Kevin De Bruyne é, aos 31 anos, um expoente do futebol mundial. Considerado um dos melhores jogadores e meio-campistas de sua geração, o jogador faz história no Manchester City há quase uma década. Próximo de mais uma Copa do Mundo pela Bélgica, ele se destaca pela liderança técnica em uma seleção que vai em busca da glória máxima pela primeira vez em sua história no Catar. O belga é o quarto personagem da série ‘Caras da Copa’ do Estadão, que já falou de Benzema, Kane e Neymar.

No Catar, De Bruyne irá disputar seu terceiro Mundial (também defendeu a Bélgica nas Copas de 2014 e 2018), resultado de um trabalho e desempenhos fora de série pelos clubes que ao longo dos últimos anos. Chega como terceiro melhor jogador do mundo segundo a revista France Football, que realiza a premiação da Bola de Ouro.

Avaliado em 85 milhões de euros (cerca de R$ 430 milhões), De Bruyne foi o líder técnico e referência da Bélgica entre a Copa de 2018 (melhor resultado da equipe na história dos Mundiais) e 2022. A seleção, comandada por Roberto Martínez, vive um período “entressafras”: alguns destaques em 2018 já se aposentaram, como é o caso de Kompany, ou já não vivem bom momento, como Eden Hazard, Alderweireld e Vertonghen.

INÍCIO DA CARREIRA

Maestro, os números de assistências do meio-campista revelam sua importância para o esquema tático da Bélgica. Comandante da posição, ele soma 263 passes para gol ao longo de sua carreira – uma média de 0,4 por jogo -, mas nem sempre ele foi essa referência dentro de campo.

Nascido na cidade de Drongen, na Bélgica, De Bruyne começou no futebol aos quatro anos, nas categorias de base do KVV Drongen. Aos 17 anos, se transferiu para o Genk, também da Bélgica, clube no qual iniciou sua carreira como profissional. Em três temporadas, 53 participações para gol fizeram com que o Chelsea despertasse o interesse em seu futebol.

Comprado pelo clube inglês pelo valor de 8 milhões de euros (cerca de R$ 22 milhões), De Bruyne ainda foi emprestado para o Werder Bremen por uma temporada – sua primeira experiência no futebol alemão. 10 gols e nove assistências depois, o meio-campista retornou ao Chelsea, então comandado por José Mourinho.

No entanto, sua primeira experiência na Inglaterra não foi como o esperado. Na temporada de 2013/14, não ganhou o coração de Mourinho e foi preterido no Chelsea por outros nomes, como Oscar, Frank Lampard, Juan Mata e Eden Hazard. “Ele sabia muito bem o que queria, mas não estava preparado para enfrentar uma temporada em uma equipe com jogadores muito bons. Não tinha paciência”, disse Mourinho, sete anos depois de trabalhar com De Bruyne.

“Eu comecei bem, joguei dois jogos. Não fui brilhante, mas fui bem. Depois do quarto jogo, acabou pra mim. Fiquei no banco e nunca mais tive uma chance. Não recebi uma explicação”, afirmou o jogador à época. Atuando em apenas nove jogos, o jogador pediu para ser vendido ainda no meio da temporada.

Após negociação, o Wolfsburg mostrou interesse por De Bruyne e o meio-campo retornou à Alemanha. Em três temporadas, viveu seu melhor momento na carreira até então: um título da Copa da Alemanha, em 2015, e sua convocação para a Copa de 2014 – a primeira da Bélgica desde 2002.

A primeira presença de De Bruyne na seleção principal da Bélgica foi ainda em 2010, amistoso contra a Finlândia. No Mundial do Brasil, ajudou a levar sua equipe até as quartas de final, com um gol decisivo nas oitavas, que garantiu a vitória contra os Estados Unidos. A seleção foi eliminada pela Argentina, mas foi o melhor resultado desde a Copa de 1986.

FENÔMENO

Após a Copa, o Manchester City observou em De Bruyne uma estrela para seu futuro. Em 2015, o clube pagou 76 milhões de euros (cerca de R$ 300 milhões) para contar com o jogador para os próximos anos. O investimento se provou, até 2022, na melhor decisão possível.

Na Inglaterra, o belga acumula assistências, gols e títulos. São quatro Campeonatos Ingleses, uma Copa da Inglaterra, cinco Copas da Liga Inglesa e dois prêmios de melhor jogador da temporada. Além disso, ele ajudou o City a ter sua melhor campanha na história da Champions League: o vice-campeonato na temporada 2020/21.

Na fila de capitães do elenco, De Bruyne figura como uma das primeiras opções. Após as saídas de Kompany e Fernandinho, ídolos do clube, o belga reveza com Rúben Dias e Gündogan a faixa de líder dentro de campo. Nos primeiros anos no City, uma certa timidez faziam com que ele adotasse uma postura mais tímida fora do campo, mas desde que assumiu a faixa de capitão – ainda que não em definitivo -, o belga transformou sua personalidade, tanto no City quanto na seleção.

Em entrevistas, De Bruyne se posiciona e expressa seus sentimentos em relação à equipe. Após eliminação na Champions League, na temporada 2019/20, afirmou que vivia “a mesma história” todos os anos no Manchester City. “É um ano diferente, mas as mesmas coisas. Parece a mesma velha história para mim, para ser honesto.” Apesar dessa fala, ele continuou na Inglaterra, acumulando números e recordes.

Até o início do Mundial, De Bruyne tem 325 jogos e 223 participações para gol, sendo 134 destas assistências. Só nesta temporada, são 17 partidas, três gols e 13 assistências. Guardiola é um dos principais responsáveis pela evolução deste jogador: na temporada 2015/16, De Bruyne teve nove assistências; em 2016/17, primeiro ano com Guardiola, foram 19 passes para gol.

“Ele (De Bruyne) tem de pôr a bola em movimento, não parar ou ficar quieto numa posição. Estamos há sete temporadas juntos, fizemos tudo, exceto dormir juntos! Fizemos tudo!”, brincou Guardiola, em entrevista coletiva neste ano. Aos 31 anos, o belga tem contrato até 2025 e pode quebrar o recorde do número de assistências na história da Premier League.

Ainda que seja uma tarefa difícil, De Bruyne acumula 96 passes para gol em seus anos na Inglaterra. À frente dele estão Frank Lampard (102), Wayne Rooney (103), Cesc Fàbregas (111) e Ryan Giggs, lendário jogador do Manchester United, com 162 e uma média de 0,25 por partida. De Bruyne, por sua vez, tem 0,43 por jogo. Caso continue no City além de 2025, a tendência é de superar o recorde do galês.

SELEÇÃO BELGA NO CATAR

Desde o terceiro lugar na Copa do Mundo de 2018, a Bélgica continua “batendo na trave” em busca do primeiro título internacional. Comandada por Roberto Martínez, disputou duas Ligas das Nações e uma Eurocopa desde então – todas sem alcançar a glória máxima.

Com a aposentadoria de Kompany e a vinda de uma nova safra da “geração belga”, De Bruyne adotou uma postura semelhante à do City, como um líder dentro e fora de campo. Apesar de não ser o capitão da equipe – a faixa pertence à Eden Hazard -, sua experiência o coloca como referência para a equipe.

Por outro lado, De Bruyne pode disputar no Catar sua última Copa. Em 2026, no Mundial dos EUA, Canadá e México, ele terá 35 anos. “Esta é a primeira vez que meus filhos podem vir à Copa do Mundo. Estou animado. Será o meu terceiro e é sempre especial. Esses eventos são ótimos, pois todos estão assistindo. É grande, mas não há motivo para se estressar com isso”, afirmou o meio-campo em outubro.

A experiência do meio-campo pode ser um fator para a Bélgica no Catar. Em 2018, a seleção belga foi eliminada na semifinal para a França, com gol de Umtiti. Na decisão do terceiro lugar, derrotou a Inglaterra por 2 a 0. “Tenho 31 anos e não sei o que acontecerá em quatro anos”, disse. A estreia da Bélgica no Mundial é no dia 23, contra o Canadá, pela primeira rodada do Grupo F.