Depois de passar os mandatos anteriores como vereador de oposição, o petista Pedro Paulo foi alçado, no início do ano, a líder do prefeito Gustavo Fruet (PDT) na Câmara Municipal de Curitiba. E como tal, já teve que enfrentar de quem está do lado de dentro do balcão, passando de pedra a vidraça. Foi assim na discussão das dívidas herdadas da gestão anterior, do ex-prefeito Luciano Ducci (PSB), e mais recentemente na polêmica envolvendo a tarifa de ônibus da Capital, que se desdobrou na série de manifestações que deixaram políticos e governantes de todo o País perplexos diante da revolta popular. Que na avaliação dele, independente dos resultados, conseguiram derrubar alguns mitos, como o da internet como um território da banalidade, e do brasileiro como alguém desinteressado no debate político.

Apesar de admitir que a crise atinge a todos, da presidente ao prefeito, Pedro Paulo considera que no caso do Paraná, o governador Beto Richa (PSDB) seria o maior prejudicado, pois que segundo ele, a administração do tucano já vinha sofrendo com uma sensação de paralisia, agravada pelas dificuldades financeiras do Estado. E quem não entender o recado das ruas, avalia o petista em entrevista ao Bem Paraná, pagará um alto preço nas urnas no ano que vem.

Bem Paraná – O senhor assumiu a liderança do prefeito no início do ano. Qual a avaliação faz desse primeiro semestre no cargo?

Pedro Paulo – Avalio como um período de muito trabalho. Tivemos algumas surpresas em relação à situação financeira da prefeitura, a análise dessa situação, que exigiu alguns procedimentos que a gente conseguiu agilizar no sentido de aprovar créditos suplementares. A herança foi pesada demais. Além disso, o regimento interno da Câmara às vezes não favorece a agilidade das ações. Mesmo assim conseguimos aprová-las.

BP – Qual é hoje o tamanho da base de apoio do prefeito?

Pedro Paulo – Continuamos com um amplo apoio dos vereadores. É claro que a dinâmica hoje é diferente daquela que ocorria antes, quando muitas vezes os vereadores eram ‘enquadrados’ para votarem os projetos sem maiores discussões. Hoje o processo é outro, é preciso informações, o enfrentamento do diálogo. A base segue essa diretriz. Temos um outro tempo na Câmara, de mais debate franco e transparência. A bancada do PSC, que é a maior da Casa, tem acompanhado a base na maioria das votações. E mesmo o PSB, partido do ex-prefeito (Luciano Ducci), também tem votado junto, mesmo que levantando algumas questões. Não temos nada que aponte para uma oposição sistemática.

BP – Passado o período mais crítico das manifestações populares, como o senhor avalia tudo o que aconteceu?

Pedro Paulo – Acho que as manifestações são um sintoma da vitalidade da democracia brasileira. Elas ajudaram a derrubar alguns mitos. Eu mesmo via inicialmente como positiva a universalização da internet, mas depois me decepcionei porque a gente via tanta bobagem. As manifestações mostraram que de fato as redes sociais trazem mais informações e favorecem a participação. Também caiu o mito de que o brasileiro aceita tudo. O brasileiro reconhece os avanços do País, mas ele quer mais. Quer melhoria dos serviços públicos. Mesmo que a gente condene aqueles que se aproveitam dos protestos para vandalismo, violência, isso não contamina a legitimidade das manifestações. Isso tudo traz também como consequência a possibilidade de uma participação sistemática da população nas decisões do Executivo e do Legislativo, na discussão do orçamento, que algo que a gente sempre defendeu.

BP – Mesmo após tudo o que aconteceu temos agora uma série de denúncias de políticos que usaram aviões oficiais para assistirem à final da Copa das Confederações. Alguns políticos ainda não entenderam o recado das ruas?

Pedro Paulo – Acho que alguns podem não ter entendido, e provavelmente vão pagar um preço alto por isso nas urnas.


Copa do Mundo

 

Vejo sinal de deficiência dos órgãos de controle

Bem Paraná – Um dos principais alvos das manifestações foram os gastos com a Copa. Em Curitiba, como em outras sedes do evento, muitas, se não a maioria das obras de infraestrutura previstas estão atrasadas.

Pedro Paulo – Eu acho que esse debate foi muito truncado. Continuo acreditando que esses eventos são positivos para o Brasil. Se há desconfiança de que os recursos foram mal utilizados, eu vejo como um sinal de deficiência nos órgãos de controle. Além disso, há várias causas para esses problemas nas obras. Tem falta de competência dos que fizeram os projetos e contrataram as obras. Mas tem também outro problema que são as amarras burocráticas da nossa legislação, que muitas vezes dificultam a execução dos projetos, o que eu acho que tem que ser revisto. Em Curitiba, por exemplo, nós tivemos o problema das obras da Linha Verde Sul, que o prefeito já encontrou paralisadas. Curiosamente, a obra andou até a eleição. Paralisou porque o prefeito anterior decidiu mudar algumas coisas no projeto, e aí a Caixa Econômica reteve os recursos por conta dessas mudanças. A empreiteira, alegando que não havia recebido, parou a obra. E no início do ano, a nova gestão teve que começar tudo de novo, fazer nova licitação. E provavelmente o orçamento será outro. É um problema nacional, em todas as cidades nós temos atrasos. Talvez o Regime Diferenciado de Contratação (RDC) do governo federal possa ajudar a resolver isso. Mas é preciso considerar que o governo federal, quando aprova um projeto e libera o recurso, quem controla a execução é o Estado ou o município.

BP – As pesquisas realizadas após os protestos apontaram uma queda acentuada da popularidade e das intenções de voto da presidente Dilma. O senhor acha que isso ameaça a reeleição da presidente?

Pedro Paulo – Acho que não. Isso é parte de um desgaste, talvez até por uma deficiência na comunicação. Mas isso se refletiu em todos os gestores, prefeitos, governadores. Acho que a presidente, em função de tudo o que ela tem mostrado, dos resultados do governo, têm condições de recuperar sua popularidade.

BP – Em relação ao cenário das eleições para o governo do Estado no ano que vem, como o senhor acha que essa crise vai se refletir?

Pedro Paulo – Antes mesmo das manifestações a gente já ouvia que havia um sentimento de paralisia no governo Beto Richa. Questões como a da segurança, por exemplo, que ele (o governador) bateu muito forte no governo Requião, dizendo que havia déficit de contratação de policiais, investimentos. Criaram a UPS (Unidade Paraná Seguro), que a gente vê muito mais como uma medida de imagem do que uma política efetiva de segurança. Para não falar na questão financeira, evidenciada pela tentativa de criação de um caixa único do governo. Acho que as manifestações acabaram aprofundando essa situação difícil do governador, e o quadro não é nada favorável para a reeleição.


Crise

 

Há desgaste geral de todos os que ocupam cargos

Bem Paraná – Aliados do governador Beto Richa dizem ter pesquisas que apontam que as intenções de voto da ministra Gleisi para o governo teriam sido seriamente afetadas, até pela proximidade dela com a presidente. Isso preocupa o PT?

Pedro Paulo – As pesquisas apontam para um desgaste geral de todos aqueles que ocupam cargos em todos os níveis e não seria diferente com a Gleisi. Mas é preciso esperar um pouco para medir. Na minha visão o foco já era desfavorável ao governador e isso deve se acentuar, beneficiando a oposição.

BP – Há quem diga que o PT seria mais afetado porque o partido surgiu com o discurso de ser diferente dos outros partidos e acabou se rendendo ao pragmatismo da política.

Pedro Paulo – Acho que isso que aconteceu traz a oportunidade de uma reflexão importante sobre o papel do PT hoje, depois de dez anos de governo Lula, Dilma. No sentido de que o partido reorganize suas instâncias de decisão, em que pese que nós já temos nossos dirigentes eleitos pelo voto direto dos filiados, o que é um diferencial.

BP – No caso do prefeito Gustavo Fruet, até que ponto o senhor acha que isso que aconteceu afetou a avaliação da administração municipal?

Pedro Paulo – Acho que afetou. Mas nesse processo, em um primeiro momento, o prefeito teve um vitória, que foi a questão do subsídio. Evitou que o reajuste da tarifa fosse realmente absurdo, para R$ 3,10 como queriam os empresários. Foi um bom combate com o governador pela manutenção do subsídio. Mas foi um tema que retornou com as manifestações, afinal era um problema não resolvido, não pela vontade do prefeito, tanto que foi feita uma auditoria, agora temos a CPI (do transporte) na Câmara. Temos condições de discutir uma política de mobilidade que privilegie realmente o transporte coletivo.


2012

 

Eleição foi negação dos que se perpetuaram

Bem Paraná – Existem rumores de que o prefeito estaria planejando mudanças em sua equipe, inclusive na liderança do governo na Câmara.

Pedro Paulo – Eu leio muito pouco os blogs. Eles ficam matutando o dia todo na fabricação de notícias. O prefeito me disse que está satisfeito com a equipe, que assumiu em um momento difícil. A eleição foi uma negação dos que se perpetuaram no poder por 25 anos. E nesse primeiro momento tivemos que enfrentar o grande desafio que era a questão financeira. Acredito que no segundo semestre o prefeito conseguirá imprimir de forma mais clara sua forma de governador. Vamos aprovar um orçamento para o ano que vem já com a cara dessa administração. Essas notícias (de mudança de secretários) muitas vezes são criadas por interesses que não são baseados na realidade.

BP – Os críticos do prefeito apontam demora na tomada de decisões importantes.

Pedro Paulo – O prefeito tem um estilo, ele é tranquilo. Consulta as pessoas. Não toma medidas impensadas. Exige tempo para o diálogo. Sem passes de mágica.

BP – A prefeitura concluiu a auditoria na planilha de custos da tarifa. O que acontece agora. Quando essas avaliações surtirão efeito no sentido de redução de tarifa ou melhoria do serviço?

Pedro Paulo – O relatório da comissão apresentado esta semana já aponta caminhos que serão analisados pelo prefeito. A Urbs já instalou auditorias que ainda não foram finalizadas. A CPI também vai fazer um levantamento. Acho que ao final de todo esse processo vai ser possível algumas decisões, mas o fundamental é que já temos transparência total. O prefeito abriu todas as informações sobre a tarifa, a planilha de custos, a licitação. Não existe mais informação sigilosa. A busca é que tenhamos uma tarifa adequada, justa, um serviço de qualidade, mas também a definição de fontes de financiamento. O prefeito também propôs uma alternativa que tem a ver com o vale-transporte. E embora tenha vários problemas o sistema de transporte de Curitiba não pode perder conquistas como a da integração.


Caso Derosso

 

Câmara deu resposta, mesmo que incompleta

Bem Paraná – A Câmara Municipal viveu uma das maiores crises de sua história na Legislatura passada. E muitos vereadores apontados como tendo envolvimento nas irregularidades da gestão anterior seguem no cargo. Isso não leva a um sentimento de impunidade?

Pedro Paulo – A Câmara, como instituição, de uma resposta. Pode até não ter sido completa, mas mesmo na Legislatura passada, com todos os problemas, tivemos uma CPI que produziu um relatório, encaminhado ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público. Fomos para a eleição e 50% dos vereadores se reelegeu. Em relação aos envolvidos eu acredito na ação dos órgãos de controle. Além disso é preciso separar bem aqueles apontados como envolvidos, a responsabilidade efetiva de cada um. Tem que se chegar ao final naqueles que tiveram responsabilidade nos contratos de publicidade. O fundamental é que eu acredito que isso é uma página virada na Câmara, pois não há mais espaço para contratos fraudulentos.

BP – A oposição também acusa o prefeito de estar desmontando o programa Mãe Curitibana, que atende gestantes. O que realmente mudou nessa área?

Pedro Paulo – É justamente o contrário. A intenção é melhorar a atenção básica, que foi relegada ao segundo plano nas gestões anteriores. Se você não tem na unidade básica, o profissional, o especialista, não funciona. Estamos buscando o reforço e a melhoria da atenção básica para tirar o peso do sistema de urgência e emergência. Porque hoje quando o cidadão precisa de atendimento corriqueiro ele acaba indo para a urgência por não encontrar esse atendimento, o que sobrecarrega o sistema. É isso que estamos tentando mudar.

BP – O senhor é candidato às eleições de 2014?

Pedro Paulo – Estou sendo incentivado. Já fui candidato a deputado estadual em 2010. Estou refletindo. Muita água vai passar por debaixo dessa ponte ainda.