A questão do suicídio nunca esteve em evidência como neste ano. Foi série do Netflix (13 Reasons Why), jogo polêmico que terminava em morte (Baleia Azul) e, na esteira disso tudo, uma série de notícias e debates nas redes sociais. Diferente do que muitos poderiam imaginar, o impacto diante de tamanha repercussão acabou sendo positivo, o que se evidencia na crescente busca por ajuda em Curitiba

De acordo com o Centro de Valorização da Vida (CVV), ao longo dos últimos meses o número de pessoas que entraram em contato em busca de apoio vem crescendo na Capital. Até o ano passado, eram cerca de 1,4 mil ao mês. Em junho, contudo, foram 2.643, enquanto em julho subiu para 2.703. E nas próximas semanas o telefone deverá tocar ainda mais vezes, com o início do Setembro Amarelo, que visa a prevenção ao suicídio.
Está crescendo (a busca por apoio). Nos meus plantões, inclusive, tenho percebido que tem aumentado bastante. Em função desses fatos (série de TV, jogo Baleia Azul) o tema foi mais esclarecido, está deixando de ser um tabu e aí mais pessoas procuram ajuda graças a essa abertura da fala, aponta Quintino D’Agostin, porta-voz do CVV, na qual atua como voluntário há 21 anos.
Ainda segndo o plantonista, recentemente a grande maioria dos pedidos de apoio tem vindo do público jovem. O serviço é sigiloso, não perguntamos idade nem nome, mas como começamos a atender via skype e e-mail, percebemos pela linguagem e até pela conversa que é um público mais jovem, explica.
Nos próximos dias, uma série de ações estão programadas para chamar a atenção ao problema. Ainda hoje, a cidade amanhecerá repleta de balões amarelos na Praça Santos Andrade, enquanto às 18h30, o Museu Metropolitano de Arte (Muma) promoverá um debate com participação do CVV e da Uniandrade e da Faculdade Dom Bosco. Já no dia 7 ocorrerá um desfile, com local a ser confirmado, no qual os participantes utilizarão camisa amarela.

Paraná registra dois suicídios por dia
O índice de suicídios está em alta no Paraná. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram 716 ocorrências no estado em 2015, último ano com dados disponíveis, recorde da série histórica iniciada em 1996. Além disso, entre 2011 e 2015, o índice de suicídios no Paraná cresceu 20,7%, enquanto no mesmo período a alta em todo o país foi de 13,5%.
De acordo com o psiquiatra Neury J. Bottega, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor do livro Crise Suicida, esse aumento pode ter relação com o conturbado momento que o país vive nos âmbitos político e econômico. Já a psicóloga Claudia Cristina Basso faz um paralelo entre o aumento no índice e as mudanças sociais ocorridas nos últimos anos.
(Esse aumento) É reflexo do desenvolvimento próprio da vida. Desenvolvimento da tecnologia, aceleração do mundo, mais famílias desestruturadas, dependentes químicos. Entre os adultos há muitos que passaram por experiência de abuso sexual, violência doméstica, aponta Claudia.

OMS
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, para cada suicídio cometido, podem ter ocorrido mais de 20 outras tentativas que não deram certo, além de muitas pessoas que consideraram fortemente a ideia de tirar a própria vida. Isso significa, então, que o Paraná registra uma média de 40 tentativas de suicídio por dia. A boa notícia é que nove em cada dez casos poderiam ser prevenidos.

Suicídios
Paraná
2015 716
2014 620
2013 655
2012 629
2011 593

Brasil
2015 11.178
2014 10.653
2013 10.533
2012 10.321
2011 9.852