AdversĂ¡rio do Brasil nas oitavas da Copa do Mundo, a Coreia do Sul faz uma das campanhas mais surpreendentes no Catar, vencendo Portugal e eliminando o Uruguai. Mas a seleĂ§Ă£o tambĂ©m vem chamando a atenĂ§Ă£o pelos nomes do elenco, principalmente aqueles que tĂªm “Kim” no sobrenome.

Dos 26 convocados pelo tĂ©cnico Paulo Bento ao Mundial, seis tĂªm o nome Kim: Kim Seung-Gyu, Kim Jin-Su, Kim Min-Jae, Kim Moon-Hwan, Kim Young-Gwon e Kim Tae-hwan. Uma questĂ£o, para quem nĂ£o estĂ¡ imerso na cultura sul-coreana, pode despertar curiosidade: por que hĂ¡ tantos Kims no elenco da Coreia do Sul?

Apesar de aparecer Ă  frente do nome dos jogadores, “Kim” nĂ£o Ă© propriamente um nome, como “Paulo”, “Pedro” ou “Ana” no Brasil, mas sim um sobrenome. Por exemplo, o nome de Kim Young-Gwon, autor de um dos gols da vitĂ³ria sobre Portugal na Ăºltima rodada da fase de grupos, Ă© somente “Young-Gwon.” Outro exemplo Ă© Son, principal jogador da seleĂ§Ă£o sul-coreana, mas que Ă© conhecido por seu sobrenome. “Heung-min” Ă© o seu nome.

Os nomes na Coreia sĂ£o, geralmente, compostos por trĂªs sĂ­labas. A primeiro Ă© o sobrenome da famĂ­lia, herdado da paternidade, enquanto as duas seguintes sĂ£o o nome pessoal, como os usuais no Brasil. Em 2015, cerca de 50 milhões de sul-coreanos (20% da populaĂ§Ă£o) carregavam o sobrenome Kim, o mais comum no paĂ­s. Lee e Park sĂ£o o segundo e o terceiro mais comuns, respectivamente.

A origem do sobrenome Kim data do Reino Silla (57 a.C. – 935 d.C.). Nesta Ă©poca, a famĂ­lia Kim foi uma das mais bem-sucedidas e importantes para a unificaĂ§Ă£o dos territĂ³rios na penĂ­nsula coreana. Eles dominaram o territĂ³rio por cerca de 700 anos e seu nome significa “ouro, metal ou ferro”. Kim Yu-sin foi o principal general, responsĂ¡vel pelas conquistas e vitĂ³rias no territĂ³rio.

Durante sĂ©culos os sobrenomes eram raros na Coreia do Sul e restritos a membros da realeza e da aristocracia. O panorama mudou quando, entre os sĂ©culo 10 e 14, na Dinastia Goryeo, membros de classes menos abastadas tambĂ©m passaram a carregar os sobrenomes consigo, geralmente das casas das famĂ­lias que trabalhavam. Hoje, quase 800 anos depois, hĂ¡ apenas 250 sobrenomes ainda “vivos” na Coreia do Sul, sendo que Kim, Lee, Pak, Choe e Jeong estĂ£o presentes em 55% dos sul-coreanos.

Em 1957 foi instituĂ­do o artigo 809 no CĂ³digo Civil Coreano, que proibia o casamento entre pessoas com o mesmo sobre. A lei era uma forma de manter as identidades familiares e tem origem na China, segundo a teoria do Confucionismo. Em 2005, a lei foi considerada inconstitucional.