Eu poderia escrever o histórico do jogador, que fez uma boa carreira em clubes como Atlético Mineiro, Internacional, revelado no Botafogo de Ribeirão Preto, a terra onde nasceu.
Ou aquele Dionísio que chegou em Curitiba em 1978 e por aqui ficou, depois de ter jogado no Atlético, Coritiba e Pinheiros, ou ter orientado o início da carreira de alguns jogadores que fizeram também sua bela carreira revelados no Paraná Clube, onde foi treinador.
Eu poderia falar de sua história de comentarista, na Banda B, Gazeta do Povo, Band, Rede Massa, quando trabalhou comentando o futebol, esporte que não era apenas a profissão do ex-lateral, mas uma paixão de vida, que movia o dia a dia deste Sangue Bom.
Mas, eu prefiro contar uma coisa para você, que me lê e acompanha. O fã de música brasileira e de Jorge Benjor, era um cara que estampava sua personalidade em tudo o que fazia. Não foi à toa o apelido Sangue Bom ter acompanhado o Dionga em sua trajetória.

Trabalhamos juntos durante mais de dois anos, de segunda a sábado. Com pessoas como ele é fácil se apegar. Dionga era o tipo de pessoa que está em extinção nos dias atuais. Ele chegava com seu sorriso (ele dizia que era sua grimalheira, cartão de visitas), dando bom dia para o porteiro, para a recepcionista, o diretor, presidente da empresa sem diferenciar a patente e importância de quem quer que fosse. Entrava nos estúdios com uma pequena história para o operador modular e regular seu microfone, pegava no pé do câmera com bom humor e nunca vi um companheiro de trabalho ficar irritado com as brincadeiras do Sangue Bom.
Defendia suas idéias com entusiasmo. Em discussões mais quentes, dava pra ouvir a voz do Dionga pelos corredores. No debate quente, o telespectador tinha a impressão de uma verdadeira bagunça engraçada. Acabava o programa de sábado, Dionga, eu e o Capitão Hidalgo saíamos da Rede Massa direto para o Parque Barigui, quando uma feijoada se transformava em uma aula de história do futebol e o grande privilegiado era eu. E foram várias feijoadas.

No programa, são várias passagens. Os jogadores da Copa do Mundo de 2010 reclamaram da bola Jabulani. Dionga, direto da África, soltou essa: Para o mau beijador, até a boca atrapalha. Quando estreávamos camisa nova no programa, ele dizia: Esta camisa veio no colo do piloto da American Air Lines. Quando um jogador foi negociado e ainda não era confirmado pelo clube, a gente não podia afirmar sua saída, mas tínhamos a informação de que ele iria para os Emirados Árabes. Dionísio falou: Esse aí deve estar comprando uma passagem de avião… Fly Emirates, meu filho… Fly Emirates. O jogador reclamava de um calendário de jogos de quarta e domingo como sendo cansativo. A sonora terminava e ele soltou o seguinte comentário: Meu amigo, cansativo é acordar às 5 da matina e virar cimento até as 6 da tarde, jogar bola é até moleza. Vai levantar uma parede por dois dias e quero ver você reclamar de novo, meu Sangue Bom. Para elogiar o jogador ele dizia que o jogador tinha um tapa diferenciado na bexiga. E quando era questionado sobre seus conhecimentos ele dizia simples assim: Eu inventei o Boomerangue. Era um cruzamento em que a bola fazia uma curva e pegava o atacante de frente pra bola. Colocava a bola na cuca do camisa nove, era só o cara escorar e sair pra galera.
Simplicidade, transparência, profissionalismo, sorriso, vibração e amor à profissão. Este era o Sangue Bom… esse era o Dionga.

Mauro Mueller é apresentador do Show de Bola da Rede Massa, radialista e ator