Grande parte da floresta Amazônica é mais resistente à seca do que imaginavam a ciência e o senso comum.

A pesquisa “Seca Floresta”, realizada no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), simulou durante quatro anos uma diminuição de 50% das chuvas em Santarém (PA). E descobriu que as árvores têm mecanismos que lhes permitem sobreviver a secas extremas.

A experiência foi feita dentro da Floresta Nacional do Tapajós. A região de Santarém,  assim como cerca de metade da Amazônia, tem uma grande variação de indíces pluviométricos durante o ano. Há duas estações bem definidas: a seca (popularmente chamada de “verão”) e a chuvosa (o “inverno”).

“Nós cobrimos um hectare de floresta com plástico e cavamos valas profundas ao redor dessa área para simular as condições de uma seca severa”, relatou o pesquisador Rafael Oliveira, Ph.D. em Biologia Integrativa.

Ele explicou que cerca de 80% das árvores tinham um sistema radicular difórmico: a maior parte das raízes crescia horizontalmente, a menos de um metro de profundidade do solo, mas a porção central era vertical.

“Descobrimos que as raízes centrais conseguiam transportar água de porções muito profundas do solo, onde existe uma disponibilidade hídrica maior para as porções superficais”, detalhou Oliveira. “Esse processo de redistribuição hidráulica acontecia à noite, quando as árvores não estavam transpirando. Durante o dia, a água era absorvida pelas raízes horizontais”.

O pesquisador afirmou que a principal conclusão da pesquisa foi que nas áreas da Amazônia onde existe sazonalidade de chuva, as árvores são extremamente resistentes à seca. “Apenas no final do experimento, com quase três anos de seca simulada, elas começaram a apresentar perda significativa de folhas. Cerca de 15% delas morreram”.

O LBA começou a ser desenhado no Rio de Janeiro, durante a Eco-92l. Seu objetivo é entender o funcionamento da floresta e sua relação com as mudanças do uso da terra e do clima. As previsões dos modelos climáticos apontam que o aquecimento global deve aumentar as secas na Amazônia.