Todos os dias cerca de 10 paranaenses perdem a vida por conta de complicações relacionadas à uma doença invisível: o diabetes. Segundo informações do Datasus, do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2014 foram registradas 17.404 mortes que tiveram a doença como uma das causas. Somente no último ano com dados disponíveis foram 3.386 óbitos, o que representa um aumento de 38,9% na comparação com 2005, quando haviam sido registradas 2.438 mortes.

Os dados levam em consideração as mortes nas quais a obesidade aparece como uma das causas no atestado de óbito. De acordo com o endocrinologista João Salles, vice-presidente da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a alta no índice tem relação com hábitos prejudiciais à saúde e cada vez mais presentes em nossa sociedade.
Sem dúvida nenhuma o aumento do diabetes está ligado com o aumento da obesidade. Obesidade, sedentarismo, má alimentação, são fatores diretamente ligados. Esses pacientes acabam aumentando o risco principalmente da obesidade abdominal, que está ligada com a diminuilção da ação da insulina, explica o especialista. O fator de risco para a obesidade, além do fator genético, é a obesidade abdominal, e não o consumo de doces, ressalta.
Além da alta no número de pessoas com diabetes – hoje o Brasil é o terceiro país com maior número de pacientes, atrás apenas de China (1), EUA (2) e Índia (3) – e nos índices de morte em decorrência da doença, salta aos olhos a falta de informações e de tratamento adequado. Hoje, entre 12 a 13% da população brasileira tem diabetes, ou seja, 15 milhões de pessoas. Dessas 15 milhões de pessoas, metade não sabe que tem a doença, e a outra metade que sabe não faz o tratamento adequado (principalmente por conta de ter que medir a glicemia na ponta do dedo).
Os motivos disso, segundo João Salles, sãoi dois: Primeiro, o diabetes é uma doença invisível, silenciosa, e as pessoas não vão ao médico fazer check-up, verificar a glicose. Então, como a doença não causa sintomas no início, metade (dos pacientes) não sabem que tem (diabetes), afirma.
O outro motivo é a falta de cuidado, de consciência sobre a própria condição por parte dos pacientes. Quando descobre a doença, a pessoa fica assustada e faz o tratamento adequado. Mas depois ela percebe que se não faz o tratamento por um, dois dias, nada acontece com ela. E de fato a diabetes é uma doença silenciosa. Cerca de 60% dos pacientes que começam o tratamento depois de um ano param o tratamento, abandonam, explica.
O problema, porém, é que a doença, embora não tenha cura, pode ser controlada, o que só é possível fazendo-se o tratamento adequado. Do contrário, a pessoa com diabetes pode acabar se expondo a riscos. O diabetes é a única doença não infecciosa epidêmica, sendo que no Brasil cerca de 5 milhões dos diabéticos sofrem de complicações importantes (cegueira, amputações, paralisação do rim, etc).
Se a pessoa fica muito tempo com glicemia alta, tem mais chance de ter as complifcações relacionadas ao diabetes, principalmente o risco aumentado de infarto e derrame (AVC), complicações na retina — o diabetes é hoje a maior causa de cegueira —, doenças relacionadas à diminuição da função dos nervos, lista o endocrinologista. A maior causa de amputação não traumática, sem acidente, é o diabetes. A cada 20 segundos uma pessoa é amputada. Outra complicação são os problemas renais. Junto com a hipertensão arterial, favorece que o paciente tenha que depender da máquina para fazer a função do rim (hemodiálise), finaliza.


Alerta aos grupos de risco

Diante do fato de metade dos pacientes com diabetes sequer saberem que possuem a doença, o endocrinologista João Salles ressalta a necessidade de aqueles que se encontram no grupo de risco se manterem em alerta de forma a evitar complicações mais graves no futuro.
Os pacientes com risco de diabetes são aqueles que tem pressão alta, cinturinha, colesterol bom. Quando o paciente com essas características ten mais de 40 anos e cintura abdominal, está com risco de ter diabetes. Mas como a doença não causa sintomas no início, metade não sabe que tem. Então é importante alertar que a poopulação que teme esses fatores deve tomar cuidado, ter o controle metabólico e buscar atendimento médico, alerta o especialista.