Brasília – A organização Hutukara Associação Yanomami (HAY) acusa parlamentares da Comissão Especial de Mineração em Terra Indígena, da Câmara dos Deputados, de tentar persuadir os índios a aceitar a exploração mineral nas áreas de reserva.

Os parlamentares teriam defendido a causa durante visita, no último dia 14, às aldeia Xirimihwiki e Auari, em Roraima. A comitiva chegou sem que os índios fossem avisados. De acordo com a entidade que defende os Yanomami, só foi permitida a presença da associação depois de muita insistência.

O principal argumento dos defensores da regularização da exploração de minério em terras indígenas é de que os moradores das reservas passariam a receber um percentual do que fosse retirado da terra.

Segundo o presidente da Comissão de Mineração em Terra Indígena, deputado Édio Lopes (PMDB/RR), existem experiências bem-sucedidas em reservas do estado do Amazonas. Os índios cobram uma taxa dos caminhões carregados de minério que passam pelas terras demarcadas e chegam a lucrar R$ 120 mil por mês.

O deputado argumenta que a exploração em áreas de reserva está prevista na Constituição e que a intenção dos parlamentares é regulamentar essa atividade para beneficiar a economia do país e os indígenas.

Édio Lopes atribui a resistência dos povos indígenas em aceitar a exploração nas áreas de reserva à influência de organizações não-governamentais (ONGs). “Quase todas as ONGs tentam confundir o garimpo com a mineração. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. São processos distintos. Processos que no Brasil mesmo temos a diferença dos resultados de um e de outro”, afirma.

O secretário do Conselho Distrital de Saúde dos Yanomami e dos Ye’kuana, Raul Yacashi Rocha, que acompanhou a comitiva de parlamentares, diz que os indígenas estão mais preocupados com outras questões, como a preservação da cultura e da floresta, além da chegada de doenças. “Nós estamos pensando na preservação ambiental e de nossos costumes. Eles devem também abrir estradas e isso deve nos prejudicar. Tem também a questão das doenças trazidas pelos brancos, revela.

O forte sentimento dos Yanomami contra a exploração mineral é resultado da maciça invasão garimpeira entre maio de 1986 e setembro de 1988. Segundo a HAY, eram cerca de 30 a 40 mil exploradores. Hoje, são pouco mais de mil. Com a chegada de doenças e a introdução de armas de fogo, morreram centenas de índios.