GABRIEL VASCONCELOS
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Embora receba um dos três Boulevards Olímpicos instalados pela prefeitura na cidade, o subúrbio de Madureira, na zona norte do Rio, não parece estar ligando muito para os Jogos Olímpicos.
Um público tímido assistiu à derrota da seleção brasileira de basquete para a Argentina (111 x 107), na tarde deste sábado (13).
O restante dos 103 mil metros quadrados do Parque Madureira, que abriga a atração olímpica, estava lotado, no entanto -como de praxe em finais de semana ensolarados.
Famílias inteiras faziam piquenique nos jardins e muitas crianças andavam de bicicleta e patins bem embaixo do telão, que mostrava o jogo de vôlei entre Estados Unidos e França (3 x 1).
A poucos passos dali, dos dois lados do palco, uma pequena multidão disputava as mesas dos quiosques que transmitiriam o jogo do Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro.
“É simples. Lá tá vazio porque o Mengão tá jogando”, brinca o secundarista Lucas Gomes, 19, que mora no bairro. “Brasileiro quer saber de futebol. Se é a seleção, fica lotado”, diz o jovem, que também atribui a baixa procura à uma programação de shows mais “fraca” que a dos boulevards do Centro e de Campo Grande.
Acompanhada dos amigos, a universitária Maria Júlia Torres, 20, concorda. Ela reclamou que nomes famosos da MPB, como Maria Rita e Mart’nália, estão todos concentrados no palco da Praça Mauá e também atribuiu a falta de público à pouca familiaridade.
“Na Copa, os Fifa Fans Fest da cidade inteira ficavam muito, muito cheios porque era futebol e também havia menos opções”, avalia a estudante de psicologia da UFRJ, que já foi assistir ao boxe e ao tênis de mesa.
“Tem enchido mais à noite, quando o pagode começa. Essa Olimpíada fica pro turista, porque o carioca gosta é de show e cerveja”, opina o empresário Leonardo Nunes, 30, também morador do bairro.
Ele contou que não estava no clima dos Jogos, mas tem sido impossível escapar ao assunto. “Vou tentar assistir a alguma competição porque os amigos só falam disso no Whatsapp”, explica, questionando como comprar um ingresso.
Para Demóstenes dos Anjos, 77, o problema é crônico. “Olimpíada aqui tá em baixa. O brasileiro é fanático, foi mal acostumado pelo futebol e quer ganhar sempre. Se podemos perder, ninguém quer saber”, explica o engenheiro aposentado, que tomava uma cerveja com a filha.
Definitivamente, não era o caso do casal Vanderson Gomes, 35, e Isabel Feliciano, 29, um dos poucos vestidos de Brasil de ponta à cabeça.
“Ficamos animados com as meninas [do futebol] ontem e decidimos vir pra cá acompanhar o basquete”, conta Isabel, que só foi assistir ao ciclismo de estrada. A modalidade oferecia pontos aberto para o público acompanhar.
“Aqui chega pouco turista porque eles preferem a zona sul. E aqui todo mundo trabalha durante a semana. Não tem condições de lotar tarde da noite, quando passa muito jogo bom”, argumenta Vanderson, que mora em Irajá, bairro vizinho.
“Mesmo assim, trazer pra cá alguma coisa que antes só acontecia no centro, é uma ótima iniciativa”, elogia o operador de empilhadeira, que se diz frequentador assíduo do parque.
Na noite deste sábado, no Boulevard Olímpico de Madureira, ainda aconteceu a eliminatória da competição Passinho de Ouro e o encontro entre as baterias da Portela e do bloco de Rua Cordão do Bola Preta.