Se você gosta de chalés da Suíça, das cabras de montanha, dos strudels, a Eslovênia será um bom destino. Se ama a Itália, sua luminosidade solar, sua gastronomia ímpar, seus habitantes extrovertidos, a Eslovênia será um bom destino. Se você admira os Balcãs, sua complexidade, sua generosidade ( e até a altura das pernas de seu povo), a Eslovênia será um bom destino.

Independente desde 1991, a antiga república da Iugoslávia soube muito bem combinar as influências culturais latinas, germânicas, dos balcãs e da Hungria, para criar um identidade bem particular, única. Dos Alpes Julianos às margens do Adriático, a viagem pelas manhãs calmas e noites agitadas, por ser uma boa opção de férias, agora que muitos dos destinos turísticos tradicionais se transformaram em escolhas catastróficas.

Em 2016 celebra seus 25 anos de independência. Uma independência conseguida em menos de duas semanas de verão, depois de um pequeno conflito que fez 60 vítimas, entre as quais até alguns desconhecidos caminhoneiros búlgaros.

Emir Kusturica definiu a alma da Sérvia da capital Belgrado, dizendo: Para o Oriente, somos Ocidente; para o Ocidente, somos o Oriente. Uma definição que os turcos de Istambul, os istambulitas, também adotaram. E com razão, já que são únicos que têm os pés fincados, literalmente, entre a Ásia e a Europa.

Fotos: Dayse Regina Ferreira

Barco-bar, opção de passeio no rio

A Eslovênia, sem tradições mais firmes como a vizinha Croácia, integrada ao Império dos Habsburgos e depois ao da Iugoslávia real e a comunista no século XX, manteve tradições ao mesmo tempo germânicas, latinas e eslavas, como uma nação não histórica, conforme termologia de Marx e Engels.

É um país minimalista, unindo debaixo de uma mesma bandeira habitantes tão diferentes quanto os pescadores do golfo de Trieste, que vivem em locais de arquitetura veneziana; os vinhateiros das margens do Drave, que dividem com açougueiros e barqueiros das cercanias de Maribor, a certeza da existência de sereias, uma crença germânica.

E há ainda os franciscanos do convento de Kostanyevica, em Nova Gorica, que velam, há 2 séculos, o repouso eterno de Carlos V. E os residentes das cidades termais, que passeiam aos pés das montanhas sempre com picos nevados, curtindo as belas mansões que devem ter inspirado o Grande Hotel Budapeste de Wes Anderson.

Também não faltam os camponeses de Prekmurje, em cujas fazendas com tetos de colmo, as cegonhas fazem ninho, o dialeto é incompreensível e a cozinha é baseada em goulash, marcando a origem magiar. E os guardas dos castelos da Renascença da Carniole branca, mantém a atitude e o olhar igual aos personagens das gravuras e quadros da época de Marie Thérèse.


Sapatos pendurados no fio de luz, bom humor eslovaco

A porta de entrada da Eslovênia tem muitas opções: Áustria, Itália, Hungria e Croacia. E é Ljublyana, Lubliana, que antes tinha o nome de Laibach, a capital. A resposta para esse cadinho de culturas e costumes à beira do Adriático, está na praça Tartini, em Piran, na fachada de estilo gótico decorada com um leão tendo entre as patas uma bandeirola com a inscrição Lassa pur dire (Deixa falar).

Lema que os eslovacos adotaram e que hoje ninguém mais contesta, sobre a existência de uma identidade peculiar no pequeno país. Nós é que estamos mal informados, sempre confundindo Eslovênia e Eslováquia, esquecendo que também existe ainda a Eslavonia…


Todos os estilos, todas as culturas, na capital do pequeno e belo país

SUÍÇA DA EUROPA CENTRAL
Com 280 mil habitantes, a capital concentrando história, clima, arquitetura, geografia, é a essência de um povo que conserva metade de seu território reservado para florestas povoadas de ursos, lobos, veados e outros animais selvagens. Fazendo da região um destino preferido por caçadores de todo o continente europeu.

Quem faz caçada apenas de arte e cultura, vai descobrir que visitando Lubliana, estará visitando a Eslováquia toda, conhecendo seu humor, sua beleza, apreciando suas riquezas. Um rio verde esmeralda atravessa a cidade, proporcionando muitas opções ao turista: jardins nas margens, para caminhar dia e noite; diferentes pontes, mais ou menos antigas, mais ou menos longas, mais ou menos trabalhadas, para curtir a qualquer hora.

E há ainda a fachada dos prédios em Ljubljanica, a parte antiga, com seus tesouros em um cotovelo nostálgico, antes de se jogar no rio Save, nordeste da cidade. Os velhos eslovacos da capital sempre lembram que em 1941 o antigo prefeito, com 90 anos, se jogou nas águas para morrer envolto na bandeira da Iugoslávia real, depois da anexação de Lubliana pela Itália fascista.


No velho chão de pedra, máscaras de bronze lembram mártires de guerras recentes

INFLUÊNCIAS DO PASSADO
Como na maioria das cidades da Europa que tiveram contato com o Império Otomano, a capital foi construída junto de uma montanha. Se normalmente a proximidade de um colina com um castelo no alto costuma pesar no temperamento de seus habitantes como uma sombra, a realidade de Lubliana é diferente. Um dos motivos é que o castelo é mais uma grande residência senhorial dos balcãs , do que o Hradcany de Kafka, em Praga.

O castelo, depois de ter sido usado como arsenal e hospital militar, foi renovado para sediar um restaurante, recebendo manifestações culturais e um Time Tour, onde guias e personagens com costumes de época, revelam a história agitada local.


Mármore de Carrara na fonte do centro antigo

MARCAS IMPORTANTES
Nas portas, escadarias, pontes, sempre surgem dragões. Muitos dragões. Eles estão em muitos prédios institucionais, nas igrejas (sempre derrotados por São Jorge, claro) ou até em formas mais modernas, como grafites, murais, pequenos desenhos discretos. Aparecem até em doces, biscoitos e velas. E são destaque na bandeira da cidade.

Não dá para não ver o dragão na ponte Art Nouveau, que tem 4 desses criativos alados e dão nome à ponte: Ponte dos Dragões. Segunda a lenda, a cidade foi fundada por Jason que, depois roubar o Tosão de Ouro, subiu o Danúbio e o rio Save, até onde habitava o dragão, que ele matou. Curiosamente o monstro alado acabou sendo símbolo e emblema da cidade construída nas proximidades da caverna.

Ninguém ainda decifrou qual a influência do dragão na personalidade do povo local. Se existe é positiva, já que a cidade é segura, vivaz, elegante, animada e festiva. Para o visitante, a vida não é ainda muito cara, o clima é suave e a culinária é eclética. São risotos, gnochis, pizas (Itália), salsichas, sobremesas cheias de nata, creme e massa folhada, carnes empanadas e fritas (Áustria), ensopados camponeses, legumes em vinagre, legumes recheados, porco defumado (Hungria) ou sopa de repolho, grelhados e folhas de uva com recheio, salsichas com páprica (Balcãs).

Por outro lado, os chefs da cidade inventaram uma gastronomia regional, que mistura todas as influências, o que é sempre uma boa descoberta para os turistas. Com a proibição da circulação de carros na cidade,- com exceção para minúsculos carros elétricos -, o centro da capital eslovaca é o paraíso perfeito para quem gosta de pisar em velhas calçadas de pedras, admirar construções antigas e visitar igrejas com calma.


O lendário dragão alado está presente nas pontes, casas, souvenirs e até na bandeira da cidade

É também o lugar perfeito para apreciar a vida, bebendo uma cerveja no bar da moda, comer em restaurantes conceituais e visitar galerias de arte moderna e contemporânea. Circulando em poucos metros quadrados, dá para ver a monumental porta esculpida da catedral barroca de São Nicolau e o ouro de seu altar ladeado por anjinhos e querubins; ver a primeira paróquia jesuíta do lugar (St. Jacques); tirar foto junto da fonte do século XVII, feita de mármore de Carrara.

Examinar os detalhes da série de casas estilo rococó; visitar o palácio Gruber, sede dos Arquivos Nacionais e admirar a tripla ponte de Joze Placnik, do século XIX, além de uma coluna de Napoleão ( a cidade foi capital provisória das Províncias Illyriennes). Passear pela rua Miklosie e os prédios Secessão, com suas cores que lembram imensos doces austríacos, tudo faz parte do roteiro dos turistas.

Para os amantes de arte, o espetacular museu de Arte Contemporânea, instalado em uma antiga caserna. E para todos os gostos, os muitos bares com música Techno, Fashion TV e fashion girls, endereços plugados com nomes franceses como Cliché, Fétiche, Avant-Garde, Agent Provocateur. É bom saber que jardins de igrejas acolhem concertos de bandas e shows pouco católicos, como Metallica.


Mesas de bares e restaurantes na calçada da rua onde não passam carros, o bom momento para a cerveja local

ARREDORES
São muitos os destinos e descobertas: Alpes Juliennees, com o monte Triglav de 3 mil metros de altura; a Costa Adriática com cidadezinhas barrocas, verdadeiras jóias; Carintia e Baixa Estíria; lago Bled, distante uma hora da capital, tem um castelo e uma pequena ilha, a única do país, com sua igreja no centro.

VERÃO
Seguindo os passos da família real e de Tito, aproveitar a calma do verão para dormir em cabanas na floresta, uma possibilidade de silêncio e isolamento. Ou escolher belos hotéis nas margens do lago, aproveitando todos os benefícios das curas termais. Dá também para casar na igreja da Assunção, ao som dos sinos do século XVI, que dizem dar sorte.

No castelo está exposta a réplica da primeira impressora de Gutemberg na região, na qual foi impresso no século XVI o primeiro livro esloveno. Outra boa opção é conhecer a região vinícola de Maribor, que tem a videira mais antiga da Europa, plantada há quatrocentos anos.


Porcelana artesanal, o melhor souvenir da viagem

Em Novo Mesto a terra é de vinhos e águas. No meio de tudo corre o rio Krka, paraíso dos que gostam de andar de caiaques, de trutas, de pescadores , de romantismo, de florestas sombrias, de brumas inquietantes e um bocado de mistérios. Para os mais aventureiros, outros destino importante são as entradas úmidas da terra, que levam ao coração das grutas de Skocjam.

Com 200 metros de profundidade, surge o mundo rústico, milenar, feito de estalactites e estalagmites, despenhadeiros, pontes suspensas estilo Indiana Jones, cristais de cores incríveis, subterrâneos escuros com paredes alisadas pelo tempo e pelas infiltrações, rios turbulentos que terminam em cascatas, antes de se transformarem em tanques e mini lagos calmos.

Depois é só ler, ou reler, Viagem ao Centro da Terrae ficar feliz de ter estado lá, lembrando que a viagem de Jules Verne terminou nas bases do Stromboli. Nas proximidades ficam as estações balneárias eslovenas da costa do Adriático, todas lembrando a Itália: palácios barrocos cobertos de gesso rococó, afrescos e ferro trabalhado como em Veneza.


No fundo, no alto, o castelo que hoje abriga um restaurante e eventos culturais

Igrejas ladeadas pelo campanário, tendo no seu interior estátuas, pinturas, trabalhos dignos de seus semelhantes ao norte do golfo de Trieste. E pequenos barcos de pesca, veleiros, que se cruzam ao longo de antigas salinas, que foram a riqueza da região no passado.

E há ainda Piran, construída sobre um promontório triangular, cuja ponta lembra a proa de um navio. Com seus palácios, seus balcões, sua catedral, tudo intacto como no tempo das cidades dos Doges.

Para conhecer tanta beleza, há pacotes como os da Cosmos, cujo lema é Transformando Sonhos de Viagens em Realidade, com tarifas a partir de 1.400 dólares para uma viagem de descoberta das jóias da Eslovênia e da Croácia, visitando durante 8 dias Lubliana, Postoina Caves, Zadar, Split, Dubrovnik, Gargantas do Neretva, Mostar, Sarajevo, Parque Nacional Plitvice, Zagreb. Consulte seu agente de viagens ou a Exqape, que é agente geral no Brasil da Globus, Family of Brands. Veja em www. globus.tur.br ou www.exqape.com.br


Colorido na arquitetura é destaque

NÃO SEI SE VOCÊ LEMBRA
Quando a gente só capta pessimismo e desânimo, é sempre bom relembrar o passado. Kazantsakis, o grande poeta e escritor grego nascido em Creta ( 1885-1957) falava de um país pisado por mil pés invasores, desde os persas e romanos até os turcos – todos bárbaros assassinos da liberdade. Uma palavra inventada pela Grécia na mesma forja que cunhou seu sinônimo: Democracia.

Por que nossa raça rebaixou-se tanto?, perguntava Kazantsakis. A Grécia ficou imersa em um mundo de lava e fogo: duas guerras mundiais abateram-se contra o homem e o presente repete a catástrofe do passado. O país pilhado de seus tesouros.

Os soldados turcos dinamitando o Partenon; os soldados de Napoleão treinando tiro ao alvo nas estátuas esculpidas por Fídias; lorde Elgin roubando para o Museu Britânico os frisos mais perfeitos da Acrópole; o alemão Schlieman escavando da terra o rosto antigo e logo pilhado da Grécia clássica. Ladrões comercializando peças raras, de muitos milênios, para ávidos colecionadores e investidores internacionais. Será que tudo isso lembra alguma coisa bem próxima da gente? Nada mudou no noticiário de todos os dias: o homem continua o mesmo.