abertura dos Jogos Olímpicos repetindo o feito dos Jogos de Verão de Sidney (2000) e Atenas (2004) e dos Jogos de Inverno de Turim, em 2006. Nessa, porém, o simbolismo é ainda maior por se tratar uma edição olímpica em solo sul-coreano. Em 1988, quando Seul sediou os Jogos de Verão, a delegação do Norte boicotou o evento.
O público acompanhou de pé todo o percurso realizado pelos atletas coreanos, que retribuíam com acenos e com a bandeira unificada. Nenhum sinal de desagrado com a situação aconteceu dentro do estádio, mas fora dele a situação foi um pouco diferente.
Horas antes do início da Cerimônia de Abertura, dois grupos protestavam em frente ao portão principal do Estádio Olímpico de PyeongChang. Um deles, mais numeroso e contra a reaproximação com a Coreia do Norte, portava bandeiras da Coreia do Sul, Estados Unidos e Israel. O outro levantava cartazes com palavras de ordem contra os norte-americanos. Após confusão no início da tarde no horário sul-coreana, polícia conteve e manteve os dois grupos distantes.
A preocupação é maior por se tratar dos jovens os mais descrentes com a reaproximação entre as duas Coreias. Estudo encomendado pelo Instituto Coreano pela Unificação Nacional, ligado ao governo sul-coreano, mostrou que são as pessoas na casa dos 20 anos as mais preocupadas com possíveis problemas que possam ocorrer com a reunificação.
Para evitar que essa nova tentativa de reaproximação tenha o mesmo fim de anos anteriores, Thomas Bach, presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional) dedicou grande parte de seu discurso para elogiar a atitude das duas Coreias em desfilar juntas.
Vocês mandaram uma poderosa mensagem de paz para o mundo, discursou, após lembrar a criação da equipe de refugiados nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
A organização dos Jogos também fez seu papel para manter essa abertura. Antes do início do evento, a equipe de atletas de Tae Kwon Do enviada pela Coreia do Norte fez uma exibição para o público presente e foi bastante aplaudida.
Logo após os discursos, a apresentação encenou duas pombas que se transformavam em uma só com a música Imagine, de John Lennon. Por fim, uma atleta do Norte e outra do Sul levaram juntas o fogo olímpico até o topo do estádio. Mas a honraria terminou aí. Quem teve a honra de acender a pira olímpica foi a patinadora Yuna Kim, campeã olímpica em 2010 e grande estrela sul-coreana.
BESUNTADO DE TONGA
O atleta Pita Tafautofua, de Tonga, que ganhou fama ao carregar a bandeira de seu país com o corpo coberto de óleo na Cerimônia de Abertura nos Jogos do Rio, em 2016, repetiu a façanha e entrou no Estádio Olímpico de PyeongChang novamente sem camisa. Contudo, diferentemente do agradável inverno carioca, Tafautotua encarou -10ºC em seu desfile. Em PyeongChang ele vai disputar o esqui cross-country.
Também chamou a atenção a entrada da delegação OAR (Atletas Olímpicos da Rússia, em inglês). Proibidos de competirem com a bandeira russa, coube a uma voluntária dos Jogos Olímpicos carregar o pavilhão durante todo o trajeto. É a primeira vez na história dos Jogos Olímpicos que um atleta não carrega a bandeira de seu país.
Já a delegação brasileira foi a 33ª a se apresentar e, dentre as delegações com menor número de participantes, foi uma das mais celebradas pelo público ao lado da Jamaica. Edson Bindilatti foi o porta-bandeira da equipe, que não contou com as presenças do esquiador Michel Macedo, se recuperando de lesão, e da patinadora Isadora Williams, que deve vir à PyeongChang na próxima semana.
ACORDO
O acordo entre Pyongyang e Seul começou a ser negociado após o ditador norte-coreano Kim Jong-un expressar em seu discurso de Ano Novo no dia 1º sua intenção de liberar os atletas para participarem da competição.
Seul respondeu elogiando a declaração e convidando a Coreia do Norte para um encontro no dia 9 de janeiro, no qual foi confirmada a participação.
Durante a distensão dos anos 2000, seus atletas marcharam juntos nas cerimônias de abertura e encerramento de nove eventos esportivos internacionais, incluindo as Olimpíadas e os Jogos Asiáticos, mas sem atuar com times unificados.
A prática ocorreu nas Olimpíadas de Verão de Sidney-2000 e de Atenas-2004, assim como em edições de Inverno, mas foi interrompida em 2007, após a piora na relação entre os vizinhos.
No último dia 17, a Coreia do Sul anunciou que a nação do norte, comandada por Kim Jong-un, concordou em unificar o time de hóquei feminino para a disputa dos Jogos de Inverno.
A equipe unificada é inédita em uma Olimpíada. Anteriormente, as duas Coreias mandaram times unificados para eventos internacionais em duas oportunidades, ambas em 1991 –a primeira, um campeonato de tênis de mesa em Chiba, no Japão; o segundo, o Campeonato Juvenil Mundial de futebol, em Portugal.