A despeito do quadro de aguda recessão internacional, precipitada pela zona do euro e contagiando inclusive as nações emergentes, e de estagnação da economia brasileira, fruto da orientação monetária e fiscal ainda demasiadamente presa ao curto prazo, as estatísticas disponíveis demonstram que o Estado do Paraná vem moldando uma espécie de segundo tempo do quarto estágio de transformação estrutural de sua matriz produtiva.
O quarto momento encontra precedentes históricos no choque infraestrutural dos anos 1960, fruto da operação da dobradinha formada pela Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar), criada em 1962 e transformada em Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep) em 1968, e o Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE); na modernização agrícola e agroindustrial, do princípio do decênio de 1970; e no encaixe na desconcentração industrial brasileira, induzida pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), implantado na administração Geisel, entre 1974 e 1978, quando o Paraná logrou êxito na execução do projeto da Refinaria da Petrobras, em Araucária, e na consolidação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
Lembre-se que o fio condutor daquelas três grandes empreitadas consistiu na fixação de bases futuras para a escolhas estratégicas presentes, ou no planejamento do desenvolvimento, que priorizou, ao mesmo tempo, as inversões em capital social básico e a mutação do bloco industrial do Estado, centradas na busca de diminuição da incômoda dependência da especialização do setor manufatureiro nos primeiros encadeamentos ligados ao setor rural.
Ente 1980 e 1994, a concatenação entre a forte aderência aos objetivos macroeconômicos imediatos do governo federal, a retração da presença e influência política junto à União, a abdicação da preferência por projetos de natureza antecedente ao crescimento e o voluntarismo impregnado nas ações do governo estadual, conduziu a uma autêntica depreciação dos instrumentos e das ações de maior envergadura, capazes de engendrar mudanças de longa maturação no Paraná e, por extensão, a reconquista dos ingredientes de retomada econômica duradoura, com maior  grau de interiorização e inclusão social.
As modificações presentes começaram no intervalo 1995-2000 – com a vinda das montadoras de automóveis e utilitários, e respectivos fornecedores mundiais, a modernização do agronegócio, liderada pelas cooperativas, e a diversificação da indústria papeleira e madeireira -, com flagrante interrupção entre 2003 e 2010. Na ocasião, o aparelho regional perdeu o trem do dinamismo brasileiro, ao registrar variação média do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,6% ao ano, contra 4,0% a.a. para o País, o que custou o recuo do Estado na constituição da renda interna nacional de 6,4% para 6,0%, naquele lapso, em função, essencialmente, da combinação entre a deterioração da infraestrutura e a relação bastante conflituosa entre governo local e empresários.
A virada gradual e consistente deste jogo truncado foi delineada no início de 2011, com a iniciativa política de edificação de um arranjo institucional, preenchido, de maneira sincronizada, por atores públicos e privados interessados no desenvolvimento do Paraná. As articulações traduziram alterações de posturas e atitudes, privilegiando uma atmosfera de permanente e transparente diálogo, visando à restituição de um ambiente propício à realização de negócios por essas paragens.
Mais especificamente, em bases contemporâneas, o governo do Estado voltou a coordenar, induzir e fomentar, em sintonia com os atores privados, as propostas do executivo federal – como, por exemplo, a modelagem da regionalização do Programa Brasil Maior, em condução de maneira parceira pela FIEP, Secretaria de Planejamento e IPARDES, apoiada no vasto estoque e fluxo de estudos e informações disponíveis nesta entidade de pesquisa estadual – e as oportunidades para alocação de recursos, em iniciativas de retorno privado e social, pelos organismos multilaterais de crédito, como Banco Mundial (BIRD) e Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID).
Os ativos desse esforço cooperativo já começaram a ser colhidos. No campo conjuntural, a base industrial do Estado vem exibindo, desde 2011, indicadores mais expressivos que a média brasileira em contigente empregado, salários totais e quantidade de horas trabalhadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só a título de ilustração, nos sete primeiros meses de 2012, o pessoal empregado experimentou incremento de 3,0%, diante de diminuição de –1,3% no País, enquanto os rendimentos saltaram 9,9% versus 3,7% no Brasil e o volume de horas pagas cresceu 1,7% contra declínio de –2,0% na média nacional.
O Estado também vem criando empregos de qualidade superior à média nacional, sendo a indústria de transformação responsável pela abertura líquida de 24,3% dos postos formais entre janeiro e agosto de 2012 no Paraná, contra 13,4% no Brasil, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego. Mais que isso, 93% das vagas geradas no parque fabril do Estado aconteceram fora da Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
Por uma ótica estrutural, o Paraná acumulou o anúncio de mais de R$ 19,0 bilhões em uma diversificada carteira de projetos industriais privados, de origem multinacional e nacional, entre fevereiro de 2011 e setembro de 2012, inscritos no Programa Paraná Competitivo, com potencial de criação de mais de 114,0 mil vagas de trabalho, se considerados os postos diretos e indiretos, oportunizados pelas empresas atraídas e seus supridores, além dos efeitos irradiadores em toda a estrutura produtiva regional.
Como se vê, trata-se de uma breve e superficial contabilidade. Porém, ela é  reveladora do fenômeno de retorno e defesa de um intransigente desejo coletivo de retomada econômica e recuperação dos mecanismos para a sua viabilização no Estado, apesar dos crônicos embates com os entes federais, sintetizados no desprezo às bandeiras regionais, especialmente no recente Plano de Investimentos em Logística, que negligenciou as demandas nos modais ferroviário e rodoviário e foi rechaçado de pronto pela instâncias políticas e empresariais regionais.

Gilmar Mendes Lourenço, é economista, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), professor do Curso de Economia e Editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos. Foi eleito  O Economista Paranaense do Ano de 2011 pelo CORECON/PR e vencedor do Prêmio Imprensa e Quality TV & Jornais em novembro de 2011. Ele escreve às quartas-feiras neste espaço