O deputado federal Luciano Ducci (PSB) tem participado de conversas com partidos da federação formada por PT, PC do B e PV, e também com outras legendas como o PDT – todos da base do governo Lula – para a formação de uma frente ampla progressista com um candidato único nas eleições para a prefeitura de Curitiba em 2024. Ele considera que há grandes chances da coligação vingar e com isso, garantir não só uma vaga no segundo turno como ganhar a eleição.


Ducci – que foi prefeito entre 2011 e 2012 – após a saída de Beto Richa do cargo para disputar o governo do Estado, mas não conseguiu se reeleger, considera que a experiência que acumulou ao longo da carreira e dos três mandatos na Câmara Federal o credencia para liderar essa frente. Em entrevista exclusiva ao Bem Paraná, o parlamentar explica qual o critério defende para escolher o cabeça de chapa desse grupo.


A entrevista é a quarta da série com os pré-candidatos à prefeitura de Curitiba que o Bem Paraná vem fazendo. Ela pode ser assistida também na íntegra no site Bem Paraná, bem como nas principais plataformas de podcasts, como Spotify, Amazon Music e Google Podcast, e também em vídeo, no You Tube.

Bem Paraná – O senhor é pré-candidato a prefeitura de Curitiba?
Luciano Ducci
– Sim, sou pré-candidato do meu partido, já definido pela direção nacional do PSB. Então, agora estamos trabalhando, estamos nessa caminhada.

BP – O senhor tem participado pelo PSB de reuniões com outros partidos, com o PT, PDT, PCdoB etc, conversando sobre a possibilidade da formação de uma frente paras eleições de 2024. Como é que estão essas conversas?
Ducci –
A gente vem já praticamente há 90 dias conversando com a federação, com o PT, PDT e PSB basicamente esses três partidos. A federação envolve o PT, PV e PCdoB. Temos tido boas conversas, tentando alinhar uma frente que possibilita disputar as eleições em condições de vencê-la. E acho que é uma frente que está bem, que está sendo bem trabalhada. Acho que cada partido tem seu pré-candidato hoje e lá na frente vai tentar buscar uma união das forças para poder disputar as eleições.

BP – O senhor vê chances reais nessa articulação?
Ducci
– Eu acho que sim, porque tanto no PT como na federação, como no PDT e no PSB há um interesse muito claro de que, para disputarem condições as eleições, esses partidos vão vão ter que estar juntos, articulados. Juntos pra terem condições de ir ao 2º turno e vencer as eleições.

BP – E qual seria o critério pra escolha da cabeça de chapa?
Ducci –
Eu acredito que o critério mais racional é o critério das pesquisas. É verificar lá na frente
quem tem melhores condições de disputar, de vencer e ser o candidato dessa frente.

BP – Dos nomes desse grupo que estão colocados, o senhor visto com o mais ao centro, moderado. É isso mesmo? Esse seria o seu principal trunfo?
Ducci –
Olha, não sei se é o principal trunfo. Eu já fui prefeito de Curitiba, vice-prefeito. Fui secretário da saúde, tenho uma noção muito grande da nossa cidade. Sou funcionário público de carreira. Fui médico de posto de saúde, então tem toda uma trajetória construída com programas implantados aqui em Curitiba, de sucesso, como é o “Mãe curitibana”, hospital de idoso, comunidade de escola. Enfim, vários programas que nós implantamos no decorrer desse processo todo. Eu acho que ser moderado, não ser moderado é muito relativo. Eu acho que é você saber o que está fazendo e aquilo que está fazendo ser bom para a população, principalmente paras pessoas que mais precisam da Prefeitura. Teve um engajamento lá na base, na periferia, trabalhando bastante nessas regiões. Esse sempre foi o meu trabalho, de estar sempre próximo das pessoas e trabalhando pelo bem das pessoas. Então, se isso é ser de centro, de esquerda ou de direita, acho que é um critério muito subjetivo.


Derrota em 2012: “Você só ganha ou perde eleição disputando”

Bem Paraná – Em 2020 o senhor também era cotado como pré-candidato a prefeito, mas não concorreu. Por quê?
Luciano Ducci –
Em 2020 nós tivemos a pandemia, que foi uma questão que estava fora do do controle do imaginário nosso. De todos nós, acho que era um momento muito crítico e também o Rafael Greca vinha fazendo uma boa administração. Nós apoiamos o Rafael Greca na primeira eleição dele e apoiamos ele também na reeleição. Então nós fizemos e continuamos com essa proposta de apoiá-lo na reeleição.

BP – Em 2012, o senhor foi candidato a reeleição após assumir a prefeitura depois da saída do Beto Richa para ser candidato a governador, mas acabou não indo ao 2º turno. A que o senhor atribui esse resultado?
Ducci –
Olha é muito difícil falar quando você perde uma eleição, deixa de ir ao 2º turno por 4 mil votos. Então os fatores são diversos. Eu acho que pode ter havido erro de estratégia da nossa campanha, pode ter tido excesso de obras na cidade junto também com as chuvas que aconteceram ao mesmo tempo que tumultou um pouco a vida das pessoas. Acho que esses fatores foram os principais, uma erro de estratégia de comunicação, talvez, também tenha sido um um das causas dessa eleição da qual a gente não venceu. Mas faz parte. Você só ganha ou perde eleição disputando. Não tem outra forma de você perder se você não disputa. Eu estou muito tranquilo com a eleição de 2012.

BP – O senhor tirou alguma lição dessa experiência?
Ducci –
Eu acho que esses esse três mandatos agora de (deputado) federal, me deram um grau de conhecimento, de amadurecimento também e de ver possibilidades muito maior do que eu tinha lá em 2012. Também, antes de 2012, eu fui deputado estadual e vice-prefeito. Ali aprendi bastante, mas 2012 foi um momento, um divisor aonde esses três mandatos em Brasília me fizeram eh ter um conhecimento muito grande de como funciona realmente o Governo Federal, o Governo Estadual, as possibilidades que a gente tem junto ao Governo Federal para poder trazer recursos. Eu já participei cinco vezes da comissão mista de orçamento que é a principal comissão da Câmara Federal. Então acho que a gente tem hoje um amadurecimento muito grande em relação a eleição anterior. Certo.

BP – Setores do PT capitaneados pelo grupo do ex-governador Requião têm contestado a aproximação do senhor com o partido alegando que o senhor não fez campanha para o Lula em 2022. Como é que o senhor responde a esse questionamento?
Ducci –
Acho que a questão do questionamento tanto de algum grupo do PT ou de outros partidos tem a ver, lógico, com a trajetória política que nós fizemos aqui em Curitiba. O PSB sempre foi aliado do PSDB. Disputamos sempre as as eleições juntos. E lógico que cria essa situação. Agora na eleição de 2022, o nosso partido teve o vice-presidente da República (Geraldo Alckmin). Apoiamos sim o presidente Lula. Não tivemos nenhuma dificuldade com isso. Lógico que quando se faz campanha proporcional campanha em vários municípios que se atua, você tem prefeitos, vice-prefeito, vereadores. É outra dinâmica. Mas o partido esteve sim, junto com o Lula e até por conta de ter o Alckmin como vice.


Transporte: “Tarifa de ônibus não era a maior do Brasil como agora”

Bem Paraná – E qual é a sua relação com o governo Lula hoje? O senhor se considera da base?
Luciano Ducci –
Eu sou. Sou bem da base. A gente tem votado sempre junto, até por conta de ter o vice-presidente e ter três ministros. Hoje nós temos três ministros que fazem parte do Governo Federal. A gente tem uma boa relação com os outros ministros também. E acho que você fazer parte da base é poder estar ajudando o Brasil a sair da situação que eles se encontraram.

BP – Uma das questões que deve ser tratadas no próximo mandato é nova licitação do transporte coletivo. Como conciliar tarifas compatíveis com a o poder aquisitivo da população e a necessidade de manter a qualidade e a sustentabilidade do serviço?
Ducci –
Eu acho que tem que ter uma racionalidade daquilo que se está fazendo. Eu quando fui prefeito de Curitiba, coloquei 1.200 ônibus novos circulando em dois anos e meio na nossa cidade. Fiz o Ligeirão Azul, que é o maior ônibus do mundo. Mantive a tarifa domingueira a R$ 1. Coloquei o ônibus híbrido elétrico via biocombustível como ligeirão. Também é 100% biocombustível. Nós fizemos uma grande gestão na área do transporte público da cidade e mantivemos uma tarifa que nunca foi a maior do Brasil como é agora. Sempre uma tarifa em 5º, 6º lugar entre as capitais até pelo sistema nosso ser integrado. Era integrado junto com a metropolitana. Nós que administrávamos todo o sistema. Eu acho que esse foi o grande ganho que nós tivemos naquele momento. Agora na próxima licitação eu acho que tem que chamar a sociedade civil organizada, chamar quem entende de transporte público, todo mundo e tentar montar uma equação que possa atender as necessidades da população, as necessidades da cidade.

BP – E essa discussão sobre a tarifa zero, o senhor acha viável?
Ducci –
A tarifa zero é viável se vier projeto do do Governo Federal. Acho que uma tarifa zero só numa cidade é difícil de você articular. Agora uma tarifa zero que possa vir dentro de um projeto que possa ser discutido na Câmara Federal, no Senado, no Congresso. Que possa ter mudanças em várias leis que existem hoje, você pode trabalhar sim. Eu venho trabalhando nesse sentido lá em Brasília, buscando dentro de projetos de lei é tentar tornar isto realmente viável e possível. Eu acho que é viável e possível desde que venha nesse conjunto com o apoio do Governo Federal.

BP – O PSB integra a base do governo Lula, mas também é da base do governo Ratinho aqui no estado. O senhor eleito prefeito com pretende lidar com essa essa dupla vinculação política?
Ducci –
Acho que eu não tenho dificuldade nenhuma. Acho que quando você se torna prefeito da cidade você tem que ir lá falar com o governador, com o presidente. Tem que estar articulado politicamente. Não vejo assim nada de contraditório. O PSB, na eleição passada nós tivemos uma saída grande de deputados estaduais. Saíram seis deputados estaduais, um deputado federal e praticamente está começando a reorganizar o partido estado. A gente tem posições claras
relação a ao Governo do Estado. Nós temos um deputado estadual que é da base, é do governo, que vota junto com o governo. Mas o partido tem posições claras também como, por exemplo, foi contra a privatização da Copel. Nós não vemos o menor sentido de você estar privatizando a Copel, a maior companhia energética do país. Uma grande companhia paranaense que dá orgulho a todos. Não tem sentido nenhum você estar vendendo uma empresa como a Copel, que durante cinco, seis anos te dá renda daquilo que foi vendido hoje. Então a gente teve uma posição clara contra a privatização da Copel sim, como tem posições claras em outros temas.


“Nesse momento ainda existe essa polarização entre extrema direita e esquerda”

Bem Paraná – O senhor disse que vocês apoiaram a eleição do Greca e a reeleição também. Quer dizer, a sua candidatura então não seria uma candidatura de oposição? Como ela se posiciona em relação a atual gestão?
Luciano Ducci –
Não, veja bem, o Greca não é candidato a prefeito. Então começa por aí. Dia 1º de janeiro de 2025 não vai ser o Lula que vai se entrar na cadeira de prefeito, não vai ser o Ratinho e o Rafael Graca vai ser ex-prefeito. Então nós estamos em um outro momento, outro cenário aonde a população vai ter que enxergar quem é a pessoa que é mais capacitada pra dirigir a nossa cidade. Para sentar na cadeia prefeito e tocar as obras, as obras e os programas sociais que a cidade mais precisa. Acho que essa é a discussão. Então, o PSB tem uma posição clara, vai disputar a eleição, tem candidato para disputar as eleições e tem programa. E o programa nosso diverge do programa que provavelmente vai ser apresentado pelos outros candidatos. É um programa mais voltado pra área social. Nós queremos, na verdade, refazer o que foi desfeito, manter o que está funcionando e traçar um futuro melhor para os curitibanos. Essa que é a ideia básica do PSB para nossa cidade.

BP – Nas últimas duas eleições nós tivemos uma polarização grande entre esquerda e direita representadas por Lula e Bolsonaro. Enquanto as forças de centro tiveram bastante dificuldades, né? No próprio PSDB, por exemplo, em 2018, o Alckmin teve 5% dos votos. No ano passado o PSDB sequer teve candidato. Como é o senhor vê essa essa polarização e como furar essa bolha para que o centro ou as forças mais não tão ao extremo possam voltar a ter protagonismo na política brasileira? Ducci – Eu acho que acho que nesse momento ainda existe essa polarização entre extrema direita e esquerda. Entre a turma que apoia o Lula e a que apoia o Bolsonaro. Eu acredito que isso vai existir durante a eleição do ano que vem. E a gente vai tentar mostrar que nós estamos do lado mais certo, mais seguro pra cidade. Do lado que pode trazer uma transformação para a cidade, que pode trazer investimentos com o apoio do Governo Federal.

BP – Como o senhor está vendo essa a reforma tributária? Há um temor dos prefeitos de perder receitas. Vê esse risco?
Ducci –
Primeiro assim, nós aprovamos a reforma tributária, que foi um grande avanço na Câmara Federal. Hoje estamos tendo e vai acontecer uma discussão grande ainda no Senado, deve ter algumas mudanças e voltar pra Câmara para depois ir para a sanção do presidente. Eu acho que a cidade tem que olhar a reforma tributária e se preparar. Porque se você não tiver preparado para a reforma tributária pode se atrapalhar na gestão futura. Quinze, vinte, vinte e cinco anos, você pode estar se arrependendo de não ter feito mudanças estratégicas nesse início de reforma. Que vai acontecer talvez pegue a próxima gestão de prefeito, o início da reforma que vai demorar. Tem uma extensão para acontecer na sua plenitude. Só que o prefeito vai ter que entender bem de reforma tributária, o caminho que a cidade vai ter que traçar para que ela não tenha perdas e sim tenha ganhos com a reforma. Eu acho que Curitiba tem condições de ter ganhos com a reforma e não perda, desde que saiba conduzir esse processo ao longo dos anos.

Saúde: “Não regulamentação da cannabis medicinal é uma malvadeza”

BP – O senhor encabeçado aí um um trabalho pra regulamentar o uso medicinal da cannabis, que é um assunto que gera muita polêmica. Como o senhor lida com essa questão?
Ducci –
Eu fiquei assim muito feliz quando fui convidado para ser relator do PL 399, que é da cannabis medicinal. Porque me deu uma oportunidade – como eu sou uma pessoa da área técnica, médico, e entender como se monta um programa. Me deu uma facilidade muito grande. Nós saímos de um projeto que tinha um parágrafo para um grande projeto estruturante na área da medicina, do uso medicinal da cannabis, que hoje já tem resultados muito claros de seu funcionamento. É só você perceber crianças que tem 40, 50, 60 convulsões em um dia, a partir do uso da cannabis medicinal, praticamente a criança para de ter convulsão. Ou a pessoa com Parkinson, com Alzheimer, dores crônicas, esclerose múltipla. Então, são várias patologias que hoje são contempladas com uso medicinal da cannabis. E o que nós fizemos? Nós pegamos todas essas informações, esse conhecimento todo, corremos atrás, montamos um projeto que trata da cannabis medicinal para dispensação pelo SUS, de graça, com o cultivo no Brasil, com a produção industrial de medicamentos aqui no Brasil, tudo controlado pela Anvisa. Como também a questão de pesquisas, todas elas autorizadas pela Anvisa. Como também o uso industrial que é um mercado enorme que existe hoje. Porque com o uso industrial do cânhamo, que é um derivado da cannabis, mas sem efeito psicoativo, você consegue produzir diversos tipos de produtos. Hoje eu já tenho para vender nos Estados Unidos, em vários países, jeans a base de canho. Você tem a indústria de cosméticos que usam o cânhamo com CBD para fazer cremes hidratantes potentes. Você vai pegar hoje plantar eucalipto para fazer celulose demora seis, sete anos pra colher a primeira vez. Ou pinus que você leva onze, doze anos. O cânhamo, em sete, oito meses está colhendo e produzindo papel
de muito mais qualidade. Então assim, então é um é um projeto superimportante, forte, que por questões ideológicas e que aconteceram na Câmara de uma base muito governista, que trabalharam contra o projeto. Mas a gente conseguiu aprovar na comissão especial, daí houve um recurso. Esse recurso hoje está na mão do Arthur Lira para ele pautar para ver se a gente vai discutir ainda em plenário ou se vai rejeitar o recurso e vai direto pro Senado. E isso, está criando uma angústia muito grande em milhares de pessoas. Porque eu tenho condições de contratar um advogado e importar o medicamento, pagar R$ 3 mil, R$ 4 mil em medicamento. Agora a pessoa pobre que tem um filho que tem crise convulsiva sucessiva, que se usasse um medicamento a base de canabis, melhoraria, não tem acesso. Isso é injusto com as pessoas. Isso é uma uma malvadeza com as pessoas que precisam e não conseguem esse tipo de acesso. E nós estamos trabalhando para para poder viabilizar que o mais breve possível seja aprovado e que possa estar sendo dispensado no SUS, de forma gratuita, inclusive com médicos prescrevendo. Tem toda uma organização de prescrição também. Acho que é um projeto muito bem estruturado. Nos projetos que existem no mundo em forma de lei essa é a melhor de todas.

BP – O senhor é servidor da saúde pública. Acho que se havia alguma dúvida sobre a importância do SUS ela acabou depois da pandemia. Mas a gente ainda tem um um problema crônico do subfinanciamento da saúde no Brasil. Existe alguma perspectiva de melhorar essa situação?
Ducci –
Para falar a verdade, perspectiva, por enquanto, você não enxerga uma saída ainda muito clara na questão do financiamento. Hoje nós temos hospitais que sobrevivem graças muitas vezes as emendas que os deputados mandam. A recursos viabilizados de sociedade civil organizada.Porque hoje o custo saúde aumentou muito. Não só durante a pandemia para cá, mas antesjá vinha aumentando muito. A inflação saúde é muito maior do que a inflação normal, do alimento. Para citar um exemplo, um frasco de Dipirona custava R$ 0,60 passou para R$ 6,10. Isso é um impacto enorme dentro de um hospital. Então assim, tem que está tem que continuar trabalhando para poder realmente fazer com que o SUS consiga ser autossuficiente para quem tá trabalhando dentro dele. Então tem vários hospitais que têm como alternativa de fazer particular, convênio e SUS, daí consegue dar uma certa equilibrada. Ou de alta complexidade que o SUS paga superbem. Agora os hospitais que fazem mais o atendimento de média e baixa complexidade sofrem muito mais, por que é um custo alto e um pagamento baixo por aquele procedimento.