
O jornalista pernambucano Victor Pereira, que está no Catar para trabalhar na cobertura de sua primeira Copa do Mundo, e produzir conteúdo para sete veículos da região nordeste do Brasil, está assustado com a situação que passou no país-sede.
O Estadão procurou o repórter, mas ele respondeu não querer dar entrevistas sobre o fato de as autoridades catarianas terem retirado dele a bandeira do Estado de Pernambuco pensando que ela fazia referência à comunidade LGBT+.
Apesar de o presidente da Fifa ter dito que todas as pessoas são bem-vindas ao Catar, chegando até a se dizer gay, imigrante e catariano, Gianni Infantino conhece bem as regras do país em relação às minorias e à comunidade LGBT+, assim como as determinações do país sobre alguns outros assuntos, como venda de bebidas alcoólica.
Por meio de um vídeo postado em sua conta de Instagram, o profissional brasileiro, que vive em Lisboa, disse que precisava se posicionar e, com isso, colocar um ponto final na história, pois a cobertura dele precisava continuar. Ele não quer que esse episódio atrapalhe seu trabalho no Catar.
“Estava em frente ao Estádio de Lusail para fazer uma entrada para a Rádio Cidade. Um dos jornalistas com quem divido um flat aqui em Doha, Maciel, me trouxe uma bandeira de Pernambuco lá do Brasil e estávamos fazendo algumas fotos com voluntárias que também são de Pernambuco. Uma das meninas, a Duda Vasconcelos, foi fazer uma foto sozinha e um homem com roupas árabes chegou, tomou a bandeira dela e começou a pisoteá-la”. O caso ganhou repercussão nas redes sociais.
Victor, que filmou a cena, relata que, após mostrarem que se tratava de uma bandeira estadual do Brasil e não de um símbolo LGBT+, a autoridade percebeu que ele estava gravando o ocorrido e que tomou bruscamente o aparelho de sua mão e o escondeu.
O repórter mostrou a credencial de jornalista da Fifa e explicou que tinha autorização para filmar em frente ao estádio. Bastante exaltado, o homem dizia que nada daquilo importava, não se identificou e disse que Victor deveria apagar o vídeo ou o celular seria jogado no chão e quebrado.
Foram momentos de tensão e que aumentaram quando o jornalista tentou tirar o celular da mão do catariano, enquanto ele dizia que seria melhor o vídeo ser apagado.
Durante a discussão, o próprio homem apagou o vídeo e outra autoridade reforçou que o vídeo era para ser apagado da lixeira também. Só assim o celular foi devolvido ao seu dono.
“Estou bastante frustrado, com medo e receio por estarmos em um país de comportamento autoritário. Procurei a Fifa para relatar o caso, mas ainda não tive nenhuma resposta, posicionamento ou pedido de desculpas. Quero não só um pedido de desculpas para mim, mas para todas as pessoas de Pernambuco que tiveram a bandeira do Estado violada, assim como a comunidade LGBT+. Na abertura, fizeram um show pirotécnico dizendo que todos seriam bem-vindos, mas não é isso que estou vendo na prática.”
Procurada, a TV Nova Nordeste, para quem trabalha o repórter, também disse que não vai comentar sobre o assunto.