A pacata Caieiras, uma das cidades mais desabitadas da região metropolitana de São Paulo, ganhará 80 mil novos moradores com um único empreendimento, a ser criado no prazo de cinco a dez anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tinha 81.163 habitantes no ano passado. Ou seja: o lançamento imobiliário erguerá outra cidade do tamanho da que já existe.

Adquirido pela Camargo Corrêa, o terreno que abrigará o empreendimento gigante fica próximo da estação de trem que leva o nome da cidade, da Linha A da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). O lote tem 5,2 milhões de metros quadrados e pertenceu à Companhia Melhoramentos. Parte da área era usada para reflorestamento.

Segundo o diretor de novos negócios da Camargo Corrêa, Marcelo Figueiredo, as moradias a serem construídas no local deverão atender ao que a empresa chama de “segmento econômico” e custarão entre R$ 70 mil e R$ 200 mil. Quando todas as unidades forem vendidas, a empresa terá movimentado cerca de R$ 3 bilhões

O projeto prevê a ocupação de cerca de 35% do terreno – ou 1,6 milhão de metros quadrados – com prédios de quatro a seis andares e apartamentos com dimensões de 60 a 120 metros quadrados de área útil. “Não queremos construir uma cidade-dormitório, mas um lugar com vida própria, uma comunidade Haverá espaço para centro comercial ou shopping, por exemplo”, diz o diretor da construtora. As primeiras unidades deverão ser comercializadas em 2010.

Figueiredo admite que o empreendimento obrigará a Camargo Corrêa a buscar um relacionamento mais estreito com a prefeitura – o que não fez até o momento. Os novos moradores deverão aumentar a arrecadação de Caieiras, mas, em compensação, dobrarão a produção de lixo, a demanda por médicos nos postos de saúde, de vagas em creches, de esgoto, de consumo de água.

“Faremos esse contato em uma fase mais avançada do projeto”, afirma. “A infra-estrutura da região vem sendo incrementada, a começar pela modernização da linha da CPTM. Mas o empreendimento levará muitas melhorias, como, talvez, uma estação de tratamento de esgoto”, diz Figueiredo, citando o empreendimento Inova, de Osasco, na região metropolitana da capital paulista, como exemplo. Por causa dos novos prédios, a Camargo Corrêa investiu na ampliação de uma avenida no local, a Estados Unidos.

Impacto ambiental

A diretora de gestão do conhecimento da organização S.O.S Mata Atlântica, Márcia Hirota, alerta para o impacto que um empreendimento desse porte terá sobre o território de Caieiras. A região é desabitada, destaca a ambientalista, porque parte está inserida dentro do Parque Estadual da Cantareira, área de transição entre a mata atlântica e o cerrado. A maior parte do município está em área de preservação permanente. “Fica difícil falar de um empreendimento que não conheço, que não foi totalmente apresentado ainda, mas, que o impacto será grande, é indiscutível”, pondera Hirota.

De acordo com a diretora da S.O.S Mata Atlântica, há no entanto formas de construir um empreendimento sustentável. “Ninguém é contra lançamentos imobiliários, mas há formas melhores de executá-los do que outras.” Investir na educação ambiental, na coleta seletiva de lixo, em fontes alternativas de energia e no tratamento de esgoto, por exemplo, são medidas indispensáveis na avaliação da ambientalista.

Exceto o tratamento de dejetos, Figueiredo não fala em outros investimentos do gênero, mas adianta que todas as exigências ambientais para a aprovação do empreendimento estão sendo atendidas. Ele cita ainda o fato de Caieiras ter uma das mais baixas densidades demográficas da região metropolitana, com 800 habitantes por quilômetro quadrado. A capital chega a ter 14 mil pessoas por quilômetro quadrado. “Há infra-estrutura subaproveitada.”

O prefeito de Caieiras, Névio Luiz Aranha Dártora (PSDB), foi procurado pela reportagem, mas informou por meio de sua Assessoria de Imprensa que não gostaria de falar sobre o projeto da Camargo Corrêa. Isso porque a prefeitura ainda não recebeu nenhuma notificação oficial sobre os planos da construtora.