A seleção brasileira que disputa na sexta-feira contra a Croácia uma vaga na semifinal da Copa do Mundo nem sempre joga bonito, mas é inegável que se trata de um time difícil de ser batido. Nos 80 jogos que Tite comandou desde que assumiu a equipe, em 2016, o treinador saiu derrotado apenas seis vezes – e, em duas dessas ocasiões, quando escalou time misto ou reserva.

Uma das explicações para os bons números está na formação tática da equipe. Na seleção brasileira atual, defensores também atacam e atacantes também defendem.
“Hoje, faço uma função mais defensiva e acabo chegando ao ataque por último. O Tite coloca cada um na posição em que se sente mais à vontade. O entrosamento vem com os jogos, amistosos, Eliminatórias, Copa América. A gente se entende muito bem em campo. É reflexo de um trabalho longo”, explica Lucas Paquetá.

O meio-campista revelado pelo Flamengo é um atleta fundamental para a dinâmica da seleção. É considerado o ponto de equilíbrio do time, já que, nesse sistema de jogo, atuando mais recuado do que antes, protege a zaga ao lado de Casemiro e sobe ao ataque para concluir as jogadas, como fez contra a Coreia do Sul.

PERDE E PRESSIONA
Dos 11 jogadores que têm atuado, Paquetá é o que acaba tendo mais liberdade de movimentação entre os setores. De resto, impera um futebol solidário. Basta observar: se o adversário está com a bola, há sempre dois brasileiros o cercando para tentar recuperá-la, de preferência no campo de ataque. É o que Tite costuma chamar de “perde e pressiona”.

“A nossa defesa começa com o Richarlison lá na frente. Todos ajudam, todos defendem. Nosso ataque começa lá atrás. Você vê o Thiago Silva dando assistência. Nosso sistema de jogo é claro: todos vão sofrer sem a bola e todos vão desfrutar com ela”, explica o meia da seleção.

A orientação da comissão técnica para os atletas é que retomem a bola em cinco segundos, o chamado “rec 5”, como define o auxiliar César Sampaio. “Antes de formar parte deste grupo, o que sempre me impactou foi o rec 5. Esse comportamento me representa. Eles gostam de ter a bola e têm esse comportamento de recuperar quando a perdem”, detalha o auxiliar.

No Catar, o Brasil marcou sete gols em quatro jogos, uma média de 1,8 por partida, trocou 2.314 passes (2.071 completos), finalizou 70 vezes, sendo 30 em direção ao gol, deu 91 cruzamentos e teve 30 escanteios a seu favor. A equipe é disciplinada, algo que preza Tite. Apenas três jogadores levaram cartão amarelo: Fred, Bruno Guimarães e Éder Militão. Não houve expulsão.

EQUILÍBRIO
Tite já utilizou várias vezes a expressão “perde e pressiona”, mas o que ele usa como mantra é o “equilíbrio”. É isso que, na sua avaliação, irá definir o sucesso da seleção. “Se fugir em algum momento o equilíbrio, a possibilidade de perder é maior. Para ter esses jogadores, tem que ter o compromisso de se posicionar em campo na ação sem bola, assim como ter jogadores atrás que também deem esse suporte”, considera.

O Brasil costuma jogar com suas linhas avançadas e, desde o início desta Copa do Mundo, os dois jogadores mais recuados, Marquinhos e Thiago Silva, em geral têm atuado próximos ao meio de campo. Isso permitiu, por exemplo, que até o capitão da seleção desse um assistência no último jogo. Saiu de seus pés o lindo passe para Richarlison marcar o terceiro gol na goleada por 4 a 1 sobre a Coreia do Sul.

No futebol de pressão total implantado por Tite, o risco maior se apresenta quando surge um erro individual. O desafio é não repetir o que aconteceu diante da Bélgica na Copa da Rússia e também na derrota na final da Copa América de 2021 para a Argentina, no Maracanã.