Todos os anos, mais de 28 mil bebês nascem com problemas cardíacos no Brasil. Essas doenças, conhecidas como cardiopatias congênitas, são fruto de uma mal formação anatômica do coração, ainda durante a formação do feto no útero da mãe. Em pelo menos 80% dos casos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, os bebês acabam precisando de uma cirurgia para corrigir esses problemas.

No Paraná, o Hospital Pequeno Príncipe é quem realiza 95% desses procedimentos, sendo ainda a instituição cujo Serviço de Cardiologia realiza o maior número de atendimentos ambulatoriais no país e o segundo em número de cirurgias.
Em 2016, por exemplo, foram 524 cirurgias, sendo 239 em pacientes com menos de 1 ano de idade e outros 68 com pacientes com até 29 dias. Além disso, o Serviço de Cardiologia realizou no ano passado um transnplante de coração, 8.883 atendimentos ambulatoriais, 986 internações, 434 cateterismos, 3.675 exames e 70 estudos eletrofisiológicos. Em mais de quatro décadas de atividades, já transformou mais de 15 mil vidas.
De acordo com a cardiologista Danielle Gravlak de Jesus, o diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento do problema. Por isso, foi criado o Dia da Conscientização da Cardiopatia Congênita, celebrado anteontem. A data é uma forma de alertar sobre a importância do pré-natal e outros exames, como o ecocardiograma fetal, feito durante a gestação, e o Teste do Coraçãozinho, realizado ainda na maternidade, entre 24 e 48 horas após o nascimento, que ajudam na detecção de doenças assim.
Quando o problema é detectado, muitos dos bebês passam por procedimento cirúrgico, no qual o cirurgião tenta recuperar a anatomia (do coração) mais próxima do normal possível. Na grande maioria dos casos o paciente tem uma vida normal no futuro, explica a especialista, destacando ainda os riscos de a doença ser detectada tardiamente. Com o crescimento do coração, as lesões podem se intensificar e também crescer, que é quando vem os sintomas.
Atualmente, as doenças congênitas são a segunda causa de mortalidade entre crianças, e de todas as anomalias desse tipo, 50% delas são cardiopatias congênitas, que em 90% dos casos não têm causas conhecidas. Mas mães com diabetes gestacional, com descontrole da doença durante a gestação, a consanguinidade e doenças crônicas maternas, hipertensivas ou reumáticas, causam mais mal formação do músculo cardíaco, aponta Danielle Gravlak.

Sintomas de que algo está errado

Alguns sinais e sintomas das cardiopatias congênitas podem ser observados após o nascimento e durante o desenvolvimento dos meninos e meninas. Em bebês, os mais comuns são pontas dos dedos e/ou língua roxa; transpiração e cansaço excessivos durante as mamadas; respiração acelerada, enquanto descansa; dificuldade em ganhar peso; e irritação frequente e choro sem consolo.
Já entre crianças, os mais frequentes são o cansaço excessivo durante a prática de atividades físicas e a dificuldade de acompanhar o ritmo de outros garotos e garotas; crescimento e ganho de peso de forma não adequada; infecções pulmonares repetitivas; lábios roxos e pele mais pálida quando brinca muito; coração com ritmo acelerado; e desmaio. Ao perceber os sinais e sintomas, é preciso consultar um pediatra para a avaliação correta e a indicação do tratamento mais adequado.

Depois de susto, mãe comemora vida de filho

Encarar a descoberta de que o seu filho possui uma cardiopatia, porém, é difícil. E foi isso o que aconteceu com Aline Maria Xavier, de 34 anos, mãe de Davi Xavier, que no último domingo completou seu primeiro mês de vida. Ela conta que descobriu que o filho recém-nascido possuía uma cardiopatia no segundo dia após o nascimento do bebê, quando as enfermeiras foram lhe dar um banho e repararam que ele estava meio azulado.
Foi quando levaram ele para fazer alguns exames e descobriram que era cardiopatia. Foi terrível para mim, pensei muita besteira. No terceiro dia, inclusive, alguns médicos chegaram a falar que ele não tinha mais chances (de viver). Me disseram isso era véspera de Dia das Mães, recorda a mãe. No no dia 17 de maio Davi passou por uma cirurgia, um procedimento de altíssima complexidade que levou 8 horas. Deu tudo certo e ele está se recuperando bem, muito bem. Se Deus quiser essa semana já vamos para casa, é só ele engordar mais um pouco, comemora a mãe.