LUCAS VETTORAZZO RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A incerteza com relação a economia brasileira piorou em novembro, depois de ter tido quatro meses de melhora, aponta novo índice do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV. Divulgado pela primeira vez nesta sexta-feira (9), o índice é medido em pontos e traz uma série histórica desde janeiro de 2000. Ele leva em conta três premissas: a frequência de notícias com menção a incertezas na economia, as previsões do mercado naquele momento para as taxas de câmbio e inflação, e a variação do Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira. A média da última década é de um índice em 100 pontos, usado pelos pesquisadores como base para um patamar razoável.

Em novembro deste ano, a incerteza bateu 126,4 pontos, alta de 5,6 pontos em relação a outubro. Ele também é maior que o verificado em novembro de 2015, quando registrou 122,7 pontos. O maior nível deste ano foi visto em abril, quando atingiu 141,6 pontos. Abril foi quando a Câmara dos Deputados aprovou a abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, que foi afastada até o julgamento que ocorreria de forma definitiva no Senado, em agosto.

No período em que Michel Temer ainda era presidente interino, a incerteza na economia oscilou: caiu em maio, a 136,1 pontos, e voltou a subir em junho (137,9 pontos) e julho (138 pontos). Em agosto, quando o Senado aprovou a queda da presidente e Temer assumiu de forma definitiva, o índice caiu a 124,4 pontos, queda de 13,6 pontos em relação a julho. A incerteza atingiu o ponto mais baixo em setembro, com 120,6 pontos e se manteve praticamente estável em outubro, com 120,8. Neste novembro, porém, acelerou 6,4 pontos.

Segundo o economista e pesquisador do Ibre Pedro Costa Ferreira, a incerteza recente na economia está fortemente atrelada à questão política brasileira, mas nem sempre foi assim. O país experimentou melhora nos primeiro meses do governo efetivo de Temer, quando as propostas de reforma da previdência e da PEC do teto dos gastos foram postas em discussão. As sucessivas crises no Executivo e no Legislativo, no entanto, elevaram a desconfiança sobre a possibilidade de as duas medidas, consideradas de grande importância para o mercado, serem aprovadas.

O mercado reduziu pela sétima vez a expectativa do PIB para o ano que vem, para 0,8%, segundo o Boletim Focus, do Banco Central. “Fica a dúvida se, caso essas propostas de teto de gastos e reforma da previdência não passem, o Brasil não estará quebrado do ponto de vista fiscal no ano que vem. São muitas variáveis que mantém a incerteza alta”, disse. Ele cita a crise nos Estados e a desconfiança de que a queda dos juros será suficiente por si só para reativar a economia. “O desempregado não vai voltar a consumir só porque os juros melhoraram. Então é cada vez mais claro que a saída é fiscal, mas nem tudo caminha da forma que o mercado acreditou que ocorreria logo no início do governo”, explicou.

CRISE POLÍTICA

Ferreira explica que o fator político não é necessariamente uma constante de impacto na série histórica. Ele começa a afetar mais fortemente nos últimos dois anos. Em 2015, quando a incerteza atingiu em setembro seu ponto mais alto na série, de 145,7 pontos, o país acabava de confirmar o quadro recessivo na economia, com o PIB tendo registrado sua quarta queda trimestral consecutiva. O mau desempenho acompanhava a prisão de José Dirceu, em setembro, os desdobramentos da operação Lava Jato e a crise da Petrobras. “É importante destacar que o índice busca identificar a incerteza na economia, mas a questão política tem impactado muito, o que é algo relativamente novo”, disse.

Um exemplo de crise política que não interferiu necessariamente na incerteza econômica foi no caso do mensalão, esquema de compra de votos no legislativo pelo governo do PT. Em junho de 2005, a Folha de S.Paulo revelou o esquema em entrevista com o deputado federal Roberto Jefferson, na época presidente nacional do PTB. Naquele mês, o índice de incerteza bateu 98,1 pontos e caiu nos quatro meses seguintes.

As commodities valorizadas permitiam que mesmo com a turbulência na política, as expectativas na economia se mantinham em bom patamar. Agosto de 2015 teve o maior índice de incerteza registrado pelo indicador criado pela FGV. O recorde anterior havia sido em 2008, com a deflagração da crise econômica mundial. Em outubro daquele ano, a queda do banco americano Lehman Brothers levou a incerteza para 135,6 pontos, alta de 35,6 pontos em relação a setembro (99,7 pontos). O agravamento da crise internacional não gerou aumento de incerteza no país, conforme mostra o índice, que esteve abaixo de 130 nos 12 meses seguintes. Em novembro de 2009, foi a patamar inferior a 100 pontos.

METODOLOGIA

O Ibre desenvolveu o índice com base em três indicadores. O IIE-Br-Mídia, no qual um computador busca nas notícias dos principais jornais brasileiros, em papel e na internet, por notícias com termos como “incerteza na economia”, “instabilidade” e “crise”. São lidos em média quatro milhões de artigos por mês. A partir desta identificação, faz-se uma proporção da quantidade de notícias com menção às incertezas em relação ao total de notícias publicadas. Esse indicador tem peso de 70% no índice. O segundo indicador é o IIE-Br-Expectativa, que verifica a variação das expectativas do mercado sobre inflação e câmbio coletadas pelo Boletim Focus, do Banco Central. Esse indicador tem peso de 20%.

O último é o IIE-Br-Mercado, que mede a volatilidade do mercado financeiro, com base no Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, que tem peso de 10%. “A ideia é que a produção de análises macroeconômicas tenham mais esse componente para ajudar nas estimativas. Nossa ideia é ter uma série para identificar em que pontos da história do país a incerteza na economia aumenta”, disse Ferreira. O Ibre divulgará mensalmente o indicador, sempre no dia 26 do mês de referência.