A paulistana Patricia Keller Faustino Margoni sempre teve os cavalos como a paixĂ£o de sua vida. Aos 3 anos, ganhou o primeiro animal do pai e passou a aprender a montar. No Brasil, tinha a montaria como um hobby e chegou a participar de algumas competições, mas nunca tinha pensado em trabalhar junto deles. AtĂ© se mudar para o Catar, 14 anos atrĂ¡s, e trabalhar no maior estĂ¡bulo do paĂs e um dos mais modernos do mundo.
“Em 2009, meu marido Marcos recebeu uma proposta de emprego para vir trabalhar aqui. Decidimos largar tudo e arriscar. SaĂ do banco onde estava como analista de sistemas e nos mudamos”, conta Patricia, que levou alguns meses para se adaptar Ă cultura local.
Assim que passou a conhecer melhor o funcionamento do Catar, uma amiga sugeriu que ela fizesse algumas fotos em um estĂºdio. Deu tĂ£o certo que foi convidada para trabalhar como modelo. Mas com um toque Ă¡rabe.
“Como as mulheres catarianas nĂ£o podem se mostrar, acabam trabalhando como designers ou nos bastidores do universo da moda. Por isso, chamam estrangeiras para vestir suas criações, como abayas de luxo e joias”.
Patricia nunca imaginou modelar, mas encarou o perĂodo como aprendizado e diz que, nos quase 15 anos que estĂ¡ no paĂs, nunca teve problema por ser uma mulher estrangeira e sempre foi muito respeitada. “Fui capa de revistas, vivi coisas muito diferentes da minha rotina e gravei atĂ© comerciais. Mas o que eu queria mesmo era trabalhar profissionalmente com cavalos e por isso, passei um perĂodo na Inglaterra e Irlanda tirando certificações de montaria inglesa e equoterapia, pois amo crianças”, recorda.
Assim que ela voltou da GrĂ£-Bretanha, um xeque a convidou para ser professora no estĂ¡bulo que ele estava abrindo, em Doha, e onde ela trabalhou de 2019 atĂ© junho deste ano, quando recebeu o convite para se transferir para o Al Shaqab.
ANIMAIS QUE ENSINAM
No maior estĂ¡bulo do paĂs, um dos mais modernos do mundo, a brasileira dedica oito horas do dia. O local foi fundado, em 1992, pelo entĂ£o emir do paĂs, Hamad bin Khalifa, para honrar a tradiĂ§Ă£o dos cavalos Ă¡rabes nas guerras e no desenvolvimento da PenĂnsula ArĂ¡bica.
ConstruĂdo ao lado do Education City Stadium, em Al Rayyan, o complexo conta com uma arena fechada climatizada com 2.400 lugares e outra ao ar livre, com 2.100 lugares, alĂ©m de academia para cavalos e centros de treinamentos e competições para crianças, adolescentes e adultos.
Como professora, Patricia trabalha na parte da manhĂ£ com crianças autistas. Ela explica que hĂ¡ poucas vagas disponĂveis porque nĂ£o hĂ¡ muitos cavalos utilizĂ¡veis para equoterapia.
“Aqui, nĂ£o ensino a criança com deficiĂªncia tĂ©cnica de equitaĂ§Ă£o, mas sim o efeito terapĂªutico dela. O cavalo permite se fazer o movimento 3D no corpo e gera benefĂcios, como permitir estimular a criança a falar, exercitar corpo e cabeça, alĂ©m de criar um vĂnculo com o animal, que Ă© algo saudĂ¡vel”.